Sem categoria admin 21 de abril de 2017 (0) (245)

Suplementação para corredor: sim ou não?

Quando os treinamentos começam a ficar mais intensos e a quilometragem semanal aumenta, corredores costumam recorrer ao uso de suplementos para conseguir suportar a carga mais forte e para ajudar na recuperação do treino pesado exigido pela planilha.
Mas há também os que preferem recorrer a caminhos mais naturais, acreditando que tudo o que o corpo precisa para responder bem à carga pesada de treinos é um cardápio bem elaborado e uma alimentação balanceada.
Ainda que existam controvérsias sobre o assunto, não apenas em relação ao uso ou não de suplementos antes, durante e depois de uma corrida, mas também quanto à quantidade necessária de cada um, é fato ser isso algo bem pessoal e muitas vezes o próprio corredor, com erros e acertos, acaba definindo sua estratégia de suplementação, seja ela mais natural ou não.

RENDIMENTO E RECUPERAÇÃO. Quem não abre mão dos suplementos é o militar e engenheiro Mateus Gómez Sacchett, de 24 anos, de Porto Alegre. Corredor de maratonas e ultras há 6 anos, ele faz uma suplementação bem peculiar, que foi aprimorando com o tempo. "Durante e após os treinos que excedem 1 hora, tomo apenas um gel e uma cápsula de sal. Para treinos de qualidade mais longos, tipo intervalados, uso somente isotônico. Antes dos treinos, prefiro ingerir 'comida de verdade'. Aí apenas tomo glutamina em jejum, pois sinto que me auxilia muito na imunidade", explica o corredor, que ainda finaliza o dia com um copo de whey protein batido com abacate antes de dormir.
Nos longos de fim de semana, além do gel e da cápsula de sal a cada 40 minutos, Mateus também ingere bala de goma e castanha. De resto, dá grande importância à hidratação. Quando o treino é para ultramaratona, acrescenta ainda uma bisnaguinha com Nutella a cada 20 km e Endurox R4 misturado com uma dose de glutamina ao final.
Apesar de sempre suplementar, foi só com o tempo que Mateus estabeleceu o que usa hoje. "Fui aperfeiçoando minha tática e descobrindo o que faz me sentir melhor. Na prática, percebi que meu rendimento durante e minha recuperação pós-treinos eram muito melhores com o uso de suplementação, principalmente em longas distâncias. Com isso, fui fazendo pesquisas, ouvindo diferentes corredores e aos poucos adaptando o uso a meu gosto", conta o corredor, que repete o que faz nos treinos em provas para não ser pego de surpresa.
"A estratégia deve ser treinada e testada durante algumas semanas até que sejam descobertas quais as melhores opções para determinada prova. No dia, faço exatamente como foi treinado, inclusive utilizando as mesmas marcas e modelos para evitar problemas estomacais."

PARA NÃO PERDER MASSA. Outro que prefere o uso de suplementos para ajudar na corrida é o auxiliar de logística paulista Robson Tagliari, de 35 anos, que corre há 6 anos e se dedica principalmente às meias-maratonas. Nos dias de treino, o corredor, que é de Artur Nogueira, interior de São Paulo, faz sua suplementação com whey protein, BCAA e glutamina. E no dia-a-dia, ele não abre mão de um multivitamínico. Praticante assíduo de musculação, Robson começou a dar atenção especial a esse tipo de reposição somente depois que iniciou na corrida, com o intuito de não perder massa muscular.
"Sou apaixonado pelo fisiculturismo. Pratico musculação há 24 anos e, como todo marombeiro, o que a gente menos quer é perder volume muscular", brinca Robson, que diz sentir grande diferença nos treinos. "Fiquei sem suplementar durante um ano para fazer um teste. Acabei perdendo 6 kg de massa magra. Depois que recuperei os 6 kg novamente, aí fiquei suplementando por 1 ano e o catabolismo foi menor, de apenas 2 kg."

