20 de setembro de 2024

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Notícias admin 3 de novembro de 2014 (0) (133)

Mulheres levam a São Silvestre para 22.525 concluintes

A presença das mulheres nas corridas brasileiras ainda é pequena em comparação com o total de homens e, principalmente, com o mercado dos Estados Unidos, onde elas são maioria nas meias-ma-ratonas, por exemplo. Porém, a 89ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, realizada dia 31 de de¬zembro, comprova uma evolução da presença feminina nas provas nacio¬nais. A tradicional competição pau¬listana bateu o recorde com 22.525 concluintes, contra 20.526 de 2012 (2 mil a mais). Se analisarmos apenas as mulheres, elas aumentaram de 4.273 para 5.228 – uma evolução de 22,2%, contra 6,42% dos homens, de 16.253 em 2012 para 17.297 em 2013 (1.044 a mais).
Nos últimos cinco anos, a São Sil¬vestre pulou de 18.051 concluintes em 2009 para 22.525 de 2013. Se-parando as mulheres, elas foram de 3.126 corredoras para 5.228, ou seja, um crescimento de 67,1%. Neste mesmo período, de cinco edições, a participação masculina foi de 14.925 para 17.297 (aumento de 15,9%, ou 2.372 corredores). Assim, em 2009, a divisão dos sexos tinha 82,7% de homens e 17,3% de mulheres. Hoje, esses números são de 76,8% contra 23,1% delas.
Mari Mazzio, de São Paulo, é uma das estreantes que ajudaram a mais famosa corrida brasileira a crescer. "Correr nunca foi um sonho para mim, mas, por mais estranho que isso possa parecer, participar de uma São Silvestre era. Por ser a nossa prova mais ‘folclórica', por estar presente na minha vida há tantos anos e por acontecer dia 31 de dezembro, data em que repenso o ano intei¬ro que ficou para trás", disse Mari. "Desde pequena, quando morava em outro Estado, assistia ao evento pela TV. Depois, ao mudar para São Pau¬lo, por coincidência, o trajeto passava na rua da minha casa e lá estava eu, torcendo com a mesma intensidade para os primeiros colocados e depois para os personagens em geral."
De acordo com a corredora, a rela¬ção profissional a levou para o espor¬te. "No ano passado, coordenei um projeto de corrida chamado ‘Desafie¬-se' e tive um contato intenso com oito grandes assessorias de corrida do Brasil. Este projeto acabou me ‘desa¬fiando' também e, após praticamente 20 anos sem atividade física nenhu¬ma e com 30 kg acima do meu peso, com o apoio de uma das assessorias, a Ztrack, resolvi que era hora de co¬meçar a correr. Fiz os meus primeiros 10 km, depois uma meia-maratona e, quando me dei conta, lá estava eu en¬tre os ilustres desconhecidos da SS, correndo os 15 km", contou.

CAMINHADA. "Como que em um ‘de¬javu', estavam lá todos aqueles ícones que há anos participam da corrida: o garçom, o Roberto Carlos, o Pelé, vários palhaços e até um Homem de Ferro! Durante a prova, minha ‘preocupação' era chegar à tão temi¬da subida da Brigadeiro, onde eu sa¬bia que não subiria de jeito nenhum correndo, pois não estava preparada para ela. Largamos e, algum tempo depois, me vi cara a cara com o meu desafio, até dei uns passinhos trotan¬do, mas como já era sabido, entreguei os pontos e, caminhando nos últimos dois quilômetros, tive o meu momen¬to de reflexão, de rever o ano todo. Fiquei emocionada e, ao contrário do que imaginei, não estava triste por subir caminhando, mas feliz em po¬der estar ali realizando aquele sonho que para mim era uma realidade tão distante."
Com três participações na São Sil¬vestre, a carioca Juliana Gomes, do Rio de Janeiro, destacou o crescimen¬to visível do número de participantes. "Meu primeiro quilômetro foi muito lento em relação aos demais, inclusi¬ve na subida da Avenida Brigadeiro. Mas isso não foi um fator negativo já que um atleta que conhece bem a São Silvestre sabe que não é uma prova para tempo, é uma confraternização entre corredores de todo o país. Pela primeira vez corri fantasiada e senti muito mais a vibração dos espectado¬res", disse a carioca. "Assim como em 2012, novamente disponibilizaram isotônicos em sacos. Ainda acho que é uma quantidade muito grande e desnecessária, metade já seria sufi¬ciente. Mas a ideia é genial e espero que continue nos próximos anos. Os postos de hidratação continuam ten¬do espaços muito grandes entre si; senti isso na pele com a temperatura alta desta edição. Um ponto positivo foi a boa camiseta entregue no kit. Além disso, a medalha continua sen¬do um espetáculo à parte, um belo troféu a ser exibido."
Juliana citou que, pela segunda vez, participou da largada pela manhã. "Essa mudança ajuda bastante os corredores de outros Estados. Corri a edição de 2010 de tarde e tentar passar o Ano-Novo ao lado dos meus parentes foi uma missão quase im¬possível", explicou. "A São Silvestre é uma prova que sempre tenho vonta¬de de correr. Apesar do tamanho do evento trazer diversos pontos nega¬tivos, como hidratação insuficiente e horário de largada incompatível com as temperaturas de dezembro, ela ainda é a prova que faz a corrida de rua ser lembrada no Brasil. E correr a São Silvestre é motivo de orgulho para qualquer corredor!"

DE CORRIDA A FESTA. Realmente, esse é o grande espírito da prova, que fica cada vez mais nítido com o passar das edições. O evento vai dei¬xando de ser uma corrida (por inú¬meros fatores que citaremos ao longo deste texto), para se transformar em uma festa, uma confraternização de grupos, amigos, colegas de trabalho, fantasiados ou não, com ou sem pla¬cas e faixas. A própria forma de agir da organização leva a isso, pois com o aumento do número de participantes, sem qualquer separação de ritmos, baias ou ondas, a lotação é enorme. Nesta última edição, com duas horas e meia após a largada, a Avenida Bri-gadeiro Luis Antonio estava lotada de gente, como na largada.
Os dados de concluintes divulgados pela organização no site oficