Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (112)

Uma meia na cidade mais populosa do mundo: Mumbai

Professora de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), esta simpática recifense acaba de passar onze meses na Índia, onde fez pós-doutorado na área de planejamento em saúde mental, a convite da ONG Sangath, entidade baseada na cidade de Porvorim – em Goa, o menor estado da Índia, localizado na costa ocidental do país – que atua na área de saúde mental comunitária.

Durante este quase um ano vivendo na Índia, Roberta teve que trocar suas corridas matinais no calçadão da Praia de Boa Viagem, em Recife, onde mora, pelas ruas apinhadas de indianos, além de vacas e cachorros – estes seu único grande problema, o que a levou a correr com pedras na mão nos primeiros meses, para defender-se. Confira a seguir o relato exclusivo que Roberta escreveu para a Contra-Relógio sobre sua participação na Meia-Maratona de Mumbai, prova que faz parte da maratona desta cidade que é o centro financeiro e cultural da Índia. Capital do estado de Maharashtra e com uma população de 13,4 milhões de habitantes, Mumbai (ex-Bombaim) é a cidade mais populosa do mundo (no entanto, considerando toda a região metropolitana, fica em quinto lugar mundial).

35 mil participantes! A Maratona de Mumbai foi o primeiro grande evento promovido na cidade após os atentados terroristas do dia 26 de novembro de 2008, que mataram 172 pessoas e sitiaram a cidade por quatro dias. As ruas estavam repletas de policiais, inclusive portando metralhadoras dentro de bunkers montados em todo o percurso. Além da segurança, predominou o nacionalismo expresso nos gritos de guerra e nas bandeiras indianas carregadas ou pintadas nos rostos de inúmeros corredores e espectadores. Oficialmente chamada de Standard Chartered Mumbai Marathon, a prova divide-se em cinco eventos: maratona, meia, corrida de idosos, corrida de cadeirantes e caminhada, num total de 35.450 participantes.

Eu corri a meia-maratona, que começou às 6h45, horário perfeito para provas de longa distância. Na Índia não tem Rede Globo definindo horário de evento esportivo e impondo o começo das provas para às 9h30, quando começa o Esporte Espetacular. Às 9h30, aliás, eu já tinha concluído a prova. Meia hora depois, os primeiros corredores de elite da maratona, que largaram às 7h40, cruzavam a linha de chegada. O vencedor foi o queniano Kenneth Mugara, com 2h11. No feminino, vitória da etíope Haille Kebebush, com 2h34.

A concentração antes da prova foi no parque Azad Maidan, com a largada em frente ao terminal ferroviário Victoria Terminus, a cerca de 500 metros do parque. Os corredores só foram autorizados a sair do parque e se dirigir à largada quando a prova já tinha começado. Somente quando lá cheguei foi que percebi que a prova já tinha começado, pois o cronômetro digital já marcava mais de seis minutos decorridos de prova! Foi difícil acreditar no que estava acontecendo, mas na Índia tudo é possível!

O percurso da meia inclui apenas quatro grandes avenidas de Mumbai: DN Road, Veer Road, Marina Drive e Peddar Road. A melhor parte é na Marina Drive, uma avenida que margeia uma enseada no mar Arábico, com prédios muito charmosos em estilo art-deco. O pior trecho é na Peddar Road, com uma subida que não tinha fim. Havia postos de água a cada quilômetro, além de isotônico entre os quilômetros 10 e 11. Porém, não havia banheiros para os corredores ao longo do percurso, o que, para quem faz uma hidratação exagerada, é um grande problema.

Ao cruzar a linha de chegada, eu só queria receber minha medalha e curtir o clima típico de final de provas de longa distância. Mas, não pude fazer nem uma coisa, nem outra. Afinal, só os corredores da maratona recebiam medalha e, além disso, tinha tantos curiosos não-corredores engarrafando a chegada, que era difícil ver um corredor suado e extasiado. Apesar disso, eu estava orgulhosa do meu feito, pois completei a meia maratona em 2h26 sem ter realizado um único treino adequado para esta distância nos últimos dez meses. Na Índia, os cachorros de rua e o trânsito transformam qualquer treino ao ar livre em atividade de alto risco.

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