19 de maio de 2024

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Releitura Redação 11 de dezembro de 2022 (0) (1404)

É melhor ser gordinho corredor do que magrinho sedentário

POR LUIZ CARLOS DE MORAES | NOTÍCIAS DO CORPO | MAIO 2012

Sem dúvida que fazer dieta ajuda a emagrecer, mas melhor ainda é começar a correr e modificar os hábitos alimentares visando a
perda de peso.

Sabemos que cada um tem um potencial para fazer determinado tipo de exercício e/ou esporte e isso está relacionado com o biótipo. É uma das razões que explica os corredores fundistas, como os quenianos, ganharem quase todas as provas de longa duração, exatamente porque são os chamados “ectomorfo”: magros, ossatura fina e pernas mais longas em relação ao tronco, que facilita o deslocamento horizontal. Já os jogadores de vôlei são mais corpulentos e chamados de mesomorfos. Os endomorfos, além de terem também ossatura mais larga, concentram maior volume de gordura na região da cintura, quadril e abdome, e têm seu espaço nos esportes de luta, onde a força e a dificuldade de deslocamento do centro de gravidade podem fazer toda a diferença.

Logicamente que os endomorfos não simpatizam pelos exercícios aeróbios, exatamente pela dificuldade imposta pelo biótipo, assim como os fundistas de modo geral não simpatizam com a musculação também pela dificuldade corporal, além da cultura esportiva. Entretanto, isso não é uma regra que valha para todo mundo, impedindo, por exemplo, o endomorfo, popularmente e simpaticamente chamados de gordinho, de correr especialmente provas de até 5 km e se darem bem. Se observarmos a chegada de uma prova dessas, certamente vamos assistir muitos “gordinhos” chegando à frente de muitos magrinhos. E mais, chegam “inteiros”, sem expressão de sofrimento.

Porque isso acontece? Em primeiro lugar a força de vontade faz toda a diferença. Será que eles sofrem mais no treinamento? Em princípio pode até ser, mas os gordinhos exatamente por terem facilidade de combinar outras atividades com a corrida como, por exemplo, a musculação e o spinning, acabam aumentando o VO2 máximo, que é um componente fisiológico importante na resistência da corrida assim como o chamado limiar anaeróbio.

O VO2 Máximo, de forma simplificada, se refere à quantidade máxima de oxigênio que o corpo consegue captar, distribuir e absorver. Portanto não basta o corpo ter só a capacidade de captar oxigênio do ar. Precisa distribuir e o corpo absorver fazendo que esse oxigênio chegue ao seu destino, ou seja, os músculos, possibilitando a realização do trabalho. Já o limiar de lactato se refere ao ponto onde esse produto do metabolismo começa a acumular nos músculos, impedindo o seu trabalho normal.

Essa capacidade independe se a pessoa é gordinho ou magrinho. Entre dois corredores de igual nível técnico, chegará na frente quem tiver maior VO2 máximo e limiar de lactato mais elevado. Muitos corredores adeptos “só” aos métodos da corrida, (intervalado, longão, fartleck, cross country) por mais aptidão que possam ter para aumentar o VO2 máximo, só conseguem a custa de muito sacrifício, geralmente correndo o risco de lesões. Quem faz várias atividades diferentes consegue aumentar essa capacidade com menos sacrifício e dessa forma os gordinhos podem utilizar melhor o combustível principal que é o oxigênio.

Não é muito difícil também entender porque o gordinho pode correr bem. Geralmente não são esguios com passadas largas e sim têm uma passada mais curta e econômica, exatamente porque o tipo físico induz a isso, proporcionando economia no movimento e aumentando a eficiência mecânica com um gesto esportivo mais equilibrado. Ele pode não ser muito veloz, mas certamente será mais resistente. É aquele tipo de corredor que começa e termina a corrida na mesma velocidade.

Magreza não é sinal de saúde – Outra questão não verdadeira é associar o gordinho à falta de saúde. Nem sempre isso é verdade, especialmente porque estamos falando de gordinho que faz exercício e também corre. Os marcadores principais de saúde, que são o condicionamento cardiovascular, o colesterol total baixo, o colesterol bom (HDL) alto e o colesterol ruim (LDL) baixo são melhorados em qualquer pessoa que faz exercício físico. O gordinho que estamos falando certamente tem uma saúde melhor do que um magrinho sedentário. Também não é verdade que sejam preguiçosos ou comam demais; não são poucas as pessoas com enorme dificuldade de emagrecer.

Como a tendência desse tipo de corredor será sempre a obesidade, as corridas de 5 e 10 km funcionam como um remédio para a vida toda, assim como outras atividades aeróbias. Na musculação deve seguir métodos com mais repetições, entre 15 e 20, cargas adequadas, poucas séries alternando os segmentos, mas sem descanso, visando sempre um gasto maior de calorias e aumento da resistência. O circuito é um dos bons métodos para esse caso.

Como citei, o gordinho é o tipo que suporta melhor a musculação, que acaba lhe proporcionando uma vantagem na corrida. No nosso esporte não faltam histórias bem sucedidas de obesos que conseguiram emagrecer graças à corrida, mas não podem descuidar porque o organismo deles fica aguardando qualquer descuido para engordar tudo de novo. Vale lembrar que a massa muscular adquirida em treinamento, no momento de uma parada não se transforma em gordura porque são tecidos diferentes. Eles atrofiam e o percentual de gordura aumenta rapidamente por conta da tendência desse biótipo.

Costumo citar que entre todos os hábitos de vida saudável o exercício é o que leva a todos os outros. Quem começa dieta para emagrecer dificilmente sente vontade de fazer exercício. Já quem inicia pelo exercício começa a emagrecer e naturalmente sente vontade de fazer um controle alimentar para melhorar o rendimento do exercício que ele está gostando de fazer, especialmente se for a corrida. O fato de um sujeito estar fazendo exercício já há algum tempo, correndo e ainda estar meio gordinho não significa que nada deu certo. Portanto, ao ver um corredor gordinho treinando não o subestime, não duvide e nem ria dele porque ele pode chegar na sua frente na próxima prova.

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