Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (0) (139)

Franck Guerreiro: Agora, que venha Pequim

Contra-Relógio: Qual foi o fator básico para que você conseguisse ganhar a medalha de ouro na maratona do Pan?
Franck Caldeira: Sem dúvida alguma foram os meus treinamentos específicos para essa competição. Treinei muito e bem. Acho que nunca estive tão bem preparado para uma prova.

Mas o que essa preparação teve de diferente em comparação com outros trabalhos que você já fez visando igualmente corridas de expressão?
Em síntese eu diria que foi um treinamento visando alta performance, o que inclui um trabalho físico e até mental. Como tem acontecido desde a São Silvestre, meu técnico, Dr. Henrique, indica um trabalho de musculação, com baixo peso e muita repetição, e além disso houve uma mudança nos tiros, mais longos.

Que mudanças foram essas?
Em todos esses anos que treino com o Dr. Henrique, geralmente o trabalho de qualidade
incluía tiros curtos (24 x 400 m, por exemplo) e também tiros de 1.000 m, chegando no máximo ao treino de um tiro de 3.000 m, intervalo de 3 minutos, depois outro de 2.000 m (2 min. de intervalo) e finalizando com um de 1.000 m. Desta vez fiz algumas vezes 3 x 5.000 m, um treino que ele realizava há algum tempo atrás com seus atletas, mas que tinha abandonado porque achava que seria melhor distâncias mais curtas, para ganhar velocidade. Constatamos que não se perde ritmo com os mais longos e nos dá muita consistência, muita confiança.

Em função dessa alteração, houve aumento de quilometragem semanal?
Nem tanto, mantivemos os 200 km, em média. A questão não é quantos quilômetros, mas de que forma eles são feitos.

Uma curiosidade que sempre temos é quando que foi realizado o último longo, pra valer. Duas ou três semanas antes?
Nada disso, fiz meu último longo, de 38 km, uma semana antes, já no Rio, para me acostumar com o clima e até com a poluição. Aliás, isso não é novidade, uma vez que o Dr. Henrique costuma mesmo fazer esse planejamento com os outros maratonistas da equipe Pé de Vento. Só “soltei” o treino na semana da prova, já na Vila do Pan, fazendo praticamente apenas trotes e uns tirinhos.

Quando se fica sabendo seu peso, de apenas 49 kg (para seus 1,74 m de altura), parece muito pouco. Isso lhe preocupa ou a seu técnico, no sentido de que possa atrapalhar sua performance?
Estou há muito tempo nesse peso e estou ótimo. Até consultamos uma nutricionista e fizemos avaliação, mas vimos que tenho uma estrutura perfeita para as corridas longas, apenas talvez apenas precisando um maior fortalecimento.

Fortalecimento que você vem fazendo através da musculação, como citou.
Esse trabalho de musculação não é feito sempre, mas apenas quando iniciamos uma preparação específica para uma prova importante (e também no período de base), e que inclui pernas, braços e abdominais. É o mesmo que acontece nos treinamentos de altitude, como fiz em Cochabamba, realizado nas semanas anteriores a uma competição.

Agora vamos falar da prova. Quais eram seus planos, seus objetivos antes da largada?
Em função da minha excelente preparação, estava bastante otimista, achando que conseguiria subir ao pódio, só não sabia em que degrau ficaria. O Vanderlei era uma referência para mim, pois o considerava como o principal adversário na luta pela medalha de ouro. Quando o guatemalteco saiu do pelotão eu não botei muita fé, mesmo porque o Vanderlei também não tomou qualquer iniciativa. E assim foi, só que a distância ia aumentando e eu comecei a me preocupar.

Como e quando aconteceu a decisão de ir buscar o atleta da Guatemala?
Em um momento do percurso ouvi meu técnico dizer que eu deveria fazer minha prova, correr no ritmo que eu estava preparado, e esquecer o grupinho que eu seguia. Então, no km 28 resolvi sair e aos poucos fui diminuindo a diferença.

Você acreditou, desde essa saída, que iria conseguir alcançar e ultrapassar o líder?
Para dizer a verdade, não. Até o km 37 não tinha qualquer certeza, mas no 38, quando viramos para seguir para a chegada e que cruzei com ele, vi que eu estava em bem melhores condições e bem mais rápido. Desde o km 30 estava correndo entre 3:05 e 3:07/km e assim fui até ultrapassá-lo. Então relaxei um pouco e administrei a chegada, com muita festa, a bandeira, os beijinhos.

E bolhas nos pés. Como você, um atleta experiente, entra numa maratona praticamente estreando um tênis?
Pois é, mas não chegaram a atrapalhar muito. É verdade, não se recomenda estrear tênis em corrida, ainda mais em uma maratona, mas ele só chegou para mim alguns dias antes e decidi que iria correr com eles, pois me dou muito bem com esse modelo da Nike. Talvez a chuva e o fato de eu correr sem meias tenham colaborado para o problema.

Durante a maratona o que você tomou?
Apenas água e uma bebida preparada pelo Dr. Henrique, com açúcar de rápida absorção, colocada em alguns pontos. Também tomei um gel de carboidrato no km 27.

De imediato, quais são seus principais objetivos?
Para este ano, as atenções maiores ficam mesmo por conta das provas da Globo, ou seja, a Meia do Rio, a Volta da Pampulha e a São Silvestre. Para 2008, nosso foco será encontrar uma maratona para conseguir um rápido resultado, se possível abaixo de 2h10, provavelmente no mês de abril, com vistas, obviamente, a conseguir índice para Pequim. Alcançada a vaga, aí faremos um trabalho de altíssimo nível, com certeza, para tentar uma medalha na Olimpíada.

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