Notícias admin 7 de setembro de 2016 (0) (149)

33ª Maratona de Porto Alegre

Algumas maratonas têm como público predominante os chamados "corredores sérios", ou seja, aqueles que vão para os 42 km devidamente treinados ou que acreditam terem se preparados o melhor possível. Lá fora, podemos citar Boston, Roterdã e Berlim nessa categoria, enquanto aqui o destaque é sem dúvida Porto Alegre.
Em comum entre elas a dobradinha percurso e clima favoráveis, sabidamente os dois principais fatores que influenciam os resultados tanto de profissionais como amadores. Com as maratonas de São Paulo e Rio acontecendo este ano em épocas não muito propícias (abril e maio, respectivamente), aqueles que tinham como meta um novo recorde pessoal, uma marca rápida ou uma estreia menos difícil foram à capital gaúcha, e não devem ter se arrependido.
O frio até exagerado (em torno de 5 graus na largada às 7 horas) não chegou a prejudicar, bastando sair mais agasalhado. No percurso quase todo plano, praticamente nenhum público, o que igualmente não chega a ser um fator muito importante para quem está correndo focado no ritmo. Aliás, ao contrário de outras maratonas que já fiz, chamou a atenção o "silêncio" entre os participantes, especialmente na segunda parte, quando os maratonistas já não tinham a companhia dos que faziam os 21 km. Plateia mesmo apenas nos 200 metros finais.
Largada ainda no escuro, com os inscritos das provas menores atrapalhando um pouco a chegada ao pórtico, mas como o que vale é o tempo líquido, tudo bem. A baixa temperatura estimulava todo mundo a correr rápido e eu não fugi a essa regra; procurei me "policiar" para começar perto do ritmo médio de 6 min/km, que era a meta para conseguir o índice para Boston (4h20). Mas acabei passando os 10 km em 55 minutos, sem forçar, o que me animou, mas também me deu um sinal de alerta, já que em Santiago e Punta tinha feito a primeira metade abaixo do que devia, e depois quebrei.
Então reduzi o ritmo e assim fui até a marca da meia-maratona, que cruzei em 1h59, novamente animador, mas agora sentindo maior segurança, apesar do sempre fantasma das cãibras, que me persegue. Como prevenção, estava excepcionalmente usando calça legging, o que dá uma proteção muito boa e não incomoda. O último longão, de 37 km, feito duas semanas antes, no ritmo de 5:50/km, me dava enorme confiança, e efetivamente tudo seguiu muito bem, fazendo a parte final com tranquilidade, já que tinha uma grande folga em relação ao meu objetivo, finalizando em 4h03, portanto 20 minutos a menos que o necessário para garantir a inscrição em Boston 2017.

ELITE E AMADORES. Premiação fraca não atraiu africanos e nem mesmo atletas de elite nacionais de expressão. A vitória foi de João Marcos da Fonseca, em 2:21:37, seguido de Mateus Trindade (2:23:27), Elson Gracioli (2:25:10), Vinicius Bernardo (2:27:25) e Raphael Magalhães (2:30:54). No feminino, Valquíria Marques Oliveira venceu em 2:56:37, vindo depois sua treinadora Dione D´Agostini (3:01:58), Luciana de Lima (3:03:45), Daine Moreira (3:07:48) e Elizabeth Esteves (3:07:59).
No total, completaram 2.209 corredores, sendo 1.710 homens e 490 mulheres. Um crescimento de 14,5% sobre os 1.929 concluintes de 2015, confirmando a maratona gaúcha como a terceira maior no país, depois do Rio e São Paulo, mas próxima com a de Curitiba, prevista para o dia 20 de novembro.

