20 de maio de 2024

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Notícias Fernanda Paradizo 20 de outubro de 2023 (0) (1333)

Brasileiros na Maratona de Chicago. Confira alguns depoimentos

Além de recorde mundial do queniano Kelvin Kiptum, com 2:00:35, e da excelente performance da holandesa Sifan Hassan, que bateu o recorde da prova, com 2:13:44, e fez a segunda melhor marca do mundo, a edição de 2023 da Maratona de Chicago, no dia 8 de outubro, proporcionou momentos especiais a muitos brasileiros, que marcaram presença em peso no evento. No total, foram 1222 corredores representando o Brasil na Windy City.



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ESTREANTE E MELHOR BRASILEIRO

Um dos destaques em Chicago foi o paulista LEONARDO SANTANA, de 31 anos, que fez sua estreia nos 42 km. O atleta esperava migrar para a distância apenas em 2024, mas o Troféu Nike, realizado no ano passado, acelerou seus planos. Como capitão da equipe masculina campeã do evento, Leonardo e os integrantes do time ganharam o direito de correr a Maratona de Chicago em 2023.


“Minha cabeça sempre esteve focada na alta performance. Então eu só queria estrear quando me sentisse maduro o suficiente para suportar o treino e quando tivesse tempo e dinheiro suficiente para isso. A premiação me fez estrear agora. Eu sonhava com Chicago, Berlim ou Valência. Que bom que comecei com Chicago”, conta o atleta, que fez 2:23:47 e foi o melhor brasileiro na prova.  

Leonardo começou a focar na nova distância já desde o início do ano, aumentando o volume. “Eu já estava treinando com um volume acima do habitual, justamente para me adaptar, mas específico mesmo foi a partir de julho. Treinos mais longos, tiros longos, muitos dias com dois treinos e pico de quilometragem de 180 km na semana. Antes chegava a 120 ou 140 km semanal.” 

Nesse meio tempo, ele conseguiu melhorar sua marca na meia maratona, fazendo 1:05:59 em agosto, resultado que, aliado aos treinos, lhe dava a expectativa de estrear nos 42 km com um tempo entre 2:18 e 2:19. “Essa era a previsão e eu me sentia realmente pronto para tal. Foi detalhe do dia, infelizmente”, explica o atleta, que correu quase o tempo todo num grupo formado pelas americanas Emma Bates e Emily Sisson, recordista americana de maratona, com 2:18:29. Ou seja, seria o grupo perfeito para tentar alcançar sua meta. 



“Eu vi na entrevista que a Emily tentaria bater o recorde americano novamente. Então, desde o primeiro km corri junto com o pacer, pois sabia que iria para 2:18. O pelotão era grande, mas foi diminuindo com o passar dos quilômetros. Na passagem do 30, o pelotão se desfez.

“Eram apenas eu, a Emily, o pacer e mais dois homens. Depois, ela diminuiu o ritmo e eu me lancei sozinho a continuar perseguindo o tempo desejado. Infelizmente, eu me senti mal, como se tivesse acabado toda a energia e, a partir do km 38, quando ela me passou novamente, briguei muito para chegar. Nesse pequeno trecho perdi 5 minutos. Assim, da previsão de 2:18/19, terminei em 2:23:47. Parece pouco, mas para quem briga por segundos, alguns minutos a mais se tornam grande perda.” 

A estreia nos 42 km em Chicago trouxe para Leonardo a experiência de algo inédito na sua carreira como atleta. “Para mim era tudo novidade, a maior corrida que já vi, a maior feira, variedade de produtos, ativações, brindes. Eu me sentia em um parque de diversões, encantado com tudo aquilo”, lembra o atleta, que fez questão inclusive de correr os 5 km na véspera, substituindo o trote que já teria na sua programação.

