20 de setembro de 2024

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Notícias admin 4 de outubro de 2010 (2) (279)

A bela Two Oceans Marathon, de 56 km!

Além de estar incumbido de fazer a cobertura da prova para a CR, eu também estava trabalhando com o grupo responsável pelas pesquisas da University of Cape Town com corredores da prova. Os resultados de nossos testes ficam para a próxima edição!

A PROVA TOMA CONTA DA CIDADE. A Two Oceans (a cidade do Cabo é banhada pelo oceano Atlântico e pelo Índico, daí o nome) acontece todo sábado de Páscoa, mas na quarta-feira anterior já é possível sentir a atmosfera da prova no ar. Neste dia tem início a Expo, feira de material esportivo e local para registro e retirada dos kits. O fluxo de carros em direção ao centro da cidade se intensifica, e é possível encontrar diversos restaurantes com mensagens de boa sorte aos participantes e oferecendo cardápios especiais de massas e afins aos corredores nos dias que antecedem a corrida.

Na sexta-feira, a clássica sacola verde limão recheada de brindes (de meias a barbeadores este ano, passando por licores), também já podia ser vista em todos os cantos da cidade.

Em 2009, 6.800 corredores se inscreveram na ultra e 13.200 se na meia, esta com o limite de corredores estipulados pela organização. Somados aos corredores das fun-runs, mais de 25 mil fizeram parte da Two Oceans.

A EXPO, GRANDIOSA. O movimento de corredores retirando seus kits se inicia já na quarta-feira de manhã, porém a maioria aparece somente na sexta. Após retirarem seus kits, os corredores passam pela ‘esquina' das pesquisas universitárias, onde diversos mestrandos, doutorandos e doutores tentam desesperadamente convencê-los a tomar parte em algum experimento,  enquanto participam da prova.

Após desvencilharem-se dos pesquisadores (ou não), os corredores chegam à feira de materiais esportivos, de onde é difícil sair sem algo novo que não estava previsto no orçamento. Ainda dentro da Expo é possível realizar massagens relaxantes ou se informar sobre diversas provas no país.

Existe ainda uma área especial de hospitalidade, com drinks e aperitivos, dedicada aos membros do Blue number Club. Para fazer parte deste seleto clube, que corre com números azuis no peito (daí o nome), é "simples": basta correr ao menos 10 Two Oceans ou então ganhar 5 vezes a medalha de ouro (top 10 masculino ou feminino) ou ainda vencer a prova 3 vezes. Caso nenhuma destas opções esteja nos seus planos, junte-se aos milhares de outros corredores na área de alimentação, onde se pode escolher entre diversas opções de restaurantes e lanches.

OUTRA PROVA NA VÉSPERA. Poucos corredores sabem (mesmo sul-africanos) que a Two Oceans acontece em dois dias. Na véspera, sexta-feira, uma réplica da prova em menor escala é realizada, tanto para a meia quanto para os 56 km. Isto por dois motivos: primeiro, para possibilitar que o pessoal envolvido diretamente na organização possa também participar; segundo, como a prova é realizada no sábado de Páscoa, vai contra algumas religiões. Como a África do Sul é um apanhado de diversas religiões e culturas, em consideração a estes corredores ocorre a prova de sexta-feira. Esta tradição começou em 1990, a pedido de um corredor próximo dos organizadores, que não podia participar da prova aos sábados por motivos religiosos.

Além disso, na sexta também ocorre a International Friendship Run (Corrida da Amizade Internacional). Apesar do nome, é mais uma caminhada por locais turísticos/históricos do centro da cidade oferecida aos participantes internacionais. Durante o evento, um representante de cada país é chamado para carregar sua bandeira durante a caminhada, que termina no V&A WaterFront, um centro de compras dentro de um porto, com direito a um minicafé da manhã, show musical e transporte de ônibus de volta à Expo. A International Frienship Run é uma cortesia aos estrangeiros (como acontece na Maratona de Nova York), que além de não pagarem a mais, ainda recebem uma camiseta exclusiva.

O GRANDE DIA. A Two oceans tem seu ponto de início e fim a aproximadamente 2 km de distância ou do outro. Por isso, a prova que começa cedo (a meia maratona larga às 6h00 e a ultra às 6h25) exige que os corredores madruguem para prepararem sua logística. Muitos preferem deixar seus carros na chegada e ir caminhando/aquecendo até a largada.

Para comportar todos os corredores, a meia maratona tem sua largada aproximadamente 200 m na frente da largada da ultra, e os corredores ocupam as seis pistas da avenida. A diferença de tempo se dá pelo fato de que as duas provas compartilham o início do percurso, e assim o pelotão da meia, quase o dobro da ultra, não ‘atrapalha' o início de prova dos ultramaratonistas de elite.

