8 de maio de 2024

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Há vida fora das Majors

POR ANDRÉ SAVAZONI | JUNHO 2013

Quer correr uma maratona no exterior que não sejam as 6 gigantes? Listamos 42 provas pelo mundo com boa organização, facilidade de inscrição e com a possibilidade de programar-se com 6 meses de antecedência ou bem menos.

A cada dia, tem mais gente querendo correr uma das Majors, o grupo das 6 maiores e mais famosas maratonas do mundo, que inclui Berlim, Chicago, Londres, Boston, Nova York e Tóquio, que entrou este ano na relação. E não são somente brasileiros, mas estrangeiros também vêm colocando essas provas como sonho de consumo.

Uma confirmação dessa “loucura” pode ser vista na velocidade com que as inscrições acabam e no desespero para fazê-las. Com exceção de Boston, por causa dos tempos de qualificação por idade, a presença nas outras 5 tem de ser “garantida” cada vez com mais antecedência e em menos tempo, ou obrigando os participantes a se inscrever via agências de turismo ou a entrar nas famosas loterias, como as de Nova York e Londres. Porém, há dezenas de provas de 42 km espalhadas por todos os cantos, com a mesma excelência em organização, mas com muitas facilidades, além de não apresentarem os congestionamentos das Majors.

Fizemos uma lista de 42 maratonas fora das Majors e das muito procuradas, como a da Disney, por exemplo. A maioria conta com os selos ouro, prata ou bronze da IAAF, a Federação Internacional de Atletismo. Para entrar nessa seleção, é preciso cumprir uma enorme série de exigências, que vão desde a organização, passando pela facilidade dos sites, até os índices para a definição da elite. As Majors são do grupo ouro.

Na nossa relação, no caso das maratonas já realizadas neste ano, colocamos no quadro as datas prováveis de 2014. Nas outras que ainda ocorrerão nesta temporada, em todas era possível se inscrever até a conclusão desta edição – testamos uma a uma por meio dos sites oficiais. Há maratonas, como a da Sibéria, no dia 22 de setembro, na Rússia, em que é possível se inscrever na Expo, com o pagamento de 60 euros. E outras, com a de Beijin, na China, no dia 13 de outubro, que ainda nem abriu o processo de inscrição.

A relação das eleitas levou em conta também a vida corrida e dividida entre família, trabalho e planejamento dos corredores brasileiros. As Majors, hoje, são provas muito procuradas pela elite por causa das altas premiações em dinheiro. E amadores seguem esse caminho sem lembrar que existe vida fora delas, com grandes e excelentes maratonas para se correr (e passear), que não se precisa ficar planejando com um ano de antecedência (e nesse período pode acontecer muita coisa que inviabiliza a viagem ou que a torna uma frustração – como não conseguir treinar para a prova e viajar só para assistir…). Assim, em relação às 42 provas citadas, você pode decidir correr em qualquer uma delas com seis meses de antecedência ou até menos.

BERLIM X FRANKFURT. Um exemplo claro da situação bastante distinta entre as Majors e as “outras” é das maratonas de Berlim e Frankfurt. As duas, na Alemanha, são planas, temperaturas frias/amenas, com selo ouro da IAAF, ótima hidratação, grandes marcas por trás (Adidas e Asics). Para correr em Berlim, foi preciso inscrever-se em 3h30, com quase um ano de antecedência, no final de 2012 – por isso, essa maratona é uma das com maior número de não comparecimentos da atualidade. Em contraste, Frankfurt ocorrerá no dia 27 de outubro neste ano, sendo possível garantir a participação até o dia 6 de outubro e no site oficial, sem intermédio de agências, além de ter voos diretos do Brasil, um ponto positivo a mais.

O leitor Marcel Pracidelle, de São Paulo, correu em Frankfurt em 2012 e enumera os atrativos. “O processo de inscrição é tranquilo, são aproximadamente 16 mil vagas, sendo aberto logo após a edição do ano anterior e mantém-se assim até a data da prova praticamente. O custo da viagem foi baixo, passagens baratas e hospedagem bem acessível. Frankfurt não é definitivamente uma cidade cara”, diz. “O valor da inscrição dá direito ao número de peito e almoço de massas na véspera da prova, você paga a parte pelo aluguel do chip e pela camiseta caso haja interesse. Largada em três ondas, cada uma com baias separadas por ritmo, tudo muito bem sinalizado e respeitado. Prova fria, essencialmente plana, com algumas oscilações de altitude, postos de hidratação a cada 3 km com água, chá, isotônico frutas e esponjas. A partir do km 18, em todos estes postos existe também a distribuição de gel de carboidrato. Pessoas assistindo à prova por todo o trajeto, sem muita animação, mas alguns aplausos, relógios marcando o tempo bruto e tapete de cronometragem a cada 5 km. Chegada dentro do pavilhão de exposições da cidade, com distribuição de isotônico, água, cerveja e proteção de alumínio contra o frio”, explica Pracidelle. “Resumindo, uma prova relativamente barata, extremamente bem organizada e rápida, excelente opção para quem quer buscar um recorde pessoal.”