“O interessante foi ver as ruas cheias, com grande torcida, parecia uma festa. Nunca vi uma prova de 5 km com tantos espectadores. Realmente a cidade abraça o evento. Já sobre o dia da maratona, arrepia só de lembrar. Era muita gente na rua. A torcida fazia tanto barulho que chegava a ser ensurdecedor. Eu corri com as mais famosas atletas de lá. Então a torcida gritava loucamente seus nomes quando passávamos. Foi lindo ver como as pessoas as acompanham e torcem.”

Leonardo cita a largada como um momento marcante na prova, quando as lembranças e sentimentos afloram. “Eu estava feliz, me sentindo realizado. Para quem cresceu na periferia, que já teve a família vivendo em barraco, chegar ali foi uma grande vitória. É uma realidade realmente muito distante da que nasci e sempre tive. Minha mãe é diarista e meu pai é camelô. Imagine eles falando para a família inteira que eu estava nos Estados Unidos para uma das maiores corridas do mundo”, conta o atleta, lembra que largou num grupo considerado elite B.

“Era elite, só não era a dos favoritos. Aqueci com os melhores atletas do mundo em uma área especial. Depois fomos para a largada e eu estava ali, olhando para eles, ouvindo e me inspirando para um dia ser como eles. Foi marcante e jamais será esquecida. Está tatuada na alma.”

A MAIS RÁPIDA ENTRE AS MULHERES

A melhor brasileira na prova também foi contemplada com a participação na Maratona de Chicago no Troféu Nike. Campeã da SP City Marathon 2023, MARIANA LUCHEZI, de 37 anos, fez 2:48:45, batendo seu recorde anterior, de 2:53, exatamente na maratona paulista.



“Usamos essa prova como ‘teste’ para Chicago, já que a SP City é bem mais dura. Percebemos que estávamos dentro do planejado. Meu treinador fez pequenos ajustes no treinamento para que alcançássemos a marca de sub 2h50”, explica Mariana, que correu pela segunda vez em Chicago e credita sua evolução a vários fatores, como maturidade e mudança no método de treinamento.

“Em 2019, fiz 3:10. Passei a respeitar e a acreditar mais no processo e no meu potencial. Algo que também colaborou muito nesse ciclo foi a ausência de lesão. Eu me dediquei muito ao fortalecimento muscular, fisio de prevenção, alimentação e respeito às zonas de treinamento. Esse somatório me levou ao resultado”, comemora a atleta, destacando que fez uma prova bem “encaixada”. 

“Queríamos entrar nos 2:49 e conseguimos. Fiz 2:48. Em alguns momentos corri em grupo, em outros mais sozinha. Faltando 5 km para o final, consegui negativar mais do que o programado. Foi incrível!”

Mariana cita a “vibe” de Chicago como o ápice da corrida. “Toda a população se envolve. É surreal. E claro que o percurso plano e a temperatura colaboram muito também. Essa ‘vibe’ não é algo que estamos acostumados no Brasil, todos torcendo, gritando, vibrando durante os 42 km”, destaca a corredora, que acabou sendo “presenteada” com mais uma participação num evento em que rolou recorde mundial, já que em 2019, ano de sua estreia em Chicago, a edição também foi marcada por um recorde, da queniana Brigid Kosgei (2:14:04), que bateu na época a marca de Paula Radcliffle.

“A prova é rápida pelo percurso e pela temperatura. E este ano tivemos a sorte de o vento não estar tão intenso quanto de costume. Ajudou bastante.” 


RETORNO COM RP

A catarinense ANA LUCIA ROZZA, de  54 anos,  também conseguiu em Chicago seu recorde pessoal, depois de nove maratonas realizadas. Ela cruzou a linha de chegada com 3:32:33.

Ana, que já completou as seis Majors e, portanto, já tinha Chicago no currículo, resolveu retornar para tentar ter uma lembrança melhor de quando fez pela primeira vez.

“Em 2017, fiz o pior tempo da minha vida (4:44:46). Corri lesionada, tomando injeção para dor, e tive muita dificuldade para concluir. Decidi repetir para corrigir esse dia cinza na minha vida e assim virar essa página. Também quis corrigir o certificado das Majors, que aceita corrigir o tempo se você melhorar”, conta Ana, que dessa vez teve um dia feliz na Windy City.