Corredores fantasiados podem ser vistos, apesar de serem mais comuns avistá-los na largada da meia. Os pacemakers, carregando suas bandeiras que podem ser vistas a uma distância razoável, também se alinham na multidão de corredores. Ser o pacemaker para levar corredores abaixo de 4h00 ou mesmo sub 7h00 (tempo-limite da prova) é uma tarefa para poucos.

Os últimos a se posicionarem são os corredores que compõem a minhoca do patrocinador oficial da prova. Imaginem uma minhoca de tecido, de rosto risonho e comprida o bastante para que precise 7 corredores alinhados com mais de um metro de diferença entre eles para ‘vestir' a fantasia. E eles correm a prova toda, mais rápido que muita gente.

Ainda estava escuro quando o tiro de largada foi dado pela prefeita da cidade, e a lua cheia ainda podia ser avistada mesmo quando já estava claro.

O PERCURSO – ‘REGALIA' AOS CORREDORES. A largada é em Newlands, subúrbio de classe média/alta de Cape Town, e para os ultramaratonistas ela segue em direção à praia de Muizenberg, onde pela primeira vez se avista o Oceano Índico. Nos primeiros 28 km predominam descidas e planos costeando o Índico até a o início do retorno. A partir daí, quando se retorna costeando o Atlântico, é que começam as oscilações de altitude mais drásticas, como se pode ver no desenho da altimetria.

Este ano, após inúmeras negociações, indas e vindas, boatos e rumores, conseguiu-se que o Chapman's Peak drive fosse aberto aos corredores. Explica-se: o Chapman's Peak Drive é o que chamam de Scenic Drive, um percurso de aproximadamente 6 km em que a estrada separa a montanha à direita do abismo para o mar à esquerda, por onde normalmente paga-se para andar de carro.

Esta rota, que é um dos principais motivos para a Two Oceans ser chamada de ‘a mais bela maratona do mundo', está fechada para tráfego de veículos e pedestres nos últimos anos, devido a questões políticas entre a empresa responsável pela manutenção do trajeto e o governo. O risco é de deslizamento de pedras. Neste ano, o Chapman's Peak drive esteve aberto apenas dois dias, um deles para os corredores da Two Oceans.

Este privilégio tem um preço: são quilômetros e mais quilômetros de sobe e desce sob o sol escaldante, sem nenhuma sombra, à exceção de um pseudo-túnel escavado na rocha da montanha. Saindo do Chapman's peak os corredores estão quase completando a maratona, e apesar de não haver refresco quanto à altimetria, as estações de massagem expressa tornam-se mais frequentes, e a paisagem muda ao se entrar nas Florestas de Constantia, tornando ao menos o calor mais suportável. Além disso, se você estiver na prova apenas pela diversão, pode degustar do sorvete que sempre é oferecido aos corredores nesta região.

Os últimos quilômetros da prova são também os que apresentam as maiores inclinações. Vencendo a subida de Constantia Nek, onde os exaustos corredores são embalados pelo grande público presente nos arredores da estrada, gritando por seus nomes (os números de peito vem com o nome do corredor), o resto é somente descida rumo aos campos de rugby da UCT (University of Cape Town) onde a chegada, os amigos e as tendas de massagem e alimentação aguardam pelos vitoriosos.

O FINAL. Antes de cruzar a linha de chegada, é preciso primeiro vencer os diversos cut-offs ao longo do percurso. Corredores que não forem capazes de passar por pontos de controle intermediários são retirados da prova. Aqueles que passarem por todos os pontos em tempo, porém não consigam passar a linha de chegada antes de o relógio marcar 07:00:00 ainda podem entrar pelo funil de chegada, porém não ganham a medalha.

Cruzando a linha final, os corredores podem optar por ir direto para a tenda de alimentação ou então receber uma rápida massagem. Existe ainda um grande espaço para os estrangeiros e também uma área destinada a alguns grandes clubes. Os corredores que finalizam a prova podem receber os seguintes tipos de medalhas:

Top 10: Medalha de Ouro
Sub 4h00: Medlha de Prata
Sub 5h00: Medlaha Sainsbury
Sub 6h00: Medalha de Bronze
Sub 7h00: Medalha Azul    

Além disso, a prova oferece ainda vários troféus, como: primeiro colocado (geral e categorias); primeiro marido e esposa; último colocado;  primeiro novato; concluinte mais novo e mais velho; primeiro a chegar em Constantia Nek.

Este ano, a prova foi vencida pelo queniano John Wachira, em 3:10:06 e uma vantagem de 46 segundos sobre o zimbabuano Marko Mambo. No feminino, as gêmeas russas Elena e Olesya Hurgalieva, campeãs da Comrades do ano passado, repetiram a dose, completando em 3:40:43. Cada campeão recebeu 150 mil rands (R$ 37 mil) mais bônus de patrocinadores.

