13 de maio de 2024

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Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (80)

Vento avassalador na Maratona de Nova York

Com 50.564 concluintes, a 44ª edição da Maratona de Nova York, no seu primeiro ano com novo patrocinador, o Tata Consultancy Services, consegue pelo segundo ano consecutivo números estrondosos, que a ratificam cada vez mais como a maior da história.
Completar os 42.195 metros pelos cinco distritos da Big Apple nunca é tarefa fácil, nem para atletas de elite, nem para amadores, que encontram pela frente um percurso técnico, repleto de pontes, com muitas subidas e descidas. Como se não bastasse, o vento forte ¬- que chegou a 70 km/h¬ em alguns trechos ¬- dificultou ainda mais a vida dos participantes, tornando a edição mais difícil dos últimos 30 anos.
Com uma corrida lenta por causa do forte vento, a elite, como os rápidos quenianos Geoffrey Mutai e Wilson Kipsang, apostou logo de início numa prova tática. "Eu costumo ter uma ritmo rápido a partir da largada. Aqui, sem coelhos e com muito vento, tive que exercitar a paciência", disse logo após a chegada o campeão e ex-recordista mundial de maratona, Wilson Kipsang, que estreou com vitória em Nova York e de quebra impediu o tricampeonato de Mutai, que poderia ter se igualado ao grande Alberto Salazar, único na história da prova com três vitórias.
Com o triunfo em Nova York, Kipsang, que havia perdido o posto de atual recordista mundial em setembro, na Maratona de Berlim, para o compatriota Dennis Kimmeto, deixou Kimetto para trás na pontuação e levou o título da World Marathon Majors de 2013 e 2014, faturando 500 mil dólares.
Depois de uma disputa acirrada no final com o etíope Lelisa Desisa, Kipsang conseguiu abrir margem suficiente para a cruzar a linha de chegada com 2:10:59, 7 segundos à frente de Desisa. Na terceira colocação ficou o também etíope Gebre Gebremariam, campeão de Nova York em 2010, que terminou com 2:12:13. Mutai foi ultrapassado na milha final pelo norte-americano Meb Keflezighi, campeão de Nova York em 2009 e atual campeão de Boston, que ficou com a quarta posição.
No feminino, a queniana Mary Keitany, que em 2011 usou uma tática suicida em sua estreia em Nova York, passando a marca da meia-maratona para recorde mundial e perdendo a liderança e segunda colocação da prova ao final, finalmente conseguiu triunfar. A queniana não corria uma maratona desde os Jogos Olímpicos de Londres, quando foi quarta colocada. Keitany deu uma pausa na carreira pelo nascimento do seu segundo filho.
Apesar de figurar como a mais rápida, com 2:18:37, a queniana não teve tarefa fácil para garantir sua primeira vitória, cruzando a linha com 2:25:07, apenas 3 segundos à frente compatriota Jemima Sumgong, seguida da portuguesa Sara Moreira, que estreou na distância com a impressionante marca de 2:26:00. Outro resultado que chamou atenção foi o da norte-americana Deena Kastor, que, aos 41 anos, venceu a categoria master, fechando os 42 km em 11º lugar com o tempo de 2:33:18.

