Performance e Saúde admin 4 de outubro de 2010 (1) (168)

Diabetes dificulta, mas não impede de correr

Em julho de 2007 Alessandro começou a emagrecer muito rápido. Desconfiado foi procurar um médico e o exame detectou diabetes do tipo 1. "Fiquei chateado e comentando com um grande amigo e meu chefe, Claudio Ramires, aliás o incentivador das minhas corridas, ele me falou a seguinte frase, que me marcou muito: Com o diabetes você terá uma alimentação de atleta; porque não aproveita para se tornar um?"
No outro dia Alessandro resolveu levar a dica do chefe a sério e foi correr. Para seguir um treinamento resolveu assinar a CR para acompanhar as planilhas. Para ajudar, montou o que ele chama de tripé: um médico, um nutricionista e um educador físico. "Os três profissionais são fundamentais para que o diabético tenha um treinamento sem risco" Um ano depois de fazer a Rústica, completou a Maratona de Porto Alegre.
"Mas eu ainda tinha muitas dúvidas sobre a quantidade de insulina que deveria tomar durante a corrida, a quantidade de carboidrato em gel que deveria ingerir, e em qual momento deveria medir a glicemia durante a prova." Como o seu foco eram distâncias cada vez maiores, resolveu buscar na internet respostas para os seus questionamentos.
"Os médicos ajudam muito pouco, pois não há uma receita para estas questões, já que cada diabético reage diferente. Trocando informações com outros diabéticos do grupo de corredores Diabetes & Desportes e testando as dicas durante os treinos, descobri o que é o melhor para mim. Tive que aprender como o meu corpo reage durante a corrida. Autoconhecimento é chave para o sucesso", conta.
O Diabetes & Desportes é um site voltado para o diabético praticante de exercícios físicos que tem como objetivo a discussão e disseminação de informações sobre o diabetes e a atividade física. "Existe uma lista de discussão onde se pode trocar informações e experiências de cada um nas provas," comenta Alessandro.

Controle o tempo todo
A grande questão do diabético é acertar a quantidade e tipo de alimentação e a quantidade de insulina antes, durante e depois da prova. Alessandro se aprimorou tanto que já é capaz de saber que tipo de alimento deve ingerir conforme o seu índice glicêmico (existe uma tabela de níveis). "Doce para mim não dura nada". Referindo-se que os doces lhe dão um pico glicêmico (níveis altos de glicose no sangue), mas que logo fica hipoglicêmico (baixa acentuada dos níveis de glicose no sangue), necessitando comer novamente. "Preciso fazer um controle minucioso dos níveis glicêmicos, já que sou insulino-dependente. Em função disso dou preferência aos carboidratos complexos, principalmente durante as provas, ricos em amido (batata, feijão, arroz integral…), uma vez que o corpo demora mais para transformá-los em glicose, o que faz com que eu aproveite melhor a energia deles."
Alessandro treina seis dias da semana como uma pessoa qualquer. A diferença é que sempre tem por perto o seu kit composto por duas canetas para aplicação de insulina (a basal e a de ação rápida), agulhas descartáveis, lancetador (que faz o furinho no dedo), glicosímetro (medidor de glicose), fitas (onde vai a gotinha de sangue do dedo) e um carboidrato em gel. "O monitoramento contínuo da glicemia é muito importante, antes, durante e depois dos treinamentos e provas. A hipoglicemia pode me fazer abandonar uma prova e a hiperglicemia pode me desidratar, prejudicando o meu rendimento."

Maratonas e ultras
Com disciplina e autoconhecimento Alemão recentemente foi habilitado a entrar para o seleto grupo Marathon Maniacs por ter participado em 14 dias do Desafio 12 Horas em Esteira e a Ultramaratona Rio 24 Horas Fuzileiros Navais.
Aos diabéticos que querem começar uma atividade física, ele recomenda: "Ache um bom médico, mas se ele disser que só pode caminhar, troque de médico. Diabético não é um incapacitado, pode fazer de tudo desde que tenha cuidado. Cito as palavras de Marcelo Bellon, que já fez 10 Ironmans, algumas ultra e maratonas: Adapta o diabetes a tua vida e não a vida ao diabetes."
E como prova disso, dia 1º de janeiro ele e mais um grupo de diabéticos foram escalar o Ojo del Salado, uma montanha com 6.893 metros de altitude, considerado o vulcão mais alto do mundo, localizado na fronteira entre Argentina e Chile. A expedição foi composta por membros do projeto Bandera Al Cielo, que tem como objetivo demonstrar que pessoas com diabetes podem realizar qualquer empreitada. É formado por brasileiros, argentinos, uruguaios e chilenos que participam de expedições e provas por toda a América Latina.

Se você é diabético, está esperando o que para se juntar a essa turma?

Alessandro já participou:
• Maratona de Porto Alegre 2008 (3:29:20)
• Maratona de Punta del Este 2009 (3:30:20)
• Cruce de Los Andes 2009 (5:40:00)
• K42 Adventure Marathon etapa Bombinhas (7:01:00)
• Desafio 12 horas em Esteira (95 km)
• Ultramaratona Rio 24 H Fuzileiros Navais (80 km)

Sobre diabetes e atividades físicas:
www.diabetesedesportes.com.br,
lista de discussão: info@diabetesedesportes.com.br

Bandera Al Cielo: Com diabetes se puede!
www.diabeportes.com.ar

 

 

Para entender melhor

Diabetes Mellitus é uma doença no qual o organismo não consegue processar a glicose, fonte principal de energia do corpo. No diabetes a insulina é insuficiente para transportar a glicose para dentro das células, por estas não responderem ou por não haver produção suficiente. São de dois tipos.