Quem também é fã do roteiro fora das Majors é Marcelo Jacoto, de São Paulo. Da nossa listagem de 42 maratonas, já correu em Istambul, Amsterdã, Roterdã, Praga, Veneza, Roma, Miami e Madri – nesta edição, leia o relato dele sobre as maratonas de Roterdã e Madri. “Todas essas seis maratonas são de tamanho pequeno a médio, com uma menor quantidade de corredores, de 6 mil a 12 mil atletas, o que pode ser uma vantagem para quem busca recorde pessoal e não gosta de largadas ‘muvucadas’; permitem inscrição direta no próprio site e todas realizam suas feiras em locais bem servidos de transporte público. Algumas também têm o diferencial de oferecer distâncias menores no mesmo dia ou na véspera. E muitas são realizadas em cidades e percursos turísticos.”

Jacoto faz somente um contraponto. “O ruim é que em geral não há a mesma participação do público local como vemos nas Majors (em algumas há muitos trechos solitários) e não encontramos muitos brasileiros. Até podemos nos deparar com uma ou outra falha de organização. Acho que o mais válido é você poder escolher a prova pela cidade (interesse turístico). Também há boas opções para buscar recorde pessoal: de meus cinco sub 4 horas, quatro deles foram fora das Majors: Amsterdã, Barcelona, Miami e Roterdã”, afirma o corredor. “Particularmente, a Europa possui muitas opções de maratonas de fácil inscrição e que, de quebra, ainda são muito interessantes do ponto de vista turístico para toda a família.”

PARIS E VIENA. No primeiro semestre, entre os meses de março e maio, é possível escolher entre as maratonas de Barcelona, Roma, Viena, Roterdã, Madri e Praga, além de Paris (a mais cheia) dentre as tradicionais europeias e presentes em nossa lista. O assinante Marcelo Lopes correu neste ano em dois domingos seguidos duas dessas provas, Paris e Viena. Ele relata a experiência também nesta edição. “Além da Europa, para mim Miami é a prova americana que mais se destaca fora do circuito Majors e Disney. Com organização impecável, clima de praia e alto astral, a prova é uma festa e une o útil ao agradável (a corrida se desenrola em um dos destinos preferidos dos brasileiros para fazer compras”, completa Jacoto.

No Japão, Tóquio é a atração, principalmente por entrar no grupo das Majors agora. Há uma enorme loteria para participar da prova, para quem não quer pagar os preços dos pacotes de agências de turismo com inscrição garantida. Na nossa listagem, colocamos a Maratona de Nagano, muito procurada pelos maratonistas rápidos.

Voltando à Alemanha, outro bom exemplo para o primeiro semestre é a Maratona de Hamburgo. A organização gaba-se de ter o tempo mais rápido em todas as maratonas já realizadas neste ano na Europa. O queniano Eliud Kipchoge venceu com 2:05:30 – fica atrás somente do etíope Lelisa Desisa, que ganhou em Dubai, em janeiro, em 2:04:45, ainda o tempo mais rápido nos 42 km neste ano – a Maratona de Dubai também está na nossa relação. Situada no norte da Alemanha, às margens do Rio Elba, Hamburgo é uma região portuária, a segunda maior da Europa, ficando atrás somente de Roterdã. O percurso apresenta cenários diferenciados, com passagens por bairros históricos, áreas residenciais, canais e lagos. O público também garante a festa.

Não vamos falar uma a uma das presentes na relação, porém, não tenha dúvida: quer correr no exterior neste segundo semestre? Ainda dá tempo e de sobra. Se prefere programar-se para 2014, opções também não faltam. Confira no infográfico 42 provas, uma para cada km da maratona, com seus respectivos sites e uma certeza: “Há vida fora das Majors”.

