Notícias Redação 28 de fevereiro de 2018 (0) (95)

Berlim sem recorde mundial

A 44ª edição da Maratona de Berlim, realizada no dia 24 de setembro, prometia ser uma das provas mais disputadas dos últimos anos. Afinal, três dos maiores maratonistas do mundo, com marcas na faixa das 2h03, compunham o startlist. Os holofotes estavam todos virados para os quenianos Eliud Kipchoge e Wilson Kipsang e o etíope Kenenisa Bekele. Deles esperava-se não apenas uma disputa pessoal pelo lugar mais alto no pódio, mas principalmente a possibilidade de superar o recorde mundial, do queniano Dennis Kimetto, obtida em 2014 em Berlim, quando registrou 2:02:57.
Apesar das grandes expectativas, não foi dessa vez que os alemães viram mais uma marca mundial ser quebrada em solo berlinense. A prova foi disputada com um pouco de chuva e alta umidade, condições que dificultaram bons resultados. Mesmo assim, o atual campeão olímpico, Eliud Kipchoge, mostrou porque é considerado um dos melhores atletas da atualidade. O queniano cruzou a linha de chegada em 1º lugar com 2:03:32, conquistando sua segunda vitória em Berlim e a oitava das 9 maratonas disputadas na carreira. O tempo estabelecido pelo queniano foi o mais rápido conseguido nessas condições climáticas e sua segunda melhor marca na carreira numa maratona oficial. Sua melhor marca foi conquistada em Londres 2016, quando venceu em 2:03:05.
Com a desistência de Kipsang e Bekele no meio do percurso, coube a outro atleta fazer frente a Kipchoge. O etíope Guye Adola, estreante em maratonas e bronze no Campeonato Mundial de Meia-Maratona, surpreendentemente assumiu a liderança da prova no km 35 km, deixando o campeão olímpico cerca de 25 metros atrás por alguns quilômetros. Mas Kipchoge mostrou a que veio e reassumiu a ponta no km 40 para vencer. Adola terminou com 2:03:46, e se tornou o segundo melhor maratonista etíope da história, atrás apenas de Kenenisa Bekele. O pódio foi composto por mais um etíope, Mosinet Geremew, com 2:06:12.
No feminino, a queniana Gladys Cherono garantiu sua segunda vitória em Berlim, finalizando em 2:20:23. Ela já havia vencido em 2015. A etíope Ruti Aga terminou em 2º lugar, com 2:20:41, seguida da queniana Valary Aiyabei, em 2:20:53.
A maratona teve recorde de participantes, com 39.101 concluintes, de 137 países. O Brasil marcou grande presença na prova, com 818 corredores completando.

SORTEADA DA REVISTA. A professora universitária Ana Maria Minarelli Gaspar, de 53 anos, conseguiu uma vaga para correr Berlim graças à promoção da Contra-Relógio, que premiou a melhor frase com uma inscrição para a prova. O resultado saiu no começo de junho e partir daí Ana, que mora em Araraquara, no interior paulista, teve que correr atrás do tempo para colocar os treinos em dia. Corredora desde 2009 e com planos de correr em Berlim somente em 2019, Ana não quis desperdiçar a oportunidade e aproveitou os mais de três meses para se preparar. "É impossível não se emocionar com a beleza dos lugares que você passa. A largada é sensacional e inesquecível", lembra Ana, que se emocionou ao avistar o imponente Portão de Brandemburgo nos metros finais de prova.
Ana, que já tinha corrido a Maratona de Boston, comenta que o apoio do público faz a diferença; ela cita algumas coisas peculiares que chamaram sua atenção na prova alemã, como "um quarteto de músicos com trompa alpina, um grupo tocando música clássica, um senhor bem velhinho, solitário, assoprando uma corneta sem parar, além de chá quente que algumas pessoas davam durante o percurso".
Apesar da experiência positiva, o resultado não foi o que ela esperava. "Nesse ciclo de treinamento, tive problemas com lesão no pé e fui tratando durante todo tempo. Mantive o treinamento e fui animada e otimista para correr a maratona e terminar sub 3h30. Mas a partir do km 8, as dores retornaram e na metade da prova 'joguei a toalha'", conta Ana, que então mudou a estratégia e passou a ter o objetivo apenas de finalizar. "Terminei muito emocionada, relembrando o treinamento, o esforço, a dedicação e o sonho que eu havia realizado. Fiz em 4h04, minha primeira maratona acima de 4 horas, mas com a certeza de que fiz o meu melhor."

