19 de maio de 2024

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Releitura Tomaz Lourenço 26 de novembro de 2017 (1) (117)

Em 12 edições, os 24 anos da revista

Antes de abordarmos as primeiras matérias que saíram na CR, entre outubro de 1993 e setembro de 1995, é fundamental posicionar o surgimento da revista no ambiente de corrida daquela época. Não só eram pouquíssimas as provas, como quase todas absolutamente desorganizadas, como se pode ver nesta pequena descrição: nada de banheiros (a não ser que houvesse um ginásio ou algo parecido por perto); largadas quase sempre atrasadas; trânsito não ou pouco controlado; sem água no percurso; idem para atendimento médico, inclusive no final; chegadas tumultuadas com filas antes (isso mesmo!) do pórtico. Por outro lado, premiações em dinheiro no geral eram comuns e até nas faixas etárias. Em relação aos participantes, predominavam os de baixa renda.
Como fica claro, os corredores eram pouco respeitados e absolutamente desvalorizados, não havendo uma publicação sequer sobre o esporte. Então, este jornalista e corredor tomou a iniciativa de lançar uma revista em papel couchê, a cores, exclusivamente para assinantes. Foi feita uma divulgação, por folheto, para milhares de endereços recebidos de alguns dos poucos organizadores da época, que se conscientizaram sobre a importância da iniciativa, e o resultado foi que antes da primeira edição sair, em outubro de 1993, a CR já tinha algumas centenas de assinantes.
Poucos acreditavam que a CR vingaria, em função do pequeno público de então, composto por pessoas simples, e pelo igualmente limitado número de provas, bastante rústicas. Ficou na lembrança a frase de um corredor empresário, que ao saber do iminente lançamento da Contra-Relógio, foi categórico: "Duvido que dê certo!". Mas também muitos deram uma força, mesmo alertando para as dificuldades que teria pela frente.

OBJETIVOS. Conforme o editorial da primeira edição, intitulado "Vamos largar juntos!", a revista surgia para informar, conscientizar, ajudar a melhor organizar as provas e valorizar seus participantes. Ou seja, assumimos mesmo que iríamos defender os interesses dos corredores e dar às corridas de rua outro status. Para divulgar a revista, o editor e esposa iam todos os fins de semana em corridas, montavam sua mesa para fazer assinaturas e vender a publicação avulsa, prática que se manteve durante vários anos.
O principal colaborador desde o início e por muito tempo foi o baiano Ayrton Ferreira, responsável por planilhas de treinamento que fizeram enorme sucesso, especialmente porque a maioria dos corredores não tinha qualquer orientação; poucos eram os treinadores e praticamente nada de equipes existiam. Também merece destaque a ajuda do fotógrafo Tião Moreira, não apenas fornecendo material para ilustrar as matérias, como passando informações e contatos, enfim o outro "braço direito" do editor.
Os interessados em assinar mandavam cheque pelos Correios e para estimulá-los a CR concedia, a cada um, número para o sorteio de um pacote para a Maratona de Nova York, acertado com a Chamonix Turismo, em troca de anúncios na revista.
Já na segunda edição publicávamos um guia de tênis, com dezenas de modelos de 11 marcas, e recebíamos a primeira contribuição do endocrinologista Marino Cattalini. Na revista de dezembro, as informações para a São Silvestre e uma cobertura especial da Maratona de Nova York. Começa nesse mês a seção "Notícias da CBAt", reforçando a comunicação da CR sobre os eventos de pista e campo.
Na de janeiro, capa para Ronaldo da Costa, 7º colocado na São Silvestre, prova que já passa a ser dominada por quenianos e etíopes, em chegada tumultuada por falha da organização. Carmem de Oliveira, nossa principal fundista, termina em segundo lugar. Dentro de sua linha editorial de prestigiar os corredores, a revista publica a listagem completa (371 mulheres e 4.915 homens). Nessa edição, o primeiro anúncio pra valer, da Nutri Sport, na contracapa.

RANKING. Em fevereiro 94, uma grande novidade: a publicação de um ranking de maratonistas, elaborado pelo assinante André Vazquez, com base nos resultados das 4 provas com percurso aferido de 1993, ou seja, Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Blumenau. A listagem era por tempo (sem classificação por faixa etária), compreendendo 164 mulheres (lideradas por Arlete Adão, com 2:43:57) e 811 homens (entre eles este editor, com 3:07:39) até 3h35; no mês seguinte saíram os demais, assim como em abril, totalizando 2.205. Detalhe: o último com o tempo de 5h10; ou seja, os maratonistas da época eram muito bem preparados.
Em todas as edições, sempre a cobertura de nossas principais provas e também algumas do exterior, com a publicação dos pódios geral e por idade. Em março, outra inovação marcante: a avaliação de provas (com polegares para cima e para baixo), que incomodava muitos organizadores. Aqui o objetivo não era a crítica em si, mas alertar para as falhas e indicar soluções, assim como aplaudir os acertos.
Também, desde o começo, uma seção com calendário das corridas do mês e dos seguintes, lembrando que a CR era a única fonte de informação da época, indicando o telefone dos eventos para os interessados se inscreverem. A internet ainda demoraria alguns anos para se popularizar.
Destaque em maio 94 para a inserção do anúncio da 2ª Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, que nasceu, portanto, junto com a revista, e que se tornaria um dos maiores sucessos entre as corridas brasileiras, e por isso mesmo muito copiada. A CR seguia com a postura de publicar resultados completos das maratonas oficiais. Na edição de outubro 94, a primeira publicidade de uma marca de tênis: Asics. Anúncios de corridas são predominantes.
Em janeiro 95, Ayrton Ferreira começa sua série "Memória", sobre as corrida de rua, abordando 25 anos: 1970/94. Na edição de fevereiro, a cobertura especial da São Silvestre, com a vitória de Ronaldo da Costa, após 9 anos sem um brasileiro no lugar mais alto do pódio. O Ranking de Maratonistas é publicado pela segunda vez, agora com divisão por faixas etárias, mas sem tempos-limite para ingresso.

