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Especial História Redação 12 de julho de 2011 (3) (380)

Aos 8 anos, a primeira maratona de Zezinho

O que você acha de colocar uma criança de 8 anos para correr uma maratona? Será que o esforço do corpo e da mente pode ocasionar algum mal? Em 2006 o menino indiano Budhia Singh, 5 anos, correu ininterruptamente 65 km e só parou 7 horas depois por extrema exaustão; ele correu quase por obrigação, imposta por seu treinador e pai adotivo. O feito fez daquele menino celebridade da noite para o dia (veja boxe) e a ousadia de Singh repercutiu especialmente na comunidade dos corredores.

Agora, pasmem! Descobri que há quase 30 anos algo semelhante aconteceu no Rio de janeiro, na Maratona Atlântica Boa Vista/Jornal do Brasil. A prova estava em sua 3ª edição, e, como era comum na época, foi realizada na tarde de sábado, 7 de agosto de 1982. O vencedor foi o português Delfim Moreira, que finalizou com o tempo de 2:15:57, 1 minuto e 30 segundos a mais do que no ano anterior quando foi o vice-campeão. Na ocasião Delfim disse: "Dessa vez a Maratona do Rio foi muito desgastante; eu deveria ter escolhido outra mais fácil para correr!"

Distante da reclamação e cansaço do vencedor, um menino de 8 anos ainda demoraria mais 3 horas para concluir os duros 42,2 km. "Zezinho" completou sua primeira maratona, com o tempo de 5:13:58, e foi o 2.913º colocado entre os 3.934 concluintes. As semelhanças entre o brasileiro e o indiano ficam apenas na questão de serem duas crianças que percorreram uma longa distância. A bem da verdade, Zezinho tinha se iniciado nas corridas, em 1977, com apenas 4 anos, e nem imaginaria que ao redor dele surgiriam várias histórias de sucesso!

Para entendermos melhor a razão dessa criança correr sua primeira maratona aos 8 anos, precisamos voltar no tempo e entender o contexto do que significava correr na década de 80. Muito diferente dos dias atuais, um corredor, para ser reconhecido como tal, tinha que ter dois "Sims" como resposta e justificar seus tempos na ponta da língua. Pergunta 1) Você já correu São Silvestre? Pergunta 2) Você já correu a Maratona do Rio? Diante de uma negativa na época, a pessoa era considerada apenas como um simples praticante de Cooper – método de caminhar do médico americano Kenneth Cooper, muito divulgado como prática esportiva para qualidade de vida.

Soube que Zezinho continuava morando em Santos e fui conhecer melhor sua história e especialmente sobre aquela participação na Maratona do Rio. Zezinho é José Henrique Miyasiro Abreu, irmão do nadador e triatleta olímpico Paulo Miyasiro, que comentou: "Temos apenas quatro anos de diferença e foi por causa dele que a nossa família despertou para o esporte!"

 

PRIMEIRAS CORRIDAS, NA PRAIA. Por incrível que pareça, a saga esportiva da família Miyasiro começou em função de um erro médico. Zé Henrique nasceu em 30/10/73. "Antes de completar um ano, recebeu uma injeção que deixou sua perna direita caída, sem força", recordou o pai João Henrique. Por indicação do pediatra, logo que começou a dar os primeiros passos, Zezinho era levado à praia para andar e correr pela areia fofa, visando o fortalecimento das pernas. "Continuava nesse tipo de tratamento, até que em 1980 meu pai, formado em educação física, convidou os meninos da rua para correr e treinar no quarteirão de casa, e assim surgiu a idéia de formarmos uma equipe, também com adultos, para participar de provas." 

"Em 1981 meu pai criou a equipe a Beth's Clube de Santos, em homenagem à minha mãe, que tinha um bazar com o nome Beth's. Nossa equipe era uma sensação na cidade; viajávamos muito e meu irmão Paulo também já começava a dar suas corridinhas. Muitos corredores surgiram pelo incentivo de meu pai, que estimulava os garotos das ruas vizinhas a correrem conosco. No início de 1982 foi estabelecido nosso principal objetivo no ano: iríamos nos preparar para correr, em 7 de agosto, a Maratona do Rio, a mais importante corrida na época, depois da São Silvestre", observou Zezinho.

