Monitorando o seu ritmo

Ok. Você está pronto para colocar o pé na rua e correr. Já fez exames preventivos e ouviu falar que é importante monitorar a freqüência cardíaca para correr com segurança. Então, começou a pesquisar sobre os vários monitores cardíacos encontrados no mercado. Mas será que esse tipo de equipamento é útil em todos os casos? Como ele deve ser utilizado e por quem?

De acordo com Paulo Zogaib – médico especialista em medicina do esporte e fisiologia do exercício, professor da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital Sírio Libanês – o ideal é usá-lo sempre. "Com ele, o atleta pode ter uma precisão maior nas cargas de treinamento. Não importa o nível de preparo de quem corre, é sempre interessante acompanhar os batimentos". Zogaib explica que o monitor cardíaco é bastante confiável, já que trabalha com a conta de Frequência Cardíaca Máxima (a partir do uso da fórmula: FCmáx = 220 – idade). E ela funciona.

"Para se chegar à conclusão, muitos cálculos e experiências foram realizados. A Frequência Cardíaca Máxima se tornou uma média onde estão enquadradas de 70% a 80% da população mundial. Essas pessoas que estão fora da média devem procurar um acompanhamento mais específico. Mas é raro encontrar casos assim".

Raro, mas nada impossível. Para estar fora da média, basta ter qualquer histórico de problemas cardiovasculares. O cardiologista e chefe do setor de reabilitação cardiopulmonar do Hospital do Coração (HCor), Carlos Alberto Hossri, afirma que nesses casos o uso do monitor cardíaco é importante e imprescindível. O médico ainda ressalta que "não se deve utilizar tais aparelhos sem o acompanhamento de um profissional. É importante ter um especialista ao lado para saber regular exatamente o exercício e, assim, aproveitá-lo corretamente". A dosagem do ritmo também é essencial para pessoas que já tiveram ou têm problemas no coração. "Nem excessivo, nem com pouca carga. Com exames cardiovasculares em mãos, podemos alcançar uma melhor eficiência, seja na corrida, seja em qualquer outro exercício", completa.

USAR OU NÃO USAR, EIS A QUESTÃO. Mas, como isso funciona na prática? Como será que os corredores realmente vêem o monitor cardíaco: útil ou desnecessário? O bancário Luiz Fernando Marchi de Rezende, de Ribeirão Preto, usa o monitor cardíaco desde que começou a correr, há um ano e meio. Ele queria um aparelho que lhe permitisse monitorar seu desempenho com precisão. "Com o instrumento, me sinto mais comprometido com o treino e mais seguro, porque consigo saber em tempo real o esforço que meu coração está fazendo e a melhora de condicionamento que eu tenho ao longo dos treinamentos", diz.

Assim como Luiz Fernando, o publicitário e net-worker, Marco Fabio Ulhôa Levy, que já corre há cinco anos, também nunca dispensa seu monitor. "Ele é um companheiro para mim; de fato, indispensável. Ajuda a conhecer melhor meu corpo e meus limites". Para o corredor iniciante, Marcos Paulo Pujol Graça, o monitor cardíaco é ainda mais importante. O advogado, que começou na corrida com o objetivo de emagrecer, ressalta que poder calcular exatamente a intensidade de seu treino sem se preocupar com velocidade ou distância, mas sim com a freqüência cardíaca, faz toda a diferença. "Também para perder peso, o monitor ajuda a me manter dentro da zona alvo aeróbica, otimizando a queima de calorias", considera.

Entretanto, existem aqueles que discordam. Apesar de a maioria dos monitores serem confiáveis e bastante precisos, há sempre uma pequena margem de erro, que pode ser de relevância total para competições, por exemplo. São também aqueles segundos perdidos, ao checar o monitor e notar que a FC deu alta e, por causa disso, querer parar ou reduzir o ritmo da corrida – apesar de o fôlego dizer o contrário -, que podem fazer um atleta não obter o desempenho desejado.

Renato Lotufo, médico e fisiologista especializado em medicina do esporte e fisiologia do exercício e diretor do Instituto de Avaliação Física do Esporte (IAFE), ligado ao Instituto Cohen, observa que os batimentos cardíacos não aumentam apenas pelo excesso de exercício físico. Há alguns fatores que também alteram a frequência para mais ou para menos e podem maquiar o resultado dos batimentos. "Um deles é correr no calor. Dependendo da temperatura, o corpo começa a perder água mais rapidamente e a freqüência sobe. Isso faz com que o coração acelere os batimentos para bombear sangue para a pele. Ou seja, isso resulta no acréscimo de batimentos, não por esforço físico, mas por desidratação. Nesse momento, o atleta pode pensar que está com rendimento baixo, quando apenas está mais desidratado", explica. O médico ainda considera que o uso do aparelho pode afetar psicologicamente o corredor. "O atleta vê o monitor dando alto e para. Isso prejudica o rendimento. Ele vai parar um momento que poderia render mais e vai acostumar o corpo naquele ritmo. Esse intervalo afeta o resultado, tornando a evolução mais demorada".

