Uma tenda azul armada no Parque da Cidade, no centro de Brasília, é ponto de encontro de dezenas de corredores nas manhãs de sábado. Debaixo dela, entre uma água gelada, uma fruta ou um biscoito, atletas de todas as idades trocam informações, planejam provas, formam grupos de treinamento, fazem grandes amizades.
Os mais jovens podem não conhecer a sua história, mas não há corredor na capital federal que não reconheça o dono da tenda: o Cordf, Corredores de Rua do Distrito Federal. O clube completa 17 anos de vida e reúne hoje mais de mil associados, consolidando-se como o maior grupo de corredores do centro-oeste e um dos maiores do Brasil.
A trajetória do Cordf confunde-se com a de alguns atletas veteranos de Brasília, muitos ainda nas pistas e nos pódios. Em 1998, os Corredores do Sol formavam uma equipe de treino que se reunia para correr sempre ao meio-dia no Parque da Cidade, principal área verde da cidade. Após participarem juntos da maratona de revezamento em comemoração ao aniversário da capital, no dia 21 de abril daquele ano, o espírito de equipe se consolidou ainda mais e começaram as conversas sobre a fundação de um clube de corredores.
Afinal, a paixão pelo esporte estava em seu início e havia muitas dificuldades para a participação em provas de longa distância em outras capitais, informações sobre treinos, assim como o apoio logístico para viagens em grupo era ainda muito incipiente no país todo. Nascia ali o Cordf, cujo sucesso foi imediato. O primeiro presidente do Cordf foi o Adeilton de Medeiros Cavalcante, que faleceu em 2007, após uma vida dedicada às corridas.
O clube passou a organizar excursões de ônibus para provas importantes, como as maratonas de Blumenau, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, Volta da Pampulha, Volta ao Cristo de Poços de Caldas, 10 Milhas Garoto, São Silvestre, e até a Maratona de Nova York, para onde foram mais de 50 associados em 1999. "Naquela época avião era muito caro e chegamos a fazer excursões com até três ônibus para a Maratona de Blumenau e a Meia do Rio", relata o atual presidente Ruiter Roberto Silva.
À medida que o espírito de equipe se intensificava, crescia a importância do Cordf, que logo se tornou referência em corrida de rua. Waldir Santos, um de seus fundadores e hoje vice-presidente, relembra que cada nova prova era uma festa para o grupo. "Desde a coleta dos nomes dos interessados até a chegada ao hotel, a separação dos quartos, os cálculos de tempo, as informações do clima na hora da prova, tudo era motivo para celebração", conta o veterano que tem mais de 750 corridas contabilizadas.
Hoje, com as facilidades do avião, o Cordf tem sido representado por seus atletas mundo afora em provas como a Rock'n Roll Marathon, de Las Vegas; e nas Maratonas de Nova York, Boston, Paris, Medoc, Berlim e Jerusalém, entre outras. Mas a prova mais fantástica, segundo Ruiter, foi a Midnight Sun Marathon (Maratona do Sol da Meia Noite), em Tromso, no norte da Noruega, onde o Cordf participou com 20 corredores. "Além de correr próximo ao Polo Norte, ainda interagimos com a cultura e os costumes do povo nórdico, sem contar que provamos aquele saboroso bacalhau", conta.
APOIO AO ASSOCIADO. A atuação do Cordf, no entanto, vai além de levar pessoal da equipe para provas e dar suporte em treinos e provas. Com CNPJ, o clube é membro fundador da Federação de Atletismo do Distrito Federal (FatDF) e representante dos corredores junto à Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), tanto para corrida de rua quanto de pista. Também fornecem documentos e fazem a federalização para os interessados em usufruir dos benefícios da Lei do Atleta.
Graças à sua importância e tamanho, tornou-se um grande negociador de preços de inscrições para os associados. "O Cordf repassa quase integralmente os descontos obtidos e ainda faz as inscrições, busca os kits e os entrega em nossa tenda. Além disso, o conceito da tenda, tanto no Parque da Cidade quanto na arena das corridas, é que ela seja um local onde os associados encontram abrigo, comida, água e pessoas de confiança, sempre com uma convivência saudável e amistosa. Devido ao número de associados e à sua diversidade, tem sempre alguém com experiências e relatos que interessam aos demais, principalmente no que diz respeito às melhores corridas no DF, no Brasil e no exterior. Também encomendamos e vendemos, a preços de custo, os uniformes com tecidos tecnológicos, além de realizarmos ações sociais com crianças carentes", informa o presidente.
Ruiter não vê qualquer concorrência entre o Cordf e as atuais assessorias de corrida. Pelo contrário. Ele considera que são complementares, com papéis bem definidos. "O atleta pode e deve escolher sua assessoria de preferência, que vai lhe oferecer uma planilha com os treinamentos adequados, um nutricionista que lhe prescreva a alimentação ideal para sua condição atlética, mas para representá-lo junto aos organizadores das provas está o Cordf. Por isso, cada vez mais as equipes inscritas nos eventos esportivos levam o nome da assessoria e do Cordf", comenta Ruiter.
Para promover ainda mais o esporte, o clube criou o Ranking Cordf, que é composto por 18 corridas, de 6 km a maratona. Para ranquear, cada atleta tem que participar de pelo menos 6 provas até o máximo de 12. Para converter o tempo em pontos, é utilizada uma tabela. Ao final das 18 provas, uma festa premia os três primeiros colocados na geral masculina e feminina, além dos três primeiros em cada faixa etária, dividida de cinco em cinco anos, o que resulta na premiação de quase 100 atletas. O Cordf premia também os parceiros e destaques. Ao final do ano, para comemorar a sua fundação, o clube realiza a Corrida Festa do Corredor, que em 2014 vai estar na 17ª edição. A prova, de 6m e 10 km, acontece na pista interna do Parque da Cidade, a mesma onde se encontravam os valentes Corredores do Sol, e encerra o calendário de corridas no DF. (Para fazer parte do Cordf é preciso apenas gostar de corrida, preencher um cadastro e pagar R$ 144,00 de anuidade. Mais informações no www.cordf.com.br).
Destaque nos revezamentos
Devido à sua característica agregadora e à presença de muitos veteranos, as equipes do Cordf se destacam principalmente nas provas de revezamento. "É quando o espírito de equipe fala mais alto e, com os 'velhinhos' experientes e voadores, fica fácil estimular os mais jovens a darem o melhor de si", avalia Ruiter Silva.
Por isso mesmo, o principal resultado do clube em 2014 foi o título de campeão por equipe na 11ª Volta ao Lago Caixa, a ultra maratona de revezamento de Brasília. As equipes do Cordf venceram com o trio formado por Júlio Cesar Alves, Robert Rocha e Valdenir Feliz e com o quarteto feminino composto por Edva Paula, Daniela Rodrigues, Ivaneide Carvalho e Luci Batista.