21 de setembro de 2024

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Performance e Saúde admin 10 de março de 2015 (0) (144)

Melhorando a corrida, com a ajuda do frio

A temperatura interna do organismo é um importante determinante da performance em exercício de longa duração. Nosso corpo é relativamente ineficiente no processo de transformar a energia vinda dos alimentos em energia mecânica; grande parte da energia gasta no processo de contração muscular é simplesmente "perdida" na forma de calor. Enquanto a temperatura corporal normal é de cerca de 37° C, ela se aproxima ou até passa da marca dos 40° ao final de uma prova. Como cada organismo possui um limite crítico de elevação de temperatura que considera tolerável, é fundamental limitar o aumento da temperatura corporal durante uma prova. A medida mais simples para isso, e que o organismo usa com precisão, é limitar a velocidade de corrida, que determina a taxa metabólica e a produção de calor.
Uma vez que correr mais rápido inevitavelmente aumenta a taxa de ganho de temperatura, uma das formas encontradas pelos cientistas do exercício para aumentar o desempenho esportivo consiste em diminuir a temperatura interna antes do começo do exercício. Assim, o organismo possui uma "janela" maior para ganho de temperatura, e poderá se exercitar a uma taxa metabólica de velocidade mais alta por mais tempo, até que atinja o seu teto.
Uma destas estratégias consiste em permanecer em tanques de água com temperatura moderada a fria (10 a 20° C), por períodos variando entre 30 a 60 minutos, sendo os períodos mais longos para as temperaturas mais altas. Este método é muito popular entre atletas que realizam repetidas provas ao longo do dia, como uma forma de aumentar a velocidade da recuperação. Utilizada antes do exercício, a imersão em água fria diminui a temperatura da pele e, por consequência, possibilita uma maior capacidade de armazenamento de calor durante o exercício, com diminuição de taxa de sudorese (o organismo não precisa suar, pois a pele já está na temperatura adequada para resfriar o sangue).

TOALHAS GELADAS – As técnicas de imersão, no entanto, apresentam um problema: resfriar demais a musculatura que será utilizada no exercício diminui o fluxo sanguíneo e a atividade enzimática local, diminuindo a performance. Pensando nisso, foram desenvolvidos protocolos de resfriamento local, baseados na utilização de gelo enrolado em toalhas úmidas, ou somente a aplicação de toalhas geladas em áreas do corpo não utilizadas durante o exercício (braços e tronco no caso da corrida, por exemplo).
Uma estratégia mais promissora para resfriamento pré-prova com finalidade de aumento de performance desenvolvida recentemente é a ingestão de "ice slurry" ou "ice slushie", que nada mais é do que uma solução de gelo raspado, de preferência com algum sabor, cuja textura seja entre o gelo e o líquido, com temperaturas próximas ao zero grau. É como se fosse um smoothie de frutas, mas sem as frutas.
O mecanismo de funcionamento proposto para a melhora de performance é o seguinte: a ingesta de gelo diminui a temperatura interna, diminuindo também a sensação de estresse térmico durante o exercício e possibilitando que se atinjam velocidades mais altas de corrida sem que o organismo ultrapasse sua temperatura "limite" (gráfico).

RASPADINHA DE GELO – Um estudo publicado em março de 2013 no Journal of Sports Sciences testou a ingestão de ice slushies – que aqui chamaremos de "raspadinha de gelo", na ausência de um nome mais comercial – durante um triatlo, da seguinte forma: a natação e o ciclismo foram completados em ritmo padrão, e nos 10 km de corrida subsequentes os participantes deveriam tentar fazer seu melhor tempo. Durante o ciclismo, eles receberam cerca de 700 g de raspadinha de gelo ou a dose equivalente em líquidos à temperatura ambiente. Com a raspadinha, o tempo nos 10 km caiu de 44.6 para 43.4 minutos, uma diferença muito significativa de performance.
Pode-se dizer, no entanto, que comparar a ingesta de gelo com a de líquidos em temperatura ambiente não é uma comparação justa, pois quando se ingerem líquidos eles normalmente também são gelados. Outros estudos um pouco mais antigos já testaram esta hipótese, e a ingestão de gelo raspado parece sobressair diante de qualquer outro tipo de estratégia de pré-resfriamento. Um ponto interessante é que em alguns estudos esta raspadinha de gelo é feita a partir de bebidas esportivas comuns congeladas e batidas no liquidificador. É necessário, claro, transportar o gelo batido até o local da prova e fazer a ingestão poucos minutos antes do seu início, caso contrário os efeitos se perdem.
Contudo, é sempre importante lembrar que não se deve testar qualquer tipo de estratégia nutricional no dia de um evento importante. Algumas pessoas podem sentir desconforto estomacal, por exemplo, ao consumirem as raspadinhas de gelo antes de competir. O ideal é testar uma meia-dose, por exemplo, antes de um treino mais intenso. Se o resultado parecer positivo, experimente uma dose inteira, para somente, então, com pelo menos duas ou três experiências prévias, experimentar o pré-resfriamento antes de uma prova. A maioria dos estudos na área utiliza dosagens entre 10-15 g de raspadinha de gelo para cada quilo corporal da pessoa, o equivalente a 700 g para pessoas de 70 kg. É uma dose alta de líquidos – em última instância, de qualquer forma – para ser ingerida antes de uma prova. Portanto, mais um motivo para ser cauteloso e experimentar inicialmente com dosagens mais baixas.

 

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