POSTURA OUSADA. A revista ajuda na organização da Maratona de Ribeirão Pires, em março, com 525 concluintes masculinos, mas apenas 21 mulheres, o que era comum naqueles anos. No editorial, uma postura ousada, defendendo que as provas passassem a cobrar inscrição (poucas faziam isso), para que houvesse maior responsabilidade dos organizadores, que seguiam na linha "nada cobro, portanto, não tenho obrigações".
Nesse sentido, a CR continuava sua luta pela melhora das corridas, fazendo críticas por vezes duras, quando as falhas eram muito grosseiras. Neste campo, destaque absoluto para a Corpore, na capital paulista, que realizava provas excelentes e era efetivamente uma referência. Não é demais citar que mesmo a São Silvestre pouco oferecia aos participantes, sendo caótica a entrega dos números, nada de banheiros na largada etc. Os resultados da SS 94 foram publicados na íntegra, em encarte, tendo 491 nomes no feminino e 6.172 no masculino. Era nossa forma de prestigiar os corredores, que passavam a ter uma lembrança de suas performances.
A revista também procurava apresentar as novidades técnicas no mundo da corrida, como foi o caso da notícia, em julho, sobre o uso de chip pela primeira vez na Maratona de Roterdã 95. E na edição de setembro saía o anúncio da Maratona de São Paulo, promovida pela prefeitura no dia 8 de outubro. A cobertura dela e os próximos dois anos da CR você verá na edição de novembro.

Principais colaboradores do período
Ayrton Ferreira – treinamento e história
Tião Moreira – fotografia e suporte
Marino Cattalini – nutrição e saúde
Rubens Rodrigues – ortopedia e lesões
Julio Lima Verde – organização de prova
Luiz Carlos Moraes – preparação física
Derrick Marcus – marcha atlética e notícias do exterior
Patrícia Bertolucci – nutrição
Henrique Viana – treinamento e medicina esportiva

Campeões das corridas mais importantes no período
Corrida de São Silvestre 93: melhores BR – Ronaldo da Costa (7º) e Carmem de Oliveira (2ª)
Maratona de Brasília 94: Luiz Carlos da Silva (2:22:07); Solange Cordeiro (2:56:20)
Maratona de Porto Alegre 94: Luiz Carlos da Silva (2:12:29); Cleuza Maria Irineu (2:43:31)
Corrida da Usina Ester (14 km) 94: Adalberto Garcia (40:48); Roseli Machado (47:51)
Maratona de Blumenau 94: Valmir Carvalho (2:17:51); Nercy Freitas da Costa (2:45:28)
Maratona de Buenos Aires 94: Clair Wathier (2:14:02); Euseli Assis Batista (2:47:57)
Meia da Independência (SP) 94: Delmir dos Santos (1:04:46); Rizoneide Wanderley (1:15:58)
Corrida de São Silvestre 94: Ronaldo da Costa (44:11); Silvana Pereira (melhor BR – 6ª)
Maratona de Brasília 95: Luiz Carlos da Silva (2h22); Auxiliadora Venâncio (2h57)
Maratona de Porto Alegre 95: João Batista Pacau (2:17:35); Arlete Adão (2:43:33)
Maratona do Mundial de Atletismo (Suécia) 95: Luiz Antonio dos Santos (3º com 2:12:49)
Maratona de Blumenau 95: Diamantino dos Santos (2:15:18); Geny Mascarello (2:48:32)
10 Km Tribuna FM de Santos 95: Ronaldo da Costa (27:56) e Roseli Machado (32:12)

 

A razão do nome

Quando pensei em lançar a revista, naturalmente que o nome logo foi uma preocupação. Não queria ficar no óbvio, como "Corrida", "Linha de Chegada", "Corra!" etc, e muito menos colocar um nome em inglês. Então, vendo um foto de largada de uma prova da Corpore no Parque do Ibirapuera, reparei que quase todos que estavam à frente tinham uma mão em cima do relógio cronômetro, para acioná-lo assim que fosse dado o sinal.
Ou seja, estavam ali para brigar contra o relógio, não importando muito os outros participantes, a não ser para os corredores de elite. E naquela época a maioria corria muito seriamente, sendo raros os que entravam no evento "apenas para completar", como acontece agora. Este exemplo mostra bem a realidade dos anos 90: em uma prova de 10 km, após 1 hora, a organização já começava os preparativos para desmonte de pórtico de chegada, já que eram pouquíssimos os que completavam acima desse tempo, exatamente o contrário de atualmente.
De qualquer forma, muita gente creditou o nome Contra-Relógio ao meu passado de ciclista, em função de uma prova com esse nome no ciclismo, mas não teve nada a ver mesmo.

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One Comment on “Em 12 edições, os 24 anos da revista

  1. Parabens pelo trabalho de vcs!Fui um dos primeiros a comprar!Aliás tenho varias revistas da epoca gostaria de saber se voces teem todas as edicoes desde a primeira!Fui corredor e gosto de colecionar a revista!

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