VENTO NA PONTE. O mesmo vento forte que determinou o ritmo lento dos atletas de elite também não facilitou em nada a vida dos amadores. E o que mais se ouvia ao final da prova era quão duras foram principalmente as duas milhas iniciais, em cima na Verrazano Narrow Bridge.
"O vento e frio este ano se mostraram poderosos. A travessia da Verrazano com vento lateral dava mostras de como seria difícil. Os casacos levados para descarte eram mantidos por praticamente todos os corredores", contou a campineira Vania Wong, que completou sua 18ª maratona e sua 3ª em Nova York. Apesar da dificuldade já logo de início, Vania lembra que o que torna NY a melhor de todas as maratonas também estava por vir. Afinal, são 1 milhão de espectadores alinhados ao longo de todo o trajeto, para apoiar os corredores do começo ao fim. "Nada se compara ao público dessa cidade. Músicos, cartazes, balas, lenços de papel, o sorriso dos voluntários funcionam como um anestésico. Você vai correndo, correndo e assim passam os 42 km."
O mineiro Francisley Costa, de João Monlevade, não encontrava palavras para descrever a emoção de correr na Big Apple. "Tudo o que envolve a maratona, como a organização, os voluntários, as pessoas que nos prestigiam nas ruas, o desafio do percurso, o clima, faz dessa prova a mais desejada e com certeza um evento inesquecível. Você vê uma cidade totalmente envolvida com a maratona, pessoas de todas as idades nos desejando força, aumentando nossa autoestima e nos dizendo que somos capazes de completar aqueles 42 km", lembra o corredor, que também destaca o vento na Verrazano como uma das dificuldades deste ano. Francisley, que sonhou por cinco anos até finalmente conseguir correr a maratona em Nova York, terminou em 4h04 e pretende voltar.
Quem também nutria por algum tempo o desejo de em um dia participar dos 42 km mais famosos e cobiçados do mundo era a paulista Vera Abruzzini, que teve seu sonho adiado em 2012, quando a prova foi cancelada por causa do grande temporal. "Fiquei frustrada durante semanas, mas corredores são como fênix. Ressurgem das cinzas e seguem em frente", diz Vera. Assim a maratonista não deixou para trás o sonho e, pelas regras da organização – em que os inscritos daquele ano poderiam escolher um dos três anos seguintes para se inscrever novamente -, dois anos depois voltou a Nova York para retomar o sonho adiado dois anos atrás. Vera terminou em 5h15.
"A prova é sem dúvida uma das melhores que fiz, tanto em organização como no meu tempo pessoal. No km 15, eu já tinha total certeza que faria essa prova novamente. A participação da população, mesmo com o frio e o vento, foi o que mais me tocou. Os voluntários são perfeitos, superanimados. Os postos de hidratação, a medalha, o poncho ao final. Tudo é perfeito!"
O baiano Miguel Dantas, de Itabuna, também tinha o desejo de correr aquela que é considerada a "Rainha das Maratonas" e sentir na pele o quão desafiante era o trajeto. "Sempre ouvi dizer que era uma prova difícil e linda. Como já conhecia a cidade, me senti mais estimulado pelo fato de ser uma prova técnica mesmo. E pude constatar que de fato é desafiadora", conta Miguel, que cruzou a linha de chegada em 3h40 e acumula agora 13 maratonas no currículo.
O baiano ressalta a vibração da torcida como o maior atrativo da prova e um diferencial que o corredor não verá em nenhuma outra. "A população abraça os corredores, transformando-se numa enorme torcida. O incentivo que dão por todo o percurso é sensacional. Os nova-iorquinos tem orgulho da sua maratona, e por isso a transformam em uma experiência única, exclusiva, diferente até mesmo de outras Majors."
Miguel diz ter sofrido com o vento forte, que foi uma dificuldade a mais. "A corrida foi bastante atípica. Os ventos fortes chegaram a 70 km/h, a temperatura era de 6ºC, com sensação térmica de 1ºC. O castigo era ainda maior nas pontes, onde os corredores eram arrastados de um lado para outro", conta o corredor, que foi ao chão por volta do km 27, quando se dirigia a um posto de hidratação. Ele teve as palmas e as costas das mãos, assim como joelhos esfolados. "Recebi apoio de dois voluntários, que insistiram para que eu interrompesse a prova e buscasse auxílio médico. Agradeci, mas meu coração de corredor não se importou com as escoriações. O restante da minha corrida foi de recuperação, baseada na pura e simples determinação de completar. Não existe melhor sensação."