ALIMENTAÇÃO BASTA. Mesmo para aqueles que se dedicam a longas distâncias, usar suplementos não é uma regra. E por isso mesmo há quem prefira algo mais natural, acreditando que a alimentação pode fornecer tudo o que o corpo precisa, mesmo quando está se submetendo a treinos intensos.
É o caso do diretor de finanças gaúcho Claudio Faermann, de 52 anos, que no começo até recorria a suplementos, mas com os anos acabou indo por outro caminho. Corredor de maratonas e ultras com 25 anos de bagagem, Claudio suplmentou por muitos anos. "Era um farto cardápio de diferentes carboidratos, vitaminas, aminoácidos, creatina, proteínas, entre outros", lembra o corredor, que um dia resolveu mudar tudo, dando mais importância à alimentação.
"Decidi adotar uma estratégia de alimentação com baixa ingestão de carboidrato, mais eficiente, saudável e equilibrada nutricionalmente, sem a necessidade – e dependência – do uso sistemático da suplementação. Atualmente, em treinos ou provas longas – acima de 2 ou 3 horas, costumo fazer a reposição apenas com sal e aminoácidos (BCAA), se sentir necessidade."
Na época em que usava suplementos, Claudio acredita que, como a maioria, foi impulsionado pela busca incansável de objetivos cada vez maiores e melhores, que acabavam levando a um desgaste e cansaço, devido a uma rotina de treinos bem intensa. Mas não foi só isso. "Também acho que o varejo e a mídia especializada contribuíram (e ainda contribuem) para o uso indiscriminado de suplementos. Frequentador assíduo das pistas, vejo seguidamente corredores suplementando sem a menor necessidade. Isso só faz prejudicar o corpo, a mente e o bolso", comenta Claudio, que admite ter sentido diferença no início, mas depois de um tempo foi se acostumando e não fazia muito mais efeito. Hoje, ele acredita que a base da alimentação está no dia-a-dia e não sente necessidade de suplementar, mesmo com carga alta de treino.

CINTO BEM "HUMILDE". A administradora de empresas paulista Elaine Serrano, de 50 anos, é outra que já consumiu muitos suplementos, principalmente quando fez seu primeiro Ironman. Com 17 anos de corrida, foi reduzindo aos poucos e hoje também prefere algo mais natural, mesmo quando treina para maratona ou ultra. "Mudei porque não acho saudável usar tantos produtos que não sei ao certo os componentes. Embora nunca tenha tido lesões, comecei a perceber que muitos suplementos levam as pessoas a treinar num ritmo acima do que deveriam e aí as lesões aparecem", diz Elaine, que foi 5ª colocada geral na maratona trail Lagoa da Conceição 65 km usando recursos bem naturais, com cinto bem 'humilde' e contrariando muitas recomendações dos nutricionistas.
"Fiz os treinos longos com água misturada com gengibre, rapadura, bala de goma árabe e às vezes gel e um saquinho de sal, que 'pego' emprestado dos restaurantes", exemplifica a corredora, que complementa esses treinos com água de coco e Coca-Cola, se tiver alguém vendendo no caminho. Mesmo adotando essa forma de suplementação própria, por recomendação médica a corredora toma vitaminas C, D e ainda ferro, para compensar a falta de carne na sua alimentação.
Assim como Elaine, a professora de educação física paulista Simone Machado, de 44 anos, também é adepta de coisas mais naturais. "Nunca usei nada por opção. Sou bem careta para tudo o que não é natural. Acredito que consigo o que preciso da alimentação. Na prova e nos treinos mais longos, vou apenas no gel mesmo", conta Simone, que tem 20 anos de corrida. Apesar de seguir sua própria estratégia, Simone, que comanda um grupo de corrida na capital, deixa seus alunos bem à vontade para escolher o que quiserem.
"Quando me perguntam o que tomo, eu digo que não tomo nada, mas sempre procuro deixar claro que é uma opção minha e que eu me alimento bem. Oriento meus alunos a procurar um nutricionista. Em geral, eles sentem a necessidade quando o treino para uma maratona começa a ficar mais intenso", comenta a técnica, que acredita que os mais experientes em geral já sabem o que fazer, quando começar e o que cai bem ou não.

PURÊ DE BATATA "SALVADOR". Trabalhando com uma equipe multidisciplinar, o professor de educação paulista Diogo Dias Gamboa, de 33 anos, também deixa a cargo de nutricionista a prescrição ou não de suplementação para auxiliar nos treinos mais intensos. "No máximo, faço orientações sobre hidratação e reposição de carboidrato durante a corrida. Tive alunos que correram maratona e não se adaptaram ao gel. Nesse caso a nutricionista sugeriu um purê de batata 'salvador' ou mel, que resolveu. Muitas vezes eu indico isso nos casos de quem opta por reposição mais natural", comenta o técnico, que hoje comanda uma equipe em Balneário Camboriú, SC, e faz questão de trocar informações com o profissional de nutrição para que o trabalho seja realizado em conjunto. "O nutricionista não vai a campo acompanhar o corredor e o nosso feedback como profissional de educação física pode facilitar o trabalho dele também."
Diogo ainda atenta para o uso indiscriminado de suplementos. "Existe muitos atletas que suplementam sem orientação profissional. O problema maior é quando passam a prescrever dietas, suplementação e até treinos. Colocam não só suas vidas, mas como de outras pessoas em risco", comenta o treinador, destacando ainda a preocupação pela busca por resultados imediatos, que muitas vezes levam o corredor a usar produtos proibidos, sem considerar os riscos para a saúde.

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