Mas, se muitos aspectos positivos fazem dela uma experiência incomparável, uma característica nada agradável também é exclusividade de Nova York: a longa espera antes da largada, invariavelmente ao relento e sob um frio cortante. É verdade que a organização coloca algumas tendas (sem aquecimento, no entanto) nas áreas de espera, mas elas ficam rapidamente lotadas, pois não comportam o grande número de corredores que procuram abrigo. Numa prova em que tudo funciona à perfeição, este sub dimensionamento das tendas, ano após ano, é uma falha que destoa e gera o óbvio questionamento: por que não colocam mais tendas, se espaço não falta? E por que não aquecem as tendas? Para piorar, desde o ano passado, a organização decidiu dividir a largada em três ondas, para acomodar melhor os mais de 45 mil inscritos. Se em 2009 os intervalos eram de 20 minutos, este ano eles passaram a 30 minutos. Assim, quem largou na terceira e última onda teve que esperar uma hora além da primeira e principal largada, em que saem os atletas da elite masculina e mais 15 mil corredores, que foi dada às 9h40.
O sistema de ondas vem funcionando muito bem e realmente desafogou a largada. Se considerarmos que há ainda a divisão por cores (laranja, azul e verde), de acordo com as pistas da ponte Verrazano onde se irá correr, é como se fossem, em verdade, nove provas, com cerca de cinco mil corredores em cada uma delas. Considerando-se, ainda, que dentro de cada grupo de cor e onda há divisões em baias, por expectativa de tempo na maratona, com não mais de mil corredores em cada uma, a coisa flui ainda melhor. Quem eventualmente perde a sua largada – normalmente por não observar o prazo limite para entrar no seu curral, que dá acesso à área de largada – pode largar na onda seguinte, sem problemas. Já o inverso, largar antes da sua onda, não é permitido. A fiscalização é rigorosa e mesmo aqueles que, malandramente, tentam entrar sem mostrar o seu número (em que aparecem em destaque a cor, onda e baia do atleta), são obrigados pelos fiscais a fazê-lo.
Para os veteranos desta maratona, como o carioca Marcio Puga, 60 anos e sete participações em Nova York, sendo a primeira em 1982, a longa espera é uma tortura que já faz parte do roteiro, mas que vale pela recompensa de se correr mais uma vez em Nova York. "Depois de horas esperando, quando levantei para finalmente me dirigir ao curral de largada, a sensação era de que não conseguiria correr. Mas, depois que a gente larga, o corpo se supera. Em Nova York, a reclamação é geral em relação à espera, só que eu acho que as pessoas já até consideram que isso é uma compensação pela festa que vem a seguir", observa Puga, que levou um grupo de 15 atletas por ele treinados para correr a prova. "Chegamos às 6h, minha largada era a primeira, às 9h40. Em Nova York, ao contrário de Paris, Berlim ou Chicago, onde se pode chegar tranquilamente meia hora antes da largada, ou até menos, a espera é que mata. Vi até um sujeito que levou uma cadeirinha para o curral e ficou lendo jornal enquanto esperava", lembra, com humor. No entanto, ele reconhece que o novo sistema de largada em ondas funciona perfeitamente: "eu estava na sétima baia da largada azul da primeira onda e levei apenas dois minutos até passar sob o pórtico de largada", elogia.
Por mais avisados que estejam sobre a fatídica espera, os maratonistas estreantes também reclamam. A advogada Mônica Seixas Lisboa, 38 anos, do Rio de Janeiro, foi a Nova York com o grupo de corrida Filhos do Vento correr a sua primeira maratona e adorou tudo o que viu, menos, claro, a espera. "É sacrificante, foram mais de quatro horas num frio intenso, pois fazia dois graus quando chegamos, às 6h30. Mas, é verdade que não fiquei surpresa, pois tudo o que está escrito de fato acontece", reconhece. A divisão por ondas não impediu que alguns corredores do grupo de Mônica decidissem mudar de onda para acompanhar seus amigos. "Alguns eram da onda dois e largaram na três, que era a minha, para corrermos em grupo no início. Dentro do curral, era impossível mudar de baia. Depois que larguei, só enfrentei algum tráfego mais intenso na Verrazano, o resto do percurso foi agradável de correr, sem tumulto", finaliza.
NO FRIO E NO VENTO GELADO. Outra estreante em maratonas entre os atletas dos Filhos do Vento, a carioca Andréa Stein de Carvalho, 37 anos, atualmente morando em San Diego, na Califórnia, também elogiou o sistema de ondas, mesmo tendo largado na última delas, às 10h40: "Acredito que se fosse uma única largada a situação seria muito mais complicada em razão do grande número de corredores. Quanto a largar mais tarde, sinceramente, isso não me afetou. Claro que estava super ansiosa para começar, mas eu também estava tão feliz pela companhia dos amigos e o clima, tão divertido, que o tempo passou rápido. O mais sacrificante de tudo foi mesmo ficar no frio e no vento gelado. Isto sim foi muito pior do que a espera pela largada", recorda.
Corredora há cinco anos e treinada por Marco Paulo Reis, a médica paulista Patricia Homsi Nemoto, 38 anos, foi a Nova York para fazer a sua terceira maratona – antes, havia corrido Chicago, em 2008, e Berlim, em 2009. Mesmo elogiando a organização como um todo, ela, que largou na segunda onda, às 10h10, achou que o sistema de ondas não impediu alguma lentidão no começo da prova. "Demorei dez minutos para correr o primeiro km!", reclama. Também ao contrário da maioria, Patricia não achou a espera a pior das experiências: "Nem senti tanto, pois estava um dia lindo e ensolarado, e nem tão frio assim. Além disso, pessoas do mundo todo estão ali, então é uma ótima oportunidade para se trocar experiências. Mesmo que você chegue em jejum e tenha esquecido até o gel de carboidrato, não há problema, pois a organização fornece tudo. Quando a primeira onda largou, deu um pouco de nervosismo e o coração disparou, mas depois é tudo tão rápido…", recorda.
Outro atleta do grupo da assessoria de Marcos Paulo Reis, o administrador paulista Tomás Awad, 39 anos, já tinha oito maratonas na bagagem, mas fez sua estréia em Nova York, onde foi o terceiro mais rápido entre os brasileiros, com 2:45:51. "Larguei na primeira onda, às 9h40. A minha baia era a primeira, logo atrás do grupo de elite. Só que, na prática, acabei me misturando com atletas mais lentos, o que me prejudicou no começo. Mas, considerando a quantidade de pessoas na prova e pela limitação imposta pela largura da ponte, a largada até que fluiu bastante bem", pondera. Mesmo com o tempo excelente, Tomás acredita que Nova York é uma prova para se divertir e fazer a festa, já que o percurso "não é fácil, com muitas pequenas subidas e descidas. Não é uma prova para desempenho e nem uma prova a se recomendar muito, pois a logística é muito complicada", conclui.
Desafios à parte, como o frio, a longa espera e o percurso não tão rápido, a Maratona de Nova York continuará sendo sempre uma prova muito especial, que só quem viveu a experiência de correr pelas suas avenidas, sob o incentivo alucinante de mais de um milhão de pessoas, sabe o significado.
Até 2011.