 

MUITO FOME DURANTE A PROVA. O Beth´s Clube de Santos lotou dois ônibus, com corredores, cuja maioria iria estreiar nos 42 km, além de parentes e amigos, investimento bancado por João Henrique, que tinha a experiência de ter corrido três maratonas.

Apesar dos quase 30 anos passados, Zezinho lembra que não sentiu tanto o esforço da maratona. "Acho que minha participação se compara aos meus primeiros anos de tratamento fisioterápico; mesmo me esforçando, estava seguro, e todos aplaudiam muito minha passagem. Mas, o que mais me fortalecia era a companhia do meu pai, que correu o tempo todo ao meu lado."

Ele comenta que a principal dificuldade apareceu no meio do percurso. "Quando cheguei aos 20 km pedi para meu pai comprar um milho dos ambulantes, que estavam vendendo lá na praia. Pedi a ele para parar de correr por algumas vezes para que eu pudesse comer, inclusive um cachorro quente, e durante o percurso tomei muita Coca Cola, que era um hábito dos corredores da época. Por isso levei 5 horas e 13 minutos."

A sensação da chegada ficou marcada para sempre, como uma tatuagem no pensamento, disse Henrique: "Eu não sabia direito o que era uma maratona e a chegada com todo mundo esperando a gente, parentes, amigos, além dos corredores contagiados com a alegria de nossa equipe. Caímos no choro na chegada, num misto de dor e de alegria, uma sensação que só sente quem corre uma maratona."

Uma curiosidade é que nas primeiras maratonas brasileiras era comum inscrever menores de 18 anos, com um adulto se responsabilizando, como foi o caso de Zezinho. Na 3ª Maratona Atlântica Boa Vista dos 64 menores, 30 completaram a prova; Zé Henrique foi o mais jovem dessa "categoria", Carlos Alexandre Ravani (17 anos) o mais rápido, com 2h58 e o último dos menores fez 6h21.

 

42 KM SEM CULPA. Após 3 anos, em 1983, a equipe Beth's terminou seu ciclo, porque sem patrocinadores ficava muito caro continuar. "Meu pai sempre pagou do próprio bolso a participação e inscrição de toda equipe nessas provas; pegou gosto pela corrida por minha causa. A corrida foi a oportunidade para conhecermos e ajudarmos muitas pessoas que tinham diferentes necessidades; a maioria daqueles corredores era da classe mais simples e até hoje os garotos daquela época visitam a nossa família para relembrarmos os bons tempos."

Zé Henrique diz ser eternamente grato pelo incentivo e apoio incondicional de seu pai. "Meu pai percebeu que eu gostava muito de correr e acreditou que essa seria a solução para meu problema de locomoção. Quando eu tinha 6 anos era comum para nossa família e amigos treinar diariamente 10 a 15 km e aos sábados eu começava a tentar acompanhá-los no longão de 20 a 25 k, pela praia, sem muita dificuldade. Participar daquela Maratona do Rio foi na verdade um incentivo, já que desde pequeno tudo para mim girava em torno de desafios. Só fiz porque meu pai me incentivou, aliás sempre foi assim, fazíamos tudo juntos. Sozinho não faria de forma alguma".

Pelo Beth's Clube passaram mais de uma centena de corredores, entre ele vários atletas de elite. Vestiram a camisa vermelha do Beth's, Adilson Damas, José Pereira, Laércio Carvalho, João Dias e Valmir Nunes, antes de se tornar recordista mundial de ultramaratona.

