20 de maio de 2024

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Notícias Fernanda Paradizo 3 de outubro de 2023 (0) (3009)

Mais de 1.200 brasileiros na Maratona de Berlim, em uma edição histórica

A edição 2023 da Maratona de Berlim ficou para a história. A etíope Tigst Assefa, de 22 anos, pulverizou o recorde mundial de maratona, ao cruzar a linha de chegada em 2:11:53, 2:11, superando da marca da queniana Brigid Kosgei, que havia feito 2:14:04 em Chicago 2019.

Na prova masculina, vimos mais uma vez um desempenho de gala do queniano Eliud Kipchoge, que venceu pela quinta vez a maratona alemã e se tornou o maior campeão da prova. Ele completou em 2:02:42. Embora com um tempo distante de seu próprio recorde mundial, de 2:01:09 (obtido em Berlim 2022), e prestes a completar 38 anos, Kipchoge alcançou a oitava melhor marca do mundo.

Essa é a segunda vez, desde 1999 (com Ronaldo da Costa em 1998 e Tegla Loroupe em 1999), que Berlim detém tanto o recorde feminino quanto o masculino da maratona.

O alemão Amanal Petros, de 28 anos, também fez uma marca histórica. Ele terminou na nona colocação e bateu o recorde alemão, com 2:04:58, quebrando pela primeira vez a barreira das 2h05 para os atletas nacionais.

Recorde mundial para Tigst Assefa (Foto: Fernanda Paradizo)

RECORDE ANUNCIADO. A prova feminina teve um ritmo forte desde o início. Nos 10 km, 13 atletas corriam para recorde mundial. Tigst Assefa começou a aumentar ainda mais o ritmo a partir do km 15, correndo na companhia da compatriota Workenh Edeessa até o km 16. Assefa passou a marca da meia maratona para incríveis 1:06:20, mas a segunda metade foi ainda mais rápida, com 1:05:33.

A queniana Sheila Chepkirui terminou em segundo lugar, com 2:17:49, seguida da tanzaniana Magdalena Shaun, com 2:18:41, novo recorde nacional para seu país. Edeessa caiu para a sétima posição, com 2:19:40.

CINCO VEZES KIPCHOGE. Na prova masculina, Eliud Kipchoge já iniciou em ritmo rápido, passando a meia para 1:00:21, marca de recorde mundial, e acompanhado pelo etíope Derseh Kindie, que caiu de ritmo nos 10 km finais. O queniano Vincent Kipkemboi, estreante em maratona, até tentou chegar no compatriota, mas Kipchoge acelerou e venceu com 2:02:42. Kipkemboi ficou em segundo, com 2:03:13, e o etíope Tadese Takele, outro estreante na distância, ficou em terceiro, com 2:03:24.


POR RONALDO E PELOS BRASILEIROS. A prova em Berlim contou com a participação de dois brasileiros, que buscavam melhorar suas marcas, mas não tiveram uma manhã feliz. Wellington Bezerra da Silva, o Cipó, que corria pela segunda vez a prova alemã, terminou os 42 km com o tempo de 2:27:50. “O Cipó atleta ficou no km 28 e o Cipó corredor chegou nos 42 km com 2h27. Estou um pouco triste porque queria um resultado mais expressivo. Aqui é uma prova que a gente tem história, com o Ronaldo da Costa. Em respeito a ele, que levou o nome do Brasil ao lugar mais top do mundo em 98, e a todo povo brasileiro que eu fechei aqui hoje”, disse o atleta, emocionado, ao final da prova. Cipó  ficou 40 dias treinando no Quênia e buscava melhorar sua marca de maratona em Berlim, que é 2:13:34, obtida em Hamburgo 2019.

Samuel Nascimento, estreante em Berlim, também sentiu a prova e, a partir do km 30, optou apenas por terminar o trajeto, cruzando a linha de chegada com 2:44:07. “Tive cãibras e preferi apenas terminar para não me machucar e não perder o treinamento”, comentou o atleta, que ainda vai definir uma maratona para fazer este ano.

RECORDE ENTRE OS CADEIRANTES. A prova feminina da cadeira de rodas também registrou momentos históricos. A suíça Catherine Debrunner bateu o recorde mundial com 1:34:16. A americana Eden Rainbow Copper chegou em segundo, com 1:34:17, seguida da também suíça Manuela Schär, com 1:34:17. As três fecharam a prova abaixo do recorde mundial, de 1:35:42, que pertencia a Manuela Schär.