Tipo 1

É uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico destrói as células produtoras de insulina. Surge quando o organismo deixa de produzir insulina, o que leva à necessidade de aplicação diária da substância para se manter saudável. Sem insulina, a glicose não consegue chegar até as células, que precisam dela para queimar e transformá-la em energia. Por isso é conhecido também como diabetes insulino-dependente. No estágio inicial, algumas pessoas podem não necessitar de insulina imediatamente, embora posteriormente isso será inevitável.
Principais sintomas: vontade de urinar diversas vezes ao dia; fome e sede freqüentes; perda de peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor; náusea e vômito.

Tipo 2
A menos severa e a mais comum principalmente depois dos 40 anos, é também conhecida como não-insulino-dependente ou Diabetes Tardio. É hereditário, sendo a obesidade um dos fatores que pode desencadear o processo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Por muitas razões suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sangüínea. O diabetes tipo 2 pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Em alguns casos, necessita ainda de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina.
Principais sintomas: infecções freqüentes; alteração visual (visão embaçada); dificuldade na cicatrização de feridas; formigamento nos pés e furunculose.
A importância do diagnóstico precoce
Estima-se que metade dos pacientes diabéticos não sabe que está doente. Em países em desenvolvimento, esse índice chega a 80%. Essas pessoas evoluem longos anos sem nenhum sintoma que possa revelar a doença. Quando passam a apresentar sintomas, eles são muitas vezes tão vagos e inespecíficos que são confundidos com cansaço e estresse. Somente quando o paciente passa a urinar constantemente, beber muita água e a emagrecer é que as pessoas procuram atendimento médico. Esse período de doença, assintomático, pode durar vários anos preciosos e pode definir a evolução da doença para um curso benigno e sem complicações, ou para uma patologia grave e debilitante, com complicações vasculares terríveis.

Valores de glicemia que podem atrapalhar
Fazer um diagnóstico baseado em um valor laboratorial é outro grande problema do diabetes, pois, muitas vezes, um diagnóstico deixa de ser feito durante muito tempo.
Um exemplo disso é o valor de normalidade da glicemia de jejum. Quando dizemos que glicemias de jejum normais estão entre 70 e 100mg/dL, isso não significa que não tenhamos diabéticos com glicemia de jejum de 95mg/dL ou pessoas normais com glicemia de jejum de 110mg/dL. Daí que esses valores devem ser analisados em conjunto com outras variáveis, como antecedentes familiares de diabetes, peso corporal, nível de estresse, tempo de jejum, medicamentos utilizados etc.
Outro motivo de confusão são os valores de glicemia que definem o diagnóstico de diabetes como maior ou igual a 126mg/dL. Entretanto, quem poderá dizer que uma pessoa com glicemia de jejum de 125mg/dL não é diabética? Chegamos ao extremo de encontramos pacientes com glicemia de jejum de 80mg/dL que já revelam o diabetes quando submetidos a uma curva glicêmica. Suspeitamos deles ao analisarmos seus antecedentes familiares de diabetes, seu peso corporal e outras alterações laboratoriais sugestivas da doença, como um HDL colesterol baixo e triglicérides elevado.

Memória metabólica – as novas evidências
Há alguns anos, vem sendo confirmadas evidências contundentes de que o excesso de glicose na circulação e nos órgãos dos diabéticos, na fase inicial da doença, pode marcar para sempre a memória de suas células, principalmente aquelas sujeitas às agressões crônicas da hiperglicemia como os rins, retina, coração e membros inferiores. Esse efeito é tão importante na evolução da doença que nos faz acreditar que após um longo período inicial de negligência no controle do açúcar no sangue, muito pouco podemos fazer para prevenir as lesões que incapacitam os pacientes.

Prevenção das lesões celulares
Algumas vezes, não entendíamos o porquê de alguns pacientes diabéticos sofrerem tais conseqüências apesar de estarem relativamente bem compensados e manterem glicemias consideradas normais. Hoje, sabemos que muito provavelmente eles sofrem das conseqüências da memória metabólica de suas células, lesadas no início da doença, através de um descontrole glicêmico prolongado.
As lesões iniciais parecem ser causadas pelos famosos radicais livres produzidos a partir do excesso de açúcar a que essas células foram expostas. Dito dessa forma parece natural pensar no tratamento utilizando-se as vitaminas antioxidantes. Entretanto, já está bem estabelecido que os antioxidantes disponíveis, principalmente os suplementos vitamínicos, não têm nenhum efeito benéfico no tratamento do diabetes.
Uma pesquisa recente e de grande credibilidade demonstrou que o betacaroteno, vitamina A e vitamina E podem aumentar a mortalidade destes pacientes.
As pesquisas estão evoluindo no sentido de encontrarem sustâncias capazes de desligar ou apagar a tal memória metabólica. Para tanto, alguns medicamentos usados para o controle do diabetes e para o tratamento da hipertensão arterial têm se mostrado promissores em reduzir as substâncias que, em última análise, causariam as lesões da memória metabólica. Esta já é uma possibilidade terapêutica ao nosso alcance; entretanto, a única certeza que ainda temos na prevenção desse processo é o diagnóstico precoce do diabetes e o controle metabólico rigoroso no início da doença.
Ellen Simone Paiva – Médica especializada em endocrinologia e nutrologia, e diretora do Citen – Centro Integrado de Terapia Nutricional.

www.citen.com.br / faleconosco@citen.com.br

 

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One Comment on “Diabetes dificulta, mas não impede de correr

  1. Achei de grande importancia a materia, pois tenho uma filha de 11 anos com diabete do tipo 1, as informações irão nos ajudar e muito.
    Gostaria de saber tambem, mais informações sobre o relogio que controla a diabetes, sem precisar a picada no dedinho; Obrigado.

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