TWO OCEANS E COMRADES

Apesar de terem organização diferente, as duas ultramaratonas sul-africanas apresentam uma série de aspectos semelhantes:

– O blue number da Two Oceans é equivalente ao green number da Comrades (mesmas regras e regalias)

– A largada é bem cedo, ainda no escuro

– Os números de peito trazem o nome do corredor

– Tempos-limite no percurso, que superados levam à desclassificação

– Postos com água, isotônico e coca, a pequena distância um do outro

– Poucos estrangeiros (menos de 5%) nas duas provas

– Puxadores de ritmo (pacemakers) são destaque nas duas provas

– Premiação em dinheiro semelhante, para os 5 primeiros, masc. e fem.

– Tempo-limite final rigoroso (7 e 12 horas). Quem chega 1 segundo depois não recebe medalha

CURIOSIDADES DA CHEGADA

Em provas desta dimensão, diversas cenas memoráveis acontecem. Algumas fogem aos nossos olhos, outras permanecem na memória. Eu estava incumbido de, na linha de chegada, direcionar os participantes dos projetos de pesquisas para a tenda médica, a fim de realizar os exames pós-prova. Tive assim uma visão privilegiada de alguns acontecimentos.

– Pai e filho aguardam os competidores no corredor de chegada. Ambos brancos, uniformizados e com uma grande bandeira de seu país, festejam e gritam quando o segundo colocado adentra o corredor formado para os últimos 200 m de prova. Zimbabuanos, vindos de um país com a economia devastada (o governo desistiu da moeda local recentemente, após lançar a nota de um trilhão de dólares) e de governo totalmente anti-brancos, incentivam seu conterrâneo, negro.

– Dois homens cruzam a linha de chegada juntos, um branco, vindo de um país europeu, outro um legítimo africano. Ambos chamam-se ‘John'. Uma foto registra o aperto de mãos.

– Um homem negro cruza a linha de chegada. Sua família em peso o aguarda atrás da linha. Ao avistarem-no, as mulheres começam aquele típico grito africano/indiano (algo como i-li-li-li-li-li-li, impronuciável a meu ver). Muitos ficariam encabulados com a recepção; ele estufou o peito e sorriu.

PREPARAÇÃO PARA A COMRADES

Para muitos sul-africanos, a Two Oceans nada mais é do que um preparativo para a Comrades (dia 24 deste mês, na distância de 89 km, da cidade de Pietermaritzburg até Durban). Este aliás foi um dos argumentos utilizados para se realizar a primeira Two Oceans, há 40 anos. Muito corredores de elite também participam das duas, a exemplo das russas campeãs deste ano.

A Comrades oferece um status maior ao corredor (elite ou comum), até por ser somente uma ultra (gigante na relação distância x inscritos), sem os eventos menores paralelos. Basta analisar que a Comrades, sendo apenas uma ultra, e que teoricamente tem um campo mais reduzido de atletas aptos a completá-la, por ser bem mais longa que a Two Oceans, conta com 10 mil participantes (549 estrangeiros em 2008), enquanto a Two Oceans tem aproximadamente 6.800 (374 de fora este ano).

IMPRESSÃO DOS BRASILEIROS

Os brasileiros estão descobrindo a Two Oceans. Este ano foram 17 participantes, mais que o dobro de 2007 e 2008 somados! Encontrei alguns antes da prova, outros após a prova, e a percepção geral foi extremamente positiva. Alguns pontos foram apontados por todos: a beleza do lugar e a eficiência da organização. Uma corredora inclusive chegou a se espantar com o excesso de coca-cola oferecida ao longo da corrida. No Brasil não é tão comum oferecer refrigerantes em corridas (em alguns triatlos sim).  As massagens oferecidas ao longo do percurso também foram bem-vindas.

QUE VENHA 2010!

A Two Oceans é uma prova memorável. Esperamos com esta matéria conseguir aumentar o número de brasileiros na prova em 2010. Assim como a CR já fez com a Comrades, está na hora de encher a Two Oceans de verde e amarelo. A época de março oferece o clima perfeito para o turismo em Cape Town, aliada ao início dos preços de baixa temporada. A cidade e arredores oferecem uma infinidade de atividades antes e após a corrida, e a grande diversidade de distâncias (2,5 – 56 km) garantem desafios compatíveis com qualquer condicionamento. Então, marque a próxima páscoa na sua agenda de provas e nos encontramos na Two Oceans 2010!

Veja o percurso e altimetria da Two Oceans

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2 Comments on “A bela Two Oceans Marathon, de 56 km!

  1. Gostaria de saber se para os brasileiros se increverem na Two Oceans é necessario ter algum pré requisito?
    Na Conrades existe o requisito de ter feito uma maratona em menos de 5 horas. Na Two Oceans existe o mesmo requisito, mas eu soube que só vale para os estrangeiros. Poderia confirmar para mim?

  2. Olá Luiz,

    Não há pre-requisito para a Two Oceans. Em geral eles pedem algum resultado em maratona apenas para a organização das baias de largada por tempo. –

    Mais informações em http://www.twooceansmarathon.org.za/race/ultra

    Abs

    Sergio

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