A brasileira Aline Rocha fez uma excelente corrida, batendo o recorde brasileiro, com o tempo de 1:39:38. Ela foi a sexta colocada. “Fiz minha melhor prova aqui. O tempo estava bom, nem tão quente nem tão frio. O vento não atrapalhou muito. Consegui andar os primeiros km junto com o pelotão da frente. As subidas ainda são meu ponto fraco. Quando tem umas ‘bicadas’ eu acabo me desconectando do pelotão. Mas é isso que a gente vai trabalhar para as próximas provas”, disse a atleta, que correrá a Maratona de Chicago agora no dia 8.

A outra brasileira na prova, Vanessa Cristina de Souza, ficou na décima posição, com 1:44:33. “Foi uma prova muito difícil porque tive apenas três ou quatro treinos já que estava focando para os 800 metros. Mas vamos para a próxima em Chicago”, comentou a atleta.

Na prova masculina, o campeão foi o suíço Marcel Hug, que  comemorou sua nona vitória em Berlim, com 1:23:07. O americano Daniel Romanchuk foi o segundo, com 1:30:16, e o inglês David Weir o terceiro, com 1:30:17.

MAIS DE 1.200 BRASILEIROS

A prova teve um recorde de 47.912 inscrições e 156 países representados. O Brasil aparece com 1.261 concluintes. Dessa forma, a prova retoma os números de antes da pandemia como uma das preferidas dos brasileiros no exterior. Confira os depoimentos de alguns deles na prova alemã.



MELHOR BRASILEIRO

Miguel Morone
Rio de Janeiro, RJ
Tempo: 2:19:33 (recorde pessoal na distância e terceiro lugar na categoria 40-44 anos)


“Foi uma prova espetacular! Não podia ser diferente: local de 13 recordes mundiais, rápida, muita gente nas ruas torcendo, uma vibração e energia incrível. É muito bem organizada e planejada, o que facilita a logística. Achei um pouco difícil a hidratação, um ponto a ter uma atenção especial para quem for fazer. No mais, uma grande festa, um grande evento que ficará marcado para a vida. Todos precisam passar por aquele portão em direção à chegada uma vez na vida. É algo indescritível.  Entrei na prova para bater o sub 2h20. Quando olhei o relógio e passei a linha de chegada em 2:19:33, a primeira coisa que lembrei foi do meu filho e da minha esposa. Não estavam lá e queria que, em pensamento, estivessem comigo sentindo a sensação e explosão pela conquista. Foi realmente uma grande emoção! Não é apenas pela prova, mas sim pelo processo e jornada até ali. É algo muito maior! Só agradecer a tudo e a todos!”


HOMENAGEM AO PAI

Sandro Bernandes
Porto Alegre, RS
Tempo: 2:50:51

“Dia 24 de setembro de 2023. Meu pai, se aqui estivesse, completaria 86 anos. Data emblemática para estar correndo uma maratona. Enquanto organizo meu BIB number na regata, repasso um filme da minha infância: meu pai correndo ao meu lado enquanto aprendo a andar de bicicleta. Passam-se alguns anos e vejo meu pai à beira da pista de atletismo acompanhando minhas competições escolares. Depois somos nós dois adultos trotando no parques em Porto Alegre. Não haveria outro lugar para eu estar a não ser correndo a maratona mais rápida do mundo.

O dia amanhece ameno, coloco a jaqueta esportiva preferida do meu pai, guardada propositalmente para ser descartada na largada da prova. Também não vejo destino mais digno para ela do que este. Em minha mente, foco e repasso os números, pace, parciais e RP’s, outra paixão além das corridas. A Maratona de Berlim entrega exatamente o que promete: um percurso plano, com pavimentação lisa e perfeita para performar. Há falhas no formato da hidratação e no processo de largada, que podem comprometer as marcas dos corredores. Manejar estas dificuldades poderia otimizar ainda mais os recordes pessoais da prova entre os amadores. Contudo, tais fatores não retiram o brilho da prova, vibrante do início ao fim, em um trajeto que se apresenta como uma verdadeira aula de história, ao longo de avenidas largas onde se alinham prédios históricos e modernos ou cruzando bairros arborizados e acolhedores.