INSCRIÇÃO GARANTIDA. Residente dos Estados Unidos, o brasileiro Roberto Shigueo, que vive em Boca Raton, na Flórida, viveu uma experiência única em Nova York. "Consegui pegar o último ano em que organização honrou a regra da participação compulsória por não entrar pela loteria após 3 tentativas consecutivas. Não tenho a opção de me inscrever através das agências de turismo internacionais", conta Shigueo, referindo-se ao sistema de inscrição das operadoras de turismo internacionais, com cotas vinculadas a pacotes de turismo.
Apesar da experiência em provas norte-americanas, o brasileiro, que terminou a maratona em 4h26, também sentiu na pele como a torcida em Nova York torna essa prova tão especial. "Por volta do km 5, quando entramos pela parte residencial do Brooklyn, pude sentir a participação ativa da população. Muita gente incentivando com música, aplausos, e gritando os nomes estampados nas camisetas personalizadas por alguns corredores", lembra Shigueo, que ressalta como pontos altos da prova o coral da igreja e a multidão que se espalha pela Primeira Avenida. Ele realça ainda a longa caminhada após o final, para receber a medalha e o poncho.
A carioca Laura Xavier escolheu a Maratona de Nova York para estrear nos 42 km. A ideia de correr a prova surgiu em janeiro, tempo suficiente para se dedicar firme aos treinamentos. "Eu nunca tinha corrido uma maratona, mas conhecia Nova York; já meu marido, Petterson, havia feito uma maratona, mas nunca tinha vindo a NY. Vimos então uma oportunidade perfeita para nos desafiarmos e transformar a prova no nosso objetivo do ano", explica Laura, que, como todos os que participam do evento pela primeira vez, se encantou com a organização, o envolvimento da cidade e da população e a ação dos voluntários.
"Senti-me única e especial durante a prova toda. Cada cartaz feito à mão, escrito com cuidado para os corredores, me emocionou. Lia o máximo que podia e tentava participar do momento. Chorei com alguns, dei risada com outros. E isso me mantinha ali, flutuando e sempre em frente. Não importava a minha velocidade, mas sim estar ali, participando daquele dia. Senti-me a pessoa mais poderosa e corajosa do mundo", comenta a corredora, que pode ver com os próprios olhos porque Nova York tem o menor índice de desistência entre todas as maratonas. "É impossível não terminar a prova; terminamos nos braços do povo."
A dificuldade do vento também foi ressaltada por Laura, principalmente quando a prova atingiu Manhattan, "em que cada cruzamento parecia que entrávamos numa centrífuga". A corredora destaca ainda a emoção da saída das pontes, em descida, quando o "silêncio", onde não há público, é aos poucos transformado no barulho ensurdecedor da torcida. "Aquilo me transformava, mudava o meu espírito e me fazia continuar. Não senti o fatídico km 30, onde todo mundo diz que há o tal do ‘muro'. Senti o cansaço, mas não encontrei esse ‘monstro'. Não deu tempo para pensar nele, estava feliz e emocionada demais para deixar alguma coisa me afetar. Quando estava na 5ª Avenida, chegando no Central Park, comecei a sofrer com a parte respiratória, uma sensação de aperto. Eu tinha energia, mas já não conseguia correr o tempo todo. Mas fiquei com a sensação de que estava devendo para aquele público, que eu precisa retribuir todo aquele carinho. E assim foi, caminhando e correndo até o final, chorando e rindo ao mesmo tempo. Foi indescritível", complementa Laura, que terminou sua primeira maratona com 5h06 e admite que ainda chora toda vez que pensa e lembra dessa experiência.

 

NÚMEROS
– 50.869 participantes e 50.564 concluintes (298 a mais do que em 2013).
– 30.144 homens e 20.420 mulheres.
– 4:34:45 foi a média de tempo final dos concluintes da maratona.
– 130 países representados; o Brasil marcou presença com 522 terminando.
– A marca de 1 milhão de concluintes da história de Nova York foi estabelecida na edição de 2014.
– A queniana Mary Keitany venceu a prova com o tempo de 2:25:07, exatamente a mesma marca da campeã do ano passado, a também queniana Priscah Jeptoo.
– As 4 primeiras mulheres que cruzaram a linha de chegada são mães.
– Por precaução, devido aos fortes ventos no dia da prova, a distância da categoria cadeirante foi ajustada para 23,2 milhas e a largada foi levada para depois da ponte Verrazano, já no Brooklyn.
– Durante a semana da prova, a página oficial da Maratona de Nova York atingiu a marca de 4,1 milhões de page views, sendo 2,6 milhões no domingo.

 

Festa de premiação das Majors adiada
Todos os anos é a Maratona de Nova York que fecha o circuito dos dois últimos anos de disputa da World Marathon Major. Mesmo com o título garantido por antecipação, a queniana Rita Jeptoo, bicampeã da Maratona de Chicago e tri em Boston, não pode levar para casa os 500 mil dólares de premiação. Duas semanas antes de vencer Chicago, Jeptoo testou positivo para uma substância proibida. Devido ao episódio, a cerimônia de premiação das Majors, que é sempre realizada em Nova York, foi postergada. No masculino, a vitória de Kipsang garantiu ao queniano o título do circuito.

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