14 de maio de 2024

Contato

Perfil admin 10 de março de 2015 (0) (133)

10 perguntas para Fredison Costa

1. Como foi que você começou a correr? Qual era seu histórico no esporte antes disso?
Nasci em Riachão do Jacuípe, interior da Bahia. Fui criado numa pequena fazendo do meu avô na região da caatinga. Como desde cedo eu lidava com os animais na fazenda, fui acostumado a correr desde a infância. No período de muita seca eu andava diariamente várias léguas para levar os animais para tomar água no rio Jacuípe, que ficava muito longe. Além disso, eu ia a pé para a escola, que ficava a 9 km de distância da minha casa. Lembro que tinha um chinelo tipo Havaianas. Na ida, ia com cuidado para não gastar o chinelo e chegar bonito na escola. Na volta, como eu sempre estava com fome e queria chegar rápido em casa, eu colocava os chinelos nas mãos. Assim eu evitava o desgaste e podia voltar correndo descalço.

2. Você apareceu tarde no atletismo, mas já conseguindo resultados importantes. Por que o início tardio?
Em 1993, mudei da Bahia para São Paulo e fui trabalhar na lavoura com um grupo de irmãos japoneses. Eu era responsável pelo sistema de irrigação. Minha função era correr com bota de borracha para abrir e fechar registros e manter o sistema de irrigação funcionando. Em 1997, a Associação Cultural e Esportiva de Piedade realizava na famosa Gincana da Cerejeira uma corrida de 3 km. Foi a primeira da minha vida e venci. Lembro da minha felicidade e da minha mãe na época com a premiação, que eram caixas de miojo, sabão em pó etc. A organização só permitiu que eu participasse mais um ano, depois alegaram que não tinha graça, pois eu ganhava fácil. O meu primeiro contato com uma pista de atletismo aconteceu em 1998, quando conheci o treinador Luiz Alberto de Camargo no SESI de Votorantim. Foi quando entendi que correr significava "ganhar troféus, medalhas, aparecer no jornal, revista, televisão etc. A partir desse momento eu comecei a alimentar o sonho de ser um grande atleta, vencer provas dentro e fora do Brasil.

3. Qual o histórico de resultados que o levaram à primeira participação na Disney e por que escolheu esta prova, uma vez que todos sabem que não há dinheiro como premiação?
Antes da primeira participação na Disney, em 2010, eu já havia sido duas vezes ouro em Jogos Regionais nas provas de 5.000 e 10.000 m em pista, e vencido a Maratona das Praias em 2009 e algumas outras provas de 25 km e 30 km. Além disso, ainda em 2009, fui o 5º colocado da Maratona de Buenos Aires. Minha primeira participação na Disney veio a convite do meu patrocinador, a Johnson Controls, de Sorocaba, através do presidente da empresa Carlos Vitório Zaim, que também é corredor de maratona e o principal responsável por hoje eu me dedicar aos 42 km. Eu tinha até medo da distância. De tanto ele insistir, corri a das Praias e fui feliz de estrear com vitória. Como a Johnson Controls é uma empresa americana, acabei aceitando correr a Disney mesmo sem premiação em dinheiro.

4. Você foi vice na Disney no primeiro ano que participou em 2010 e depois foi campeão nos dois anos seguintes. Foi vice de novo em 2013 e depois conseguiu o tri em 2014. Das três vitórias ai, qual considera a mais importante?
As três vitórias foram significativas, mas não tenho dúvida que a mais importante foi a de 2014, pelos momentos difíceis durante a prova e pelo fato que os meus filhos, Gustavo e Júlia, estavam esperando essa vitória para ter a chance de realizar o sonho de conhecer a Disney no ano seguinte, uma vez que eu não precisaria pagar a minha volta nem a de minha esposa e seria mais fácil levar as crianças. Mas a primeira vitória nunca sairá da minha memória porque foi quando tudo começou.

5. Fale um pouco sobre essa frustração de não ter vencido em 2013 e não poder cumprir a desejo das crianças. Quem estava lá viu a sua frustração e da sua esposa.
Existia a expectativa por parte da minha família que eu vencesse e foi um momento muito difícil para mim. Mas, para ser um grande campeão, é necessário primeiro saber perder. Foi uma prova onde corri praticamente os 42 km na frente e não soube administrar a ansiedade e energia para o final.

6. Depois da vitória de 2014, sua vida mudou radicalmente e você se mudou com a família para Orlando, Flórida. Como o surgiu esta oportunidade?
Apareceu a possibilidade de treinar com o técnico Brooks Johnson, do ESPN Wide World of Sports, que já foi considerado um dos melhores técnicos do mundo, e a bênção de ter o patrocínio da empresa Natural Energia Powered by Nature, através dos amigos Alexandre e Ana Cristina Leonardo, de Orlando. Eles foram os principais responsáveis por eu conseguir mudar para os EUA e poder viver de esporte. Além do meu salário mensal, tenho uma excelente moradia, com todo o conforto para minha família.

7. E como está sendo essa primeira temporada treinando e morando nos EUA?
Estou feliz de poder aprender com o técnico Brooks Johnson. Treino com atletas de futebol americano e das provas de 110 m com barreiras. Meus filhos nunca foram tão felizes. Estão se adaptando muito bem e já falam um pouco de inglês. Sinto falta dos amigos e dos parentes do Brasil, mas estou muito feliz e pretendo ficar por lá. Treino duas vezes ao dia. São 11 sessões de corrida por semana, com dois treinos específicos na semana e três de musculação. Geralmente faço as rodagens com um grupo de corredores de Clermont, nas estradas de terra, areia, entre as plantações de laranja e uva.

8. Mesmo treinando em um país com um calendário extenso de maratonas, você preferiu viajar para o Brasil para participar da de São Paulo. Por que?
Optei por correr em São Paulo porque tenho patrocínios no Brasil. Sabendo do clima da cidade e da dificuldade do percurso, com subidas e descidas, achei melhor vir antes para fazer alguns treinos específicos e no total foram 2 meses por aqui.

9. Você foi o 5º colocado e o 2º melhor brasileiro. Era o que esperava?
Fiquei feliz com o resultado, mas chateado com algo que aconteceu. Os atletas da elite podem ter suas bebidas pessoais para hidratação a cada 5 km. Todos tinham uma equipe de apoio e podiam deixar uma pessoa de confiança para olhar suas garrafas de hidratação nos postos. No meu caso, eu não tinha ninguém que pudesse se responsabilizar por isso e no km 25, nada encontrei. Continuei com o pensamento de que ao chegar ao próximo posto de hidratação, no km 30, minha garrafa estaria lá, mas tal não aconteceu. O calor era muito forte em São Paulo; parei irritado, perguntei ao staff e nada. Este acontecimento me fez perder o foco da prova e o ritmo. Pensei em abandonar, mas o espírito esportivo falou mais alto ali.

10. Agora de volta a Orlando, você tem a Disney como principal objetivo. Qual sua expectativa e o que espera para 2015?
Eu vou treinar duro até lá, com muita disciplina e focado na tentativa de defender meu título. Sei que dessa vez minha família inteira estará me esperando na linha de chegada. Não será fácil, mas estou me preparando para isso. Depois da Disney, quero treinar para tentar correr mais rápido e penso então fazer uma maratona na Europa, que não sei ainda qual será, e a de Nova York.

 

Veja também

Leave a comment