 

A paixão pelas “maiores e mais famosas”

 

Não há como fugir do lugar-comum: quem começa a correr e, depois de um tempo, vai para a maratona, passa a ouvir histórias de amigos ou companheiros de treinos sobre Nova York, Berlim, Chicago… Na televisão, as provas são transmitidas ao vivo, têm destaque na imprensa, na internet, nas redes sociais. Isso vai criando um imaginário coletivo que acaba os levando em direção às Majors. Meio que como um fluxo contínuo. Devido à menor divulgação, nem fica sabendo das corridas paralelas e tão boas…

Por causa desse rumo meio que natural e constante, há também quem acabe chegando às Majors sem pensar exatamente nisso, impulsionado por essa divulgação intensa. Foi o que ocorreu com Ângela Machado, de São Paulo, que até hoje correu três maratonas, todas do grupo: Nova York, Berlim e Boston. “Foi tudo muita coincidência. Meio ao acaso. Nem sabia que existiam as Majors. Quando decidi fazer uma maratona, era apenas uma mesmo, só para ‘ver como era’. Então, pensei: ‘Já que vou fazer só uma na vida, será logo a mais famosa do mundo. E assim, me inscrevi para Nova York. Fui para lá para tentar o sub 4h! E quando vi que podia correr muito mais que isso e que poderia baixar o tempo, pensei: ‘Nossa, se fosse um percurso plano, eu faria muito melhor’. Fui procurar um trajeto assim e decidi por Berlim. Aí, lá, veio outra ideia. ‘Tanta gente quer correr Boston, mas não pode porque não tem índice. Eu, que tenho, não posso desperdiçar. E então me inscrevi para ela”, conta Ângela, que ainda não programou a próxima.

Assinante da CR Digital, de Florianópolis, Eduardo Marques correu Chicago duas vezes, em 2011 e 2012 e, no segundo semestre deste ano, fará a prova novamente ou irá para Nova York. Ainda não decidiu. “Tudo vai depender dos meus compromissos profissionais. Antes de correr Chicago, havia feito quatro maratonas em solo brasileiro (duas em Porto Alegre e duas em Curitiba), e queria algo novo, por isso fui correr lá”, diz.

O que levou Eduardo para Chicago foram as informações positivas sobre a organização e também a probabilidade de condições climáticas melhores do que aqui no Brasil. “O que me inspira e motiva a ter vontade de correr essas e outras Majors é o fato de saber que a prova, por ser parte desse seleto grupo, terá organização boa e me dará todas as condições  para me preocupar apenas em correr, e não com outros fatores que, às vezes, em provas menos organizadas aparecem.”

 

ÁLBUM DE FIGURINHAS – Guilherme Gaia, de São Paulo, pode ser considerado um “louco por Majors”. Está se esforçando para completar o “álbum de figurinhas”, como ele mesmo diz. Para fechar o circuito, ganhou um obstáculo a mais, com a inclusão de Tóquio neste ano. Mas já está com hotel e passagens reservadas e inscrição feita para a maratona japonesa no início de 2014. Depois, ficará faltando somente Boston, que ainda não encarou por odiar correr em subidas. “Apesar de já ter me inscrito três vezes para Boston, desisti por ter dificuldade de treinar no primeiro semestre. Mas correr Boston está nos meus planos e farei com certeza, completando as 6 Majors”, afirma.

Ele começou a correr em 1997 para manter a forma física, após largar o judô que praticou por 15 anos. “A primeira maratona foi a de São Paulo, em 1998, que corri meio que por acidente: entrei para fazer meu primeiro longão de 28 km, mas me senti bem, e acabei terminando, para ‘ver como era’. Assim, após estar envolvido com as maratonas, veio a vontade de correr as mais famosas e importantes.”

Como foi morar em Los Angeles em 1998, a situação acabou facilitada pela proximidade. Partiu logo para Nova York, que considera “a mais difícil, porém, indiscutivelmente a mais ‘glamourosa’ das Majors. Treinei forte, mas um tombo, a três semanas da prova, me deixou com duas fraturas no pé direito, e engessado por seis semanas. Mesmo assim, em um impulso ‘emocional e pouco racional’, tirei o gesso na manhã da prova e corri a maratona”, conta. “Na sequência, persegui a segunda Major: Chicago, com percurso rápido e organização impecável. Estive lá duas vezes, em 1999 e 2001.”

Depois, devido à fratura antes de Nova York, acabou tendo problemas futuros na outra perna, pela sobrecarga, que o afastou das corridas por cinco anos. Retornou em 2007, com uma meta: a terceira Major, em Berlim. “Que considero a melhor prova do mundo. Em 2009, decidi repetir a dose de Berlim, mas dessa vez treinando bem e consegui o tão desejado sub 3h (2h59)”, afirma. Em 2011, seguindo a busca das Majors, foi para Londres. Agora só falta Tóquio e Boston e outras que vierem para o bloco das Majors.”

 

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