Uma maratona plana (somente uma leve subida por volta do km 9) e fria (entre 10 e 16°C neste ano), por avenidas largas e com boa organização. Não estamos falando de Europa ou dos Estados Unidos, mas sim da capital argentina, que teve sua prova no dia 11 de outubro, com recorde de concluintes (8.771 corredores), sendo mais de 10% brasileiros (871 completaram).
Um fato que chamou a atenção era a quantidade de corredores com número de peito que "largaram" a partir do km 21 e, principalmente, do km 30/32, para acompanhar amigos/parentes ou também para usar a prova como treinamento, mas devidamente inscritos (mas não aparecem nos concluintes). Principalmente porque houve uma grande fiscalização da organização contra "pipocas" e também para quem cortava caminho, inclusive com pessoal do staff com tablet tirando fotos. Mas em comparação aos anos anteriores, houve menos tapetes de controle ao longo do percurso, apenas na largada, na metade e na chegada.
Com um site informativo (além de avisos por e-mails constantes para quem está inscrito), uma feira ainda tímida (melhor que as brasileiras, mas inferior a outras internacionais, incluindo Santiago), Buenos Aires tem hoje o melhor custo-benefício para quem pretende correr fora do país (como comparação, era possível trocar o real por 4 pesos no câmbio Blue, das ruas). A entrega dos kits, organizada em muitas filas, é extremamente rápida e eficiente, além da possibilidade de personalizar a camisa (e escolher o tamanho na hora). Outro destaque é o guarda-volumes na prova, dividido em dois locais.
O percurso é outra atração. Praticamente todo plano, com avenidas bem largas (o que evita qualquer tumulto, desde os primeiros quilômetros) e alguns dos pontos turísticos da capital argentina, como Obelisco, Casa Rosada, Plaza de Mayo, Teatro Colón, Estádio La Bombonera (Boca Juniors), Puerto Madero e Reserva Ecológica, entre outros. Apenas a região do porto, entre os km 30 e 35, acaba destoando. A área da chegada, com muitos jardins, serve como confraternização, com os argentinos ficando horas após o término da maratona, conversando, descansando, fazendo piquenique, tomando cerveja, mate ou com a família.
A prova contou com a ajuda do clima neste ano, o que beneficiou todos os participantes, da elite aos amadores. Em um dia nublado, com temperatura entre 10 e 16°C, com um pouco de vento gelado para "resfriar" na primeira metade, foi tudo positivo. A hidratação foi a cada 5 km, porém, nos intervalos, havia postos de isotônico, além de três postos de frutas. Ao contrário de outras corridas fora do Brasil, a água é distribuída em garrafinha, enquanto o isotônico em copo aberto.
O evento deste ano foi classificatório para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, com o percurso aferido pela IAAF. E os argentinos fizeram uma grande festa pelo desempenho de Luis Molina, que marcou 2:15:23, obtendo o índice para a Olimpíada. Quem também se destacou foi a brasileira Rosângela Faria, que terminou na terceira posição, com 2:38:40, marca que hoje também a credenciaria para estar na Olimpíada – ocupa atualmente a terceira posição no ranking nacional, atrás apenas de Adriana Aparecida da Silva e Marily dos Santos.
A vitória foi de africanos: o queniano Jonathan Chesoo (2:12:24) e a etíope Abeba Gebrene (2:30:33).
Dicas para 2016
Planeja correr em Buenos Aires no próximo ano? A prova ocorre no segundo domingo de outubro tradicionalmente, com as inscrições abrindo a partir de janeiro (pelo site www.maratondebuenosaires.org é possível ficar atento às novidades e prazos). Aos assinantes que se preparam para os 42 km portenhos, algumas dicas da Contra-Relógio;
Alugue um apartamento (fica mais em conta que os hotéis e com mais liberdade, até para cozinhar). Pode ser no Centro, na Recoleta ou em Palermo.
A largada ocorre em Belgrano, no cruzamento das avenidas Alcorta e Monroe, mais afastado. O ideal, então, é ir de táxi cedo. Este ano, foi bem tranquilo esse deslocamento. Uma sugestão: usar os aplicativos de celular para chamar o táxi, que garante uma segurança. O Easy Taxi funcionou muito bem em Buenos Aires. Um táxi da Recoleta até a largada custou 90 pesos (R$ 22,50) e pode ser dividido por até quatro pessoas.
Para voltar, pegar táxi na região da chegada é mais complicado, então, caminhe pela rua Monroe (cerca de 1,5 km plano, com vários bares para tomar cerveja no caminho) até o cruzamento com a avenida Cabildo. Vire, então, a direita, mais uma quadra e encontra a estação de metrô da Linha Verde, que passa por Palermo, perto da Recoleta e vai até o Centro, com estação na Avenida Nove de Julho e próximo à Plaza de Mayo. Custa 4,5 pesos (pouco mais de R$ 1).
Para trocar dinheiro, fuja do câmbio oficial. Use o Blue, com muitos locais na rua Florida. Neste ano, o câmbio estava 4 pesos por R$ 1 e 15,5 pesos por US$ 1.Vinho e carne são baratos na Argentina, então, a confraternização está garantida.
Em questão aos voos, o ideal é chegar pelo Aeroparque, mais central e de fácil acesso. Ao descer, há um sistema de ônibus (você compra dentro do aeroporto) que o leva ao Centro por 30 pesos e tem saídas a cada 30 minutos. Se for de táxi, caminhe até o desembarque nacional (não pegue no internacional).
Caso ache uma promoção para Ezeiza, calcule na época o valor do transfer/táxi. Uma opção é olhar os voos da Aerolineas Argentinas, que oferece um ônibus gratuito Ezeiza/Aeroparque/Ezeiza.
Recorde pessoal
Pela terceira vez corri a Maratona de Buenos Aires. Estive em 2012, 2014 e agora. E a prova evoluiu nesse período. Este ano, apenas, talvez devido ao clima mais frio, havia menos gente nas ruas em relação ao ano passado, quando estava mais quente.
Por outro lado, o clima foi perfeito para correr. Desde o início. Um fato que ajuda bastante é a presença de blocos de corredores, uma característica dos argentinos. Não oficiais, mas que acabam se formando por corredores no mesmo ritmo.
Eu tinha 2h59 e 2h54 no percurso argentino. Fui com a meta de correr abaixo do que tinha feito no ano passado. Assim, com a vantagem das avenidas largas e bom espaço, corri no ritmo pretendido desde o início, por volta de 4:00 por km. Há apenas um trecho na região da Reserva Ecológica e de Puerto Madero, onde há vários vaivéns, sendo preciso cuidar um pouco da concentração. No restante, é uma prova excelente para quem quer estrear nos 42 km, correr para se divertir ou buscar uma marca pessoal.
Passei os 21 km (o tapete não estava na meia) em 1:24:14 e fiz os 21,2 km restantes em 1:26:06, fechando a prova com meu melhor tempo em maratonas: 2:50:20, média de 4:02 por km. (André Savazoni)