Em 1983 Zé Henrique diminuiu a participação nas corridas e começou a competir na natação e depois migrou para o triatlo. "Com 11 anos completei a minha primeira prova de triatlo, em Santos, nadando 1 km, pedalando 45 km e correndo 10 km. Gostei desse desafio e pratiquei a modalidade até 1996. Meu irmão Paulo Miyasiro foi quem deu continuidade, levando o nome da família a diversos torneios internacionais.

Atualmente com 37 anos, Zé Henrique retorna aos treinos, incentivado pelo início da Assessoria Esportiva Paulo Miyashiro. "Reconheço que preciso perder bastante peso, mas vou aproveitar o convite de meu irmão e já lancei um desafio: eu e minha família iremos correr na Maratona da Disney em 2012 e levarei meu filho de 11 anos para participar…" 

O GAROTO INDIANO

Nascido e criado em uma favela da cidade de Bhubaneswar, a capital da província de Orissa na India. O pai de Buddhia Sing pedia esmolas e a mãe era lavadora de pratos. Quando seu pai morreu, a mãe, sem condições de criar os quatro filhos, permitiu que ele fosse "adotado" por Biranchi Das. 

A corrida entrou na vida de Buddhia aos 3 anos, como parte do treinamento de judô na academia de seu pai adotivo, na qual também era o treinador. Numa manhã, Sing ofendeu Das com palavras de baixo calão e como castigo Das ordenou que o menino ficasse correndo no quintal. Ele saiu para uns compromissos e só retornou no fim de tarde, quando viu no quintal o garoto ainda lá correndo, há mais de cinco horas.

Das decidiu aproveitar o talento de Sing e planejou que ele percorresse a distância entre as cidades de Puri e Bhubaneshwar para divulgar sua academia – ao todo 70 km. O treinador foi de bicicleta ao lado do menino, então com 5 anos, que conseguiu correr por 65 km, até parar esgotado, depois de 7 horas. Nos relatos dizem que ele tomou pouca água e comeu alguns biscoitos. O feito foi registrado na versão indiana do Guinness. Sing fez ainda outras "maratonas", até que as autoridades não mais autorizaram essa promoção do treinador, que alguns anos depois foi morto por assaltantes.

 

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3 Comments on “Aos 8 anos, a primeira maratona de Zezinho

  1. Nessas horas que pensamos somos tão pouco. Poxa um menino de 8 anos correr uma maratona e ainda mais se satisfazendo com coca-cola, milho e cachorro quente, coisas tão simples de criança mesmo. Já não se criam crianças como as de antigamente…

    Abração

  2. ola!ja tinha visto essa historia do zezinho, mas n cheguei a ler tudo ,fiquei emocionado pq na epoca eu n pensava em corrida derepente, 1 ano depois comecei a me dedicar tb, fiz a minha primeira,42km, do rio, niteroi c 3h19m gracas adeus cheguei inteiro no finall pooxa!….ainda bem! n tinha conhecimento do zezinho, ainda. qd eu ia correr nao via a hora de correr c uma camizeta de patrocinadores,era muito legal!corri..corri,e ainda n tinha conhecimento do zezinho;pasados esses 27anos, ai eu pergunto:sera q o ze ainda ta correndo!..fiquei feliz pq ele retornou, assim como eu tb tinha dado uma parada so agora dp de 20anos tornei a voltar ,junto com o ze!..comecei este ano 2011, ja fiz 4 corridas imclusive to apaixonado por corrida de montanhas, e ai,zezinho q encarar,e muito gostoso!..fico feliz por saber da sua historia desse tempo: seu pai e cruelll! mas foi p uma boa razao, das maratonas e sua saude ,parabens! fica c deus vc e sua familia! boa sorte la na dysnei.abrcs, a todos e bons treinos !.. wilson de carapicuiba sp,me convidem qd estiver corridas de vcs! ate,la!..

  3. meu amigo Zé de um grande coração,creio que neste dia ele esteve nos teus pés pelo coraçaõ de amigo que vc sempre teve pois esta história com H é de tirar o chapél mesmo fico feliz or vc retornar as corridas força precisar estou aqui um forte abraço meu amigo muito lindo e forte mesmo.

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