 

Prós e contras
Pela terceira vez corri a Maratona de Porto Alegre. Neste ano, um ponto positivo foi a mudança do início e término da prova para o Parque Harmonia, bem mais centralizado e de fácil acesso aos hotéis. Como boa parte dos corredores vêm de fora, essa alteração foi importante. O percurso ficou ainda mais plano, com os primeiros 21 km muito rápidos, pelas longas retas e poucas curvas. No segundo, vários retornos em 180 graus atrapalhava um pouco os mais velozes.
A edição 33 de Porto Alegre pode ser dividida em duas partes. Uma altamente positiva e que merece elogios: o dia da corrida. A prova foi "redonda", com largada no horário, marcação correta dos quilômetros e placas bem visíveis, e boa hidratação com água e isotônico (além de banana e mexerica).
Na sexta-feira, a entrega dos kits foi tranquila, porém acabou cedo, às 19h, e muitos foram obrigados a voltar à loja do shopping no dia seguinte. Mas a amadora estrutura montada não comportou a demanda no sábado, e longas filas se formaram, obrigando muito gente a esperar até 2 horas!
No domingo, o problema teve relação com o pós-prova, não se divulgando os resultados na arena do evento, nem realizando a premiação por faixas etárias e tampouco no geral da maratona; apenas nos 21 km houve a solenidade. Muita gente passou horas esperando. Após a divulgação dos resultados na internet, na segunda, muitos corredores comentaram que não apareciam na relação.
Depois de Boston, em abril, quando o clima não ajudou com uma mudança climática forte de um dia para o outro, com calor e vento, fui para Porto Alegre com o objetivo de mais um sub 3h. Dessa vez, a temperatura foi uma aliada e consegui fazer uma prova controlada, do início ao fim, fechando em 2:55:52.
Vamos torcer para que a organização de Porto Alegre corrija os problemas em 2017, já estando pré-marcada a maratona para dia 11 de junho, com promessa de uma expo para a entrega dos kits.

(André Savazoni)

 

A sonhada estreia nos 42 km
Havia feito as mais diversas distâncias em corridas de rua. Porém, a maratona era uma prova que ainda não tinha conseguido inserir no currículo. Iniciei um treinamento em 2014 para enfrentar os 42 km, mas que acabou sendo frustrado por uma lesão. O sonho continuou, porém ficou por um período adormecido. Acabei inserindo outras atividades físicas em minha rotina, como natação, ciclismo e a musculação que já fazia como forma de fortalecimento.
Pela saúde utilizo o esporte como forma de controle, já que sou diabético tipo 1. Desta maneira, consigo monitorar de forma eficiente minha glicemia para deixá-la mais estável. Em 2015, comecei a treinar novamente corrida, foi aí então que no começo de 2016 estipulei como meta participar da Maratona de Porto Alegre. Foi um treinamento extenso, onde o treinador Marcelo Diniz teve bastante cuidado para que a lesão não surgisse novamente.
Quando iniciamos a preparação, a data da prova parecia muito distante, mas o tempo foi passando, os treinos fechando, alguns com dores e outros não. Devido ao diabetes, nos treinos longos, testei muita coisa com a finalidade de manter a glicose estável. Além da alimentação, tinha também que saber a dose de insulina que iria aplicar. Este controle requer certa logística, que deve ser bem pensada, conversada e debatida. Os testes foram feitos até terminar os treinos mais fortes.
Chega o tão sonhado dia da estreia nos 42.195 m. Logística para prova pronta, números de sachês de gel definidos. Optei em levar os géis de carboidratos todos comigo, pois iria utilizá-los a cada 40 minutos. Durante a prova fiz algumas reposições com Coca-Cola. Medi a glicemia durante a maratona para verificar a situação da glicose, que se encontrava sempre estável, para minha alegria.
Percorri a distância de forma conservadora, não tinha noção de como meu corpo iria se comportar e reagir. Afinal, nunca havia feito uma maratona, somente sonhado. Larguei com um amigo mais experiente em longa distância, o que ajudou para o controle do ritmo. Percorremos grande parte da prova juntos. Estava me sentindo motivado, talvez por estar correndo em casa, podendo dar um gás a mais para completar a prova, e foi o que fiz. Resolvi aumentar um pouco a velocidade, o corpo respondeu bem ao novo estímulo e segui em frente.
A chegada foi mágica, com centenas de pessoas incentivando nos metros finais. Era impossível não se emocionar. Em questão de segundos, vem à cabeça todo o período de preparação, as dificuldades encontradas durante essa fase e também todas as recusas que somos obrigados a fazer. Passado o pórtico de chegada, a sensação de dever cumprido e sonho realizado foram muito fortes.

(Luciano Vieira Martins)

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