Do ponto de vista técnico e instrumental, explica o cardiologista Hossri, o que diferencia um monitor do outro é a sensibilidade de captar com segurança o registro do pulso elétrico. "Alguns aparelhos não são bem regulados e passam a perceber movimentos musculares e contar como batimentos. Isso pode gerar transtornos para o corredor que acha que seus batimentos estão acelerados", diz o médico que explica que a média de erros em um bom monitor varia de 5 a 10 batimentos (aproximadamente).

O técnico em informática Yuri Silva Nascimento, que corre há quatro anos, e sem monitor, tem a mesma opinião de Lotufo. "Conheço pessoas que são dependentes de monitores cardíacos, não conseguem correr sem ele até em provas. É comum que elas tentem aumentar a intensidade do treino e, mesmo estando em condições, não avancem por conta do que o monitor indica. Percebo que elas desenvolveram uma dependência perigosa. Tudo na vida é uma questão de equilíbrio". Apesar disso, Yuri confessa que, às vezes, sente que em trechos mais difíceis gostaria de puxar a corrida um pouco mais, mas não arrisca sem saber como estão seus batimentos. "Até porque tenho pavor de quebrar e terminar a corrida andando. Considero o monitor uma ferramenta de auxílio ao corredor: é bom tê-lo, mas ruim ser dependente dele. Acredito que é necessário em alguns treinos e dispensável em outros", acrescenta.

Já o corredor e estudante de Educação Física José Ricardo da Cruz Bileski, que se valia de monitores cardíacos durante as aulas de spinning na academia que freqüentava, não sente falta do aparelho e não o utiliza desde que decidiu correr ao ar livre. "Decorando o ritmo das aulas, sabia qual era a minha faixa de treinamento só pelo modo de respirar, que aumenta conforme a frequência cardíaca se eleva. Como agora corro só por lazer e não tenho meta de ganhar as competições de que participo, nunca atinjo o meu limite. Por isso não preciso me preocupar com ele."

Diante de tantas opiniões, uma coisa é certa: o monitor cardíaco não é visto como o vilão da corrida. "Ele não prejudica, mas regula. Serve para prevenir o atleta, para que não passe dos limites. O corredor vai notar que está em zona segura de marcha de corrida. E isso traz calma para o treinamento", afirma João Ricardo Cozac, psicólogo esportivo e presidente da Ceppe (Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte).

Uma dica dos treinadores e médicos é fazer uso de algumas técnicas para avaliar o nível do esforço – e consequentemente do cansaço. A expressão norte-americana "walking and talking" é uma delas. É quando o atleta consegue andar e falar ao mesmo tempo sem se cansar. Isso significa que o seu ritmo está bom.

PERCEPÇÃO DE ESFORÇO – A MELHOR FERRAMENTA. Quem já passou por um teste ergométrico ou ergoespirométrico já teve de responder a seguinte pergunta: "qual a sua sensação de esforço ao correr?" Essa resposta é a melhor maneira de controlar os batimentos cardíacos do seu coração e, conseqüentemente, achar um limite para sua corrida.

O teste de percepção de esforço é facilmente aplicável não somente à corrida, mas em todos os esportes em geral. A escala de Borg, por exemplo é o mais tradicional teste de percepção de esforço que, em uma sequência numérica de 6 a 20 identifica a sensação de esforço do atleta: de menos cansado a exausto. Para facilitar as contas e o próprio entendimento do atleta, muitos médicos, treinadores e atletas convertem essa numeração para 0 a 10, sendo 0 nada cansado e 10 completamente exausto.

Isso porque o que o atleta sente e reconhece do organismo é o que se chama de propriocepção, o que é extremamente importante para orientar o exercício independente do monitor cardíaco. Por isso, explica o cardiologista do Hcor, a regra é o seguinte: quando o nível de cansaço é moderado, mantenha a intensidade nessa faixa ou diminua. Agora, quando o nível já passou do moderado, diminua a intensidade, pois significa que o sistema músculo-esquelético e cardiovascular (os dois principais) estão limitando o exercício por alguma razão. As pernas doem, o fôlego diminui. Neste caso, é preciso observar se a falta de fôlego é causada por um problema respiratório ou vascular. "Existe corredor que não sabe que desenvolve asma quando corre. É a asma induzida pelo exercício", diz Hossri.