CELEBRAÇÃO À VIDA. Outro que desembarcou no Brasil com boas lembranças da prova alemã foi o empresário linense Geniomar Pereira, de 51 anos. Apesar de correr desde 1984, ele só começou a se dedicar às provas em 2007. Das seis maratonas que agora têm no currículo, Berlim é e sempre será a mais especial. Afinal, a prova tem um significado importante para Geniomar, que considera sua participação na corrida uma "celebração à vida".
"Em abril de 2017, no final de uma prova de 15 milhas em São Paulo, senti muita tontura. Logo depois descobri que estava com um tumor raro no cérebro", lembra Geniomar, que no final de maio foi submetido a uma delicada cirurgia, com 12 horas de duração e que o levou a alguns dias de UTI e 30 sessões de radioterapia. Ele voltou a treinar faltando praticamente um mês para Berlim. Sendo assim, o simples fato de terminar a prova passou a ser seu grande objetivo depois do que ocorrido.
Mesmo com uma estratégia conservadora, Geniomar se surpreendeu com o resultado final, concluindo a maratona em 4h38. "Sinceramente, eu me senti 'o cara', um 'superman'. Consegui concluir uma maratona contra todos os prognósticos possíveis. Havia poucos dias que tinha encerrado as sessões de radioterapia. Ainda sentia alguns efeitos colaterais, como náuseas e fadiga. Mesmo assim, com muita fé, foco e força de vontade, consegui", conta o maratonista, que descreve a passagem pelo Portão de Brandemburgo, no trecho final, como o auge da prova. "É inenarrável. Chorei muito de emoção."

EM BUSCA DO RECORDE. Por se tratar de uma prova rápida e com temperatura agradável, muitos corredores escolhem Berlim para tentar o recorde pessoal e o índice para Boston. Esse foi o motivo que levou o médico cirurgião paulista José Ricardo Guimarães Toloi, de 47 anos, a Berlim para completar sua 12ª maratona.
"Acho que me empolguei demais no início e, talvez por não estar tão bem preparado como nas últimas provas que fiz, meu ritmo caiu mais cedo que o habitual, fazendo um final bem mais lento que o início", conta o médico, que nasceu em Batatais, mas mora em Jaú, interior de São Paulo. Apesar do erro na estratégia e o tempo final acima do esperado (3h34), José Ricardo ficou satisfeito com o evento.
"A prova é cativante. Apesar de estar sofrendo um pouco no final, a imagem do Portão de Brandemburgo realmente é muito emocionante, ainda mais com a Coluna da Vitória visualizada ao fundo no parque Tiergarten", lembra ele, destacando que chegar ao final de uma maratona sempre proporcionará uma sensação indescritível de vitória, de alívio e de superação. O médico atenta também para a excelente organização do evento, que faz juz a tudo o que as pessoas falam dele. "A maratona é bem organizada, o acesso à largada é fácil, o percurso é totalmente plano, o clima estava um pouco chuvoso no início, mas nada que atrapalhasse, a população incentiva a todo momento e a prova é bem abastecida de água, isotônicos etc", conta José Ricardo.
Em busca de baixar seu tempo na distância, o engenheiro paulista Gediel de Almeida Souza, de 46 anos, escolheu Berlim para fazer sua segunda maratona. Corredor desde 2010, Gediel, que estreou nos 42 km em 2015 em Nova York, tinha a expectativa de correr abaixo de 3h30. Ele largou no curral F (para corredores abaixo de 4 horas) e conta que demorou um pouco para conseguir entrar no ritmo desejado, devido à grande quantidade de corredores.
"Nos primeiros quilômetros havia um volume considerado de participantes. Mas, a partir do km 6, era maior a dispersão e já consegui imprimir meu ritmo", diz Gediel, que terminou a maratona 16 minutos abaixo do seu melhor tempo, finalizando a maratona em 3h25. Além da boa organização da prova e o percurso favorável, o maratonista cita também a grande participação do público como um dos pontos fortes de Berlim. "Havia gente em todo o percurso tocando, gritando e participando junto com os corredores. Apesar do mau tempo e da chuva em alguns momentos, o público permaneceu nas ruas sempre com a mesma alegria."

 

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