Após quatro anos sem correr maratona, por conta da pandemia, de lesões e cirurgia, a meta era voltar aos 42 km e tentar correr abaixo do seu RP (3:36:07, em 2019). “Consegui e estou muito feliz. Essa prova é excelente para tempo e a organização entrega o que promete: ótima logística, uma das melhores feiras pré-prova, público bem participativo e temperatura perfeita. Além disso, o percurso é plano, a largada e a chegada são praticamente no mesmo ponto, o que estimulou também a ter pela primeira vez a presença da minha família. Sigo feliz e com saúde, superando meus limites.”

SONHO REALIZADO

A corredora baiana MARCIA ALCÂNTARA sonhava em correr nos Estados Unidos e Chicago sempre esteve no topo da lista para estrear nas Majors.

“Foi minha 26ª maratona e foi um sonho realizado. A organização é impecável, a prova é linda, o percurso é plano e o clima não estava tão frio, já que sofro em baixa temperatura, pois venho de uma região muito quente. A população apoia o evento do início ao fim, incentiva os corredores, participando ativamente”, conta a corredora, que, mesmo dias após a prova, ainda tem na memória a emoção da chegada na lembrança. “Parece que a ficha ainda não caiu.” Seu próximo objetivo também será uma Major nos Estados Unidos, já que se qualificou para Boston 2024.

PALCO DE MUNDIAL AGE GROUP

Depois de dois anos seguidos disputado em Londres, em 2021 e 2022, a Maratona de Chicago foi pela primeira vez palco do Abbott World Marathon Wanda Age Group Championships, campeonato mundial master, competição para corredores com 40 anos ou mais. A prova teve cerca de 2700 participantes do mundo todo, inclusive do Brasil, que esteve representado por 42 corredores.

A brasiliense ÍRIS FORMIGA, de 44 anos, foi uma das representantes brasileiras no mundial, vaga conquistada pelo sistema de ranking com os resultados das Maratonas de Londres e Big Sur, na Califórnia. Essa foi sua segunda participação em Chicago, onde completou sua 34ª maratona.

“Dessa vez foi muito melhor! Na primeira eu tinha pouca experiência, muita ansiedade e não curti nada da prova. Sofri mesmo. Dessa vez, fui bem tranquila, sem me cobrar desempenho (até porque tinha acabado de correr em Berlim), ouvindo música, cantando e aproveitei a prova toda”, conta a corredora, que achou a organização da prova impecável, com exceção de algumas falhas na organização do Wanda Age Group, principalmente na entrega das bagagens ao final.  

“A experiência do mundial foi muito bacana. Ter o apoio da tenda antes e depois da prova foi muito bom. Foi acolhedor ter um cantinho pra descansar e me recuperar após correr. Na prova, senti falta de uma largada mais festiva. Mas a participação do público e dos voluntários foi muito motivadora. O clima também ajudou bastante no dia. Nem deu pra sentir o vento forte de Chicago. Terminei em 3:33 às 11h11, o que já me deixa feliz, porque adoro números iguais (rs).”

O paulista DANIEL FIGUEIREDO, de 46 anos, completou apenas sua quinta maratona em Chicago, mas já tinha resultados que o colocavam no seleto grupo dos melhores na categoria para a disputa do Wanda Age Group World Championships.

“Foi perfeito. Excelente organização desde a Expo até o final da prova, que é plana e tem uma torcida vibrante. O clima também ajudou.  

O ponto negativo fica para a devolução das sacolas para quem estava usando o guarda-volumes da tenda do mundial, que foi muito confusa”, diz Daniel, que tinha 3:10 como foco e terminou a maratona em 3:07:55.

Entre as melhores lembranças da prova, ele cita o km 35, em Chinatown, e a chegada. “Eu estava muito bem e encontrei no km 35 minha esposa, minha filha e o Marcos Paulo Reis, meu treinador. E, claro, a lembrança da chegada, vibrando muito com meu RP.”

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