O QUE PRIORIZAR? "A sensação é mais importante, sem dúvida", diz o cardiologista Hossri. O fenquencímetro é um dado de segurança para o treino. Muitas vezes são estabelecidas faixas de batimentos cardíacos para o treino, e o corredor pode estar com uma freqüência maior do que a indicada, mas estar se sentindo bem. Então, ele não deve parar. "Se o atleta está só cansado, deve manter o esforço ou diminuir".

O HCor, que utiliza a escala de Borg para identificar o nível do esforço do corredor nos testes ergométricos, usa a seguinte regra: originalmente a escala  varia de 6 a 20. Mas, simplificando, de 0 a 10, quando o esportista estiver entre 4 e 5 ele mantém o ritmo. Já entre 5 e 6 significa que está se sentindo cansado e deve diminuir ou no máximo manter."Quando o corredor começa a puxar um pouco mais o ar é sinal de cansaço. O importante é manter o cansaço moderado, que é o saudável", diz o cardiologista.

Passando essas informações para uma prova, compara o médico, é óbvio que o atleta vai estar um pouco acima dos limites dos treinos e exames físicos. "Mas é preciso ficar atento, porque as chances de lesões quando não se respeita o próprio limite aumentam, pode aparecer uma tendinite e até fraturas de estresse. Reconhecer limites é a chave".

A treinadora da assessoria esportiva Projeto Mulher, Cris de Carvalho, reitera a afirmação médica sobre a importância da percepção de esforço pelo atleta. Tanto que não recomenda o uso de monitores cardíacos para todos os corredores. Segundo a treinadora, o monitor cardíaco, a princípio, foi um aparelho feito para portadores de deficiência cardíaca, onde o monitoramento torna-se essencial para a segurança e prática do esportista. "Sem o monitor estas pessoas não poderiam praticar atividade física", diz Cris. Em um segundo momento percebeu-se a importância de usá-lo para o treinamento de qualquer pessoa.

"De fato, o monitor cardíaco é um instrumento muito interessante para avaliação e referência da condição física diária. Mas para pessoas que estão em dia com seus exames cardíacos e não apresentam nenhum risco à prática esportiva, a sensação corporal é a ferramenta mais eficaz para referência do esforço físico". Nesses casos os monitores cardíacos tornam-se mais uma ferramenta de análise da condição física individual e diária do que uma ferramenta indispensável para a performance física. "Não há dúvida que os monitores agregam informação ao treinamento, mas o uso inadequado pode subestimar ou hiper-estimar a intensidade do seu treinamento".

O QUE NÃO PODE FALTAR EM UM MONITOR CARDÍACO NA OPINIÃO DOS TREINADORES DE CORRIDA

Lap, caloria, marcação de passo, GPS, cronômetro, zonas de treino, média de freqüência cardíaca… é só entrar em qualquer loja que venda monitores cardíacos para você ser metralhado com informações sobre inúmeras funções que um único relógio pode ter. Mas, nesse caso, a lógica do "quanto mais, melhor" nem sempre é válida.

Isso porque muitas vezes funções demais podem atrapalhar aquele atleta que quer apenas monitorar a quantidade de batimentos por minuto do coração. Por essa razão, as lojas especializadas em artigos esportivos recomendam os modelos intermediários, que tenham marcação de tempo, zona de treino e frequência cardíaca mínima, média e total. Esses são também, os produtos mais vendidos nos estabelecimentos esportivos.

Para os corredores mais moderninhos e que gostam de planilhar o treino, anotar todas as informações e não perder um único passo do treino, vale investir em monitores que mais parecem computadores de bordo. Marcam do básico cronômetro até a temperatura no momento da corrida.

Veja, na opinião dos treinadores, o que eles aconselham quanto ao uso e às características dos monitores cardíacos.

"O mais importante é ter luz noturna, aparecer a FC e tempo na mesma tela (sem ter que ficar apertando o botão durante a corrida) e ter marcação de LAP (número de voltas). Aconselhamos o uso de monitores cardíacos, desde treinos curtos a treinos mais longos e de treinos fracos (como caminhada) até os mais fortes (com velocidade). Única exceção seria um dia a cada 3 ou 4 meses, para correr solto, na boa para descontrair. Para correr, recomendamos o Polar RS 100". Camila e Ricardo Hirsch, diretores técnicos da Personal Life.

