20 de maio de 2024

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Tô Correndo Tomaz Lourenço 2 de agosto de 2023 (0) (2227)

Dados da São Paulo City revelam comportamento dos maratonistas

POR TOMAZ LOURENÇO

A maratona paulistana promovida e organizada pela Iguana Sports, que aconteceu dia 30/07, é reconhecida como uma das melhores do Brasil, pela excelente estrutura que oferece aos corredores. O percurso para o pessoal dos 21 km e, obviamente, a primeira parte para os dos 42 km, não é muito bom devido às subidas que apresenta, mas a largada a partir das 6h, em julho, ajuda um pouco.


Uma das características louváveis da Iguana e não encontrada entre todos os organizadores é a absoluta transparência de seu trabalho, especialmente no que se refere aos resultados, prontamente divulgados com detalhes. Esta atitude acaba, naturalmente, revelando os números reais do evento, em termos de participantes, o que é escondido ou dificultado por outras empresas.

Nesse sentido, os dados da São Paulo City Marathon 2023 são muito interessantes de analisar para se ter uma ideia mais concreta sobre o comportamento dos maratonistas, meios ou inteiros. Vamos a eles!

O total de inscritos nas duas provas foi de 13.661 homens/mulheres. Mas 1.492 não apareceram, já que o tapete de controle do chip no pórtico de largada constatou a passagem de apenas 12.169. Uma possível explicação para esse fato seria a realização de inscrição com muita antecedência e depois, por razões diversas (doença, não ter feito um bom treinamento, compromisso profissional ou familiar etc) ser obrigado a abortar a presença.

Mas, por incrível que pareça, também são muitos os casos dos que se inscrevem para ganhar (pagando alto…) a camiseta do evento e assim poder desfilar com ela depois. No caso em questão, segundo me informou o diretor da Iguana, Paulo Carelli, 12.498 pegaram o kit (e portanto 329 não foram para a largada), enquanto 1.163 sequer foram buscá-lo!

Outro aspecto muito importante revelado e confirmado pelos números divulgados pela Iguana Sports é que quase todos que largam acabam completando os 21 e 42 km. Ou seja, desmitifica a ideia de que completar essas distâncias é algo heroico e só chegar ao final já merece os maiores elogios. Não menosprezando o feito, mas lembrando que se pode fazer parte do percurso caminhando numa boa e fechando a maratona em menos de 6 horas ou a meia em menos de 3 horas.

Visto de outra forma, a absoluta maioria os participantes prepara-se, mesmo que não muito bem, para correr a prova, daí o número de desistências ser inexpressivo. No caso da SP City, apenas 112 corredores (dos 12.169 que largaram) não foram até o final, uma vez que passaram pelo tapete de chegada exatos 12.010 homens e mulheres.

E naturalmente que desses 112 quase todos devem ser dos 42 km, onde a “quebra” ocorre, mesmo quando se acredita estar devidamente preparado para enfrentar a longa distância. Enquanto nos 21 km o número de abandonos com certeza é sempre inexpressivo.


SUGESTÃO DE MUDANÇA

O total de concluintes na SP City foi pouco menor do que o verificado no ano passado, quando 12.460 terminaram as duas provas, sendo 3.800 nos 42 km, contra 3.266 agora em julho. É verdade que cresceram as opções de maratona (com percurso aferido) em 2023, fazendo diluir entre elas o já restrito número de maratonistas, que se calcula entre 25 e 30 mil no país.

Mas no caso desse evento da Iguana, o site da CR fez uma sugestão para que houvesse uma evolução nesses números, notadamente da maior distância. Seria a realização de duas meias, uma largando como agora junto com a maratona e a outra na marca dos 21,1 km, a partir das 8 horas. O pessoal da primeira pegaria um percurso mais difícil, mas com temperatura favorável, enquanto os outros um trajeto quase todo plano e sem necessidade de começar tão cedo.

O site chegou a colocar uma pesquisa no ar sobre qual opção os corredores achavam mais interessante e o resultado apontou absoluto empate entre as duas! A consequência dessa mudança seria, com absoluta certeza, maior número de inscritos nos 42 km, uma vez que os maratonistas teriam a companhia de mais corredores na segunda metade, o que é sempre um fator estimulante.

Há alguns anos fiz a SP City Marathon e até os 20 km ficava até um pouco difícil correr, pelo congestionamento de corredores, sem contar muito barulho e bagunça. Aí, de uma hora para outra, um silêncio absoluto e pouquíssimos participantes em volta, quando o pessoal dos 21 km saía à direita para a chegada no Jockey Club. O desânimo veio ainda mais forte para encarar a segunda parte.

Quem sabe em 2024 essa sugestão seja considerada e colocada em prática, mesmo porque ela não apresenta dificuldade de execução. A SP City teria, então, um diferencial de todas as demais do Brasil, e provavelmente superaria o total de 15 mil concluintes, com mais de 5 mil na maratona.

Por enquanto, a única novidade anunciada para o próximo ano é a antecipação da realização do evento do tradicional último domingo de julho para o anterior, dia 21, em função das Olimpíadas em Paris, que acontecerão de 28/07 a 11/08.


Tomaz Lourenço é jornalista, 76 anos; lançou a revista Contra-Relógio em outubro de 1993, sendo seu editor até a última edição em abril de 2021. Correu mais de 60 maratonas no Brasil e exterior, além de 2 Comrades; seu recorde nos 42 km foi ao estrear na distância, em Blumenau 1992, com 3h04.

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