A chegada atravessando o Portão de Brandenburgo é apoteótica. Confirmando minhas previsões e cálculos, com muito esforço, está vencido o tempo, o relógio e a mim mesmo. Foram 2 horas e 50 minutos. Recebo a medalha com orgulho e não vejo melhor presente de aniversário para o meu pai, honrando o legado de amor ao esporte. Pego a cerveja oferecida pelo organizador,  brindo a vida e tenho certeza que de algum lugar ele comemorou comigo!”


COINCIDÊNCIAS

Cíntia Bitencourt
Porto Alegre, RS
Tempo: 3:22:48

“Eu e a Maratona de Berlim nascemos no mesmo ano. Portanto, já começo meu relato com essa feliz coincidência, meu voo aterrissa na cidade sem nenhuma intercorrência, já inundando meus pensamentos de esperança e autoconfiança. Se existe um lugar para tudo dar certo, este lugar seria Berlim!

É domingo, dia da minha quinta Major e sétima maratona. Como propagado no mundo dos corredores, Berlim apresenta um percurso plano, aberto, livre de alças, digno de recordes. Com as condições climáticas favoráveis, temperatura agradável e céu ligeiramente nublado, a prova só não foi perfeita para RP’s devido ao sistema de hidratação em copos de acrílico, muitas vezes em só um dos lados da via, fazendo que corredores, muitas vezes, perderem segundos preciosos. Outro ponto sensível foi a largada, onde talvez por excesso de confiança na educação cultural alemã de não infringir regras, havia poucas pessoas controlando a entrada nas respectivas ondas e letras de acesso. Vi inúmeros corredores pulando a cerca de proteção para ingresso no corral de largada ou em letras diferentes da estipulada em seus BIB’s, algo inadmissível em uma prova desse nível.
 Abstraindo essas duas situações, correr Berlim é correr no palco da história do mundo, é passar sobre guerras, massacres e debruçar-se por um percurso que por décadas dividiu famílias e amigos. Não há como não se emocionar e sentir a força que emana dos prédios, do solo e do povo alemão.

A 800 metros da chegada avistar o Portão de Brandenburgo, símbolo do triunfo da paz sobre as armas, construído há quase  três séculos, testemunha de batalhas e mortes, isolado pelo muro de Berlim, manchado dias antes da maratona por ativistas climáticos, sobrevivente às tragédias da humanidade, permanece perene, triunfante e inatingível.

Impossível não compará-lo a um ciclo de maratona, onde por mais renúncias, restrições sociais e alimentares, dor, medo durante treinos solitários e angústia de conciliar família, profissão e planilha, permanece lá no fundo da alma a incerteza de se, ao fim, haverá a redenção e passaremos por suas arcadas felizes, plenos e vitoriosos.

Maratona é um combate mental contigo mesmo. É preciso flertar com as sombras para alcançar a luz da vitória. E ao fim dos meus 42 km, mais uma grata coincidência, dias antes no Hall of Fame, entre tantos grandes atletas, escolhi tirar uma foto ao lado da recordista da primeira prova, Jutta von Haase, em 1974, ano que nascemos, eu e a maratona. O tempo dela na época, 3:22, exatamente os números que enxergo ao dar stop no meu relógio, os mesmos 3:22.

Recebo a medalha, certa que não são meras coincidências… dou mais alguns passos e, entre lágrimas, suor e exaustão, reflito: ‘A Cíntia da finish line já está diferente daquela que alinhou na largada. Assim como Berlim, deixou seus fantasmas e medos no passado, mais uma vez teve forças e sabedoria de chegar ao final’. Enxugo as lágrimas, abro um sorriso e agora convicta: um futuro mais forte, mais resiliente e sobretudo extraordinário está por vir!”


PERSISTÊNCIA

Matheus Alves
Brasília, DF
Tempo: 4:02:02

“Superação seria a melhor palavra para definir o que foi a minha Maratona de Berlim 2023. Fui sorteado para correr em 2020, entretanto, com a pandemia, a edição foi cancelada e me restou optar por 2021, 2022 ou 2023. Optei por correr em 2021, mas em abril daquele ano tive uma entorse no tornozelo e necessitei passar por procedimento cirúrgico. A maratona daquele ano estava cancelada para mim. Em 2022, já com passagens compradas, hotel reservado e ciclo encaixado, tive uma fratura por estresse e a maratona foi cancelada novamente. Consegui passar para 2023. Arrepiante pensar que seria tudo ou nada. Estava com todas as inseguranças possíveis. Ainda assim, no ciclo, bati meu RP de meias duas vezes e foi incrível poder contar com tanto apoio. Chegou o dia! Ansiedade, incertezas, êxtase por estar ali naquele curral de largada. Somente eu sabia o que estava vivendo carregando uma bagagem de quase quatro anos de luta e persistência. No momento em que foi autorizada a largada, não conseguia pensar em nada mais, estava tão absurdamente focado que minha cabeça somente visualizava o Portão de Brandemburgo nos quilômetros finais. E lá estava ele! Parecia brilhar e me chamar para ultrapassá-lo no meio de milhares de pessoas gritando e incentivando os corredores. Medalha no peito, coração explodindo e mais uma página virada em minha vida que foi escrita e eternizada. Somos feitos de histórias!”


MÚSICA E ANIMAÇÃO

Rita Leme
São Paulo, SP
Tempo: 4:17:46

“Larguei às 10h17 dançando ao som de Bruno Mars. Uma energia sem fim. Mas estava preocupada com a temperatura, pois esquentava cada vez mais. Sabia que enfrentaria calor a partir dos 21 km e teria que gerenciar minha FC para não quebrar. Levei duas garrafinhas de água comigo, para  evitar perder tempo nos primeiros postos de hidratação. De fato, ficou muito quente (pelo menos para mim!). As pessoas se aglomeravam e paravam na hidratação e durante o percurso vi pelo menos quatro caminhões de bombeiros com mangueiras de água para refrescar. Minha dificuldade foi manusear os copos de plástico fornecidos pela organização da prova, pois esperava que fosse mais mole. Durante todo o percurso, as pessoas gritavam meu nome ou ‘Brasil’. As crianças faziam ‘touch’ com as mãos (fiz questão de sorrir e acenar para todos, especialmente para as crianças). Moradores oferecendo frutas, nuts e bolos. Música, torcida, animação me comoveram desde o km 1. Parecia que toda a Alemanha estava ali em Berlim, nas janelas ou nas sacadas. Os alemães de fato colocaram ‘o bloco na rua’. A corrida respira história e eu poderia ter curtido mais essa parte. Entre o km 39 e 40 uma pessoa falou: ‘Rita, du schafst!’ Eu entendi: ‘Rita, você consegue!’ Isso me deu um gás que já não tinha mais. Mas o sprint final com todo o meu coração veio quando dobrei na Unter den Linden e avistei o Portão de Brandenburgo. A chegada é memorável, impactante. Você vai se aproximando do portal e ele vai tomando uma proporção absurda. Passou uma história na minha cabeça, passou a minha conquista e a certeza que quero viver tudo isso de novo. Berlim, você foi especial e que quero lhe repetir.”


PRESENTE ANTECIPADO

Karla Resende
São Luís, MA
Tempo: 3:48:13

“A maratona de Berlim passou a fazer parte dos meus dias desde que fui sorteada. Quanta emoção! Quis o destino que a corresse dois dias antes do meu aniversário. Me preparei para recebê-la em minha história de vida como uma mãe gesta um filho: com muito amor e dedicação. Tive um ano de muitos desafios na vida pessoal, mas o sonho de percorrer as ruas desta cidade fantástica e sentir o calor da torcida alemã simplesmente me levou à linha de chegada com um presente de aniversário inesquecível: meu recorde pessoal. Berlim já faz parte da minha história e com gostinho de quero mais. ‘See you soon Berlin!’”


TORCENDO E APLAUDINDO


Willi Velloso
São Paulo, SP
Tempo: 3:16:16

“Cheguei em Berlim e meu coração estava daquele jeito. A ficha caiu quando entrei na Expo. Mesmo lotada, a retirada de kit foi rápida. Muitos expositores, muita coisa legal. A Adidas brilhou. De volta para o hotel, com meu BIB e sacola cheia. E o dia chegou! Aqueci 2 km e fui para a meu setor. Faltavam 15 minutos para a largada. O show estava acontecendo no telão. Foi incrível. Eu fico ansiosa, emocionada, com medo, com gana. A largada foi linda. Eu tinha uma estratégia de prova e fui, fluiu. Encantada com tudo, vivendo meu sonho, feliz. Tanto acolhimento, a rua cheia de gente torcendo, aplaudindo. Tantos cartazes, crianças. É surreal! A gente se sente importante. As pessoas te olham com orgulho, vibram. Minha segunda maratona, segunda major. Foi perfeita!”



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