"O principal para o atleta é ter a ‘zona alvo'. Em cima dela é que trabalharemos os níveis de esforço durante os treinos. Outro ponto importante é que o atleta, independente do nível, tenha o seu teste ergoespirométrico de esforço em dia para programar uma zona alvo a mais objetiva possível. O uso do monitor cardíaco é fundamental para que o atleta iniciante vá se conhecendo
melhor e deixando a sua ‘sensibilidade' mais florida. Aconselho o uso de qualquer monitor cardíaco da marca Polar" Diego Lopez, treinador da Equipe Trilopez.

"O ideal para todo atleta é ter um monitor cardíaco que forneça na mesma tela a FC e o tempo simultaneamente. Alguns modelos são melhores, pois, além destes dados, fornecem tempos parciais (laps) ou tempos das voltas. Recomendo o uso do monitor cardíaco na maioria das vezes e, a depender do aluno, o uso torna-se obrigatório. Recomendo qualquer modelo da Polar, pois tem durabilidade, qualidade e não costuma dar problema" Alexandre Oliveira, técnico da Sportplan.

"Os corredores devem treinar sempre com  monitor cardíaco. É seguro e as pessoas aprendem a se conhecer. Em alguns monitores você consegue pegar a média dos batimentos por minuto (bpm), distância percorrida e ritmo por km. Isso é tudo aquilo que o corredor tem que saber depois de cada treino, para comparar e medir sua evolução. O Garmin hoje é imbatível e está revolucionando o mercado. Além de mostrar em que local do mundo você está correndo com o Google Maps, ele apresenta um relatório maravilhoso" Marcos Paulo Reis, diretor técnico da MPR Assessoria Esportiva.

"É importante treinar com monitor cardíaco, porém ressalto que o atleta não deve ficar dependente do monitor, ou seja, ficar olhando a todo instante para os números do visor, com receio de exceder a sua FC. O instrumento é muito mais importante para uma análise posterior ao seu treino, pois teremos um comparativo da evolução de um treino para outro, de acordo com a melhora de seu condicionamento. Um aparelho básico deve conter zona alvo mínima e máxima, cronômetro e LAP. Todos os monitores cardíacos têm a mesma eficiência e precisão, o que muda são as opções e recursos. Para quem quiser investir um pouco mais aconselho o Garmin Forerunner, que é o mais completo" Luis Tavares, técnico da E.C. Tavares.

"O que não deve faltar é a precisão da freqüência cardíaca medida, ou seja, que ele marque exatamente a FC do corredor e não perca o sinal facilmente. Acredito que o monitor é importante tanto no treino intervalado como no treino regenerativo. Isso porque muitas vezes o corredor não consegue sentir se está tudo bem com ele. E a medição da FC nos passa esta informação. Pela minha experiência, gosto muito do Polar. Mas o Garmin tem muitos pontos positivos, como marcar quilometragem e altimetria. O Suunto está se mostrando muito bom também" Mario Sergio A. Silva, diretor técnico da Run & Fun.

"Dos iniciantes aos triatletas e super maratonistas, o monitor deve mostrar ao mesmo tempo no visor o cronômetro e os valores dos batimentos cardíacos. A FC é mais uma forma de controle do esforço durante o exercício. Para os iniciantes ela é muito importante, pois preserva  o atleta, evitando uma sobrecarga demasiada e desnecessária. No decorrer do programa e, consequentemente, com o aumento da sua condição física, podemos usar outras formas para o controle do esforço, como a velocidade média, ou ritmo por quilômetro. Aconselho o Polar RS 400 ou 800 ou o Garmin Forerunner, que é bem completo" Diogo Andrade, técnico da Triação.

"O essencial é ter cronômetro, hora e marcar a FC, para o aluno conseguir usar apenas um aparelho no punho. O monitor é essencial para corredores que tenham algum histórico de doença ou deficiência cardíaca. Mas para pessoas que estão em dia com os exames cardíacos e não apresentam nenhum risco à prática esportiva, a sensação corporal é a ferramenta mais eficaz para referência do esforço físico. Recomendo os modelos da Suunto. Unem tecnologia com elegância e são fáceis de operar. Recomendo T1 para quem quer simplicidade, T3 para quem quer analisar queima calórica, T4 para quem quer usar o monitor como referencia de esforço e T6 para quem gosta de tecnologia" Cris de Carvalho, diretora técnica da assessoria Projeto Mulher

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