20 de maio de 2024

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Blog do Corredor Notícias Tomaz Lourenço 15 de abril de 2019 (0) (218)

Empurrado para a Comrades, na comemoração dos 60 anos

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

A revista já tinha publicado algumas matérias sobre a ultramaratona Comrades na África do Sul, mas ainda era pouco conhecida por aqui, atraindo menos de uma dezena de participantes do país a cada ano. Apesar de já ter bom currículo em provas longas, nunca me animei a fazer o equivalente a duas maratonas seguidas (a distância varia entre 87 km nos anos de subida e 89 km nos de descida); minha meta continuava sendo conseguir correr bem os 42 km.

Então, fui acompanhar a Maratona de Curitiba em novembro de 2006 e na volta, no aeroporto, encontrei a assinante Maria Eugênia. Ao questioná-la por que havia corrido essa prova sabidamente difícil, pelo percurso e época do ano, ela me confidenciou que a tinha usado como treino e teste para a Comrades, que pretendia fazer em junho. Quis saber mais sobre a razão para enfrentar esse desafio e ela foi taxativa: “Vou fazer 60 anos e quero provar pra mim que estou bem viva; portanto, nada melhor do que encarar e completar a Comrades!”

Brinquei que achava o projeto certa bobagem, mas desejei sucesso a ela. Logo em seguida, outro assinante do Espírito Santo me chamou para apresentar seu irmão que morava em Curitiba e aproveitou para perguntar qual era a data da Comrades, porque estava pensando em fazê-la. Achei curiosa a coincidência, informei o que sabia e segui pelo aeroporto, na espera de meu voo. Então, o terceiro e definitivo fato: encontro um assinante do Uruguai, me lembro bem do nome de sua cidade porque é curioso – Pan de Azúcar – conversamos sobre a prova paranaense e logo em seguida falei para ele sobre esses dois encontros, ao que ele me afirmou: “Meu sonho é fazer a Comrades algum dia!”

Aí, não teve jeito, e em tom de desafio retruquei: “Vamos fazer a prova em 2007?” Ali mesmo acertamos esse compromisso (que ele não cumpriu). Ao entrar no avião, comentei com Cecília sobre as 3 conversas e anunciei: “Vou correr a Comrades, para comemorar meus 60 anos!”.

Sabia que teria algo difícil pela frente, mas nunca achei que era algo para super homem. Enfim, mais de 15 mil faziam a prova anualmente e com esse número era impossível pensar em uma corrida muito desafiadora. Lembrando que a Comrades tem a fama de ser rigorosa para tempos-limite no percurso e especialmente para a chegada, mas desde que ampliou de 11 para 12 horas o final, a absoluta maioria dos que largam completam. Apenas com o detalhe de que os participantes têm consciência da necessidade de uma preparação mínima e poucos lá chegam “pra ver no que vai dar”.

QUASE 4 MARATONAS POR SEMANA.  No começo de janeiro já comecei meus treinamentos para a ultra de junho, mas logo constatei que teria problemas. Minha dor na coluna, quando ficava um pouquinho pesado, mostrou que não iria ser fácil a empreitada. Novamente minha mulher deu a dica: comece emagrecendo, para só então entrar nos 4 meses de preparação para enfrentar os 89 km (em 2007 a prova seria em descida, o que é uma meia verdade, porque quase nada é plano no percurso, mas se sai do planalto e se chega no litoral).

O treinamento, de fevereiro a maio, foi basicamente rodagem, ou seja, em ritmo sempre confortável, e em quilometragem progressiva, mas com avanços bem pequenos a cada semana. Como não queria forçar a coluna, optei por correr terça, quinta e domingo, enquanto nas segundas, quartas e sextas fazia 1 hora de musculação (braços, pernas e abdominais), mais meia hora de esteira em ritmo crescente. O total de corrida (rua + esteira) semanal começou com uns 60 km e chegou a 160 km na antepenúltima antes da prova. Os longos aos domingos cresciam 20/30 minutos a cada vez (minha referência era o relógio e não a distância) sendo os 3 últimos de 6, 7 e 8 horas.

Mesmo com todos esses treinos, acabei quebrando por volta do km 70 e fui caminhando/trotando até o final no estádio de Durban, fechando os 89 km em 10h50. Na segunda, no aeroporto, perguntei para Maria Eugênia se voltaria no ano seguinte, o que ela me respondeu com um palavrão (ela tinha passado mal depois da prova). Mas nós voltamos sim, ela por mais 4 vezes, eu apenas no ano seguinte para a back-to-back, desta vez completando em 10h12, mesmo tendo que andar por algum tempo depois dos 80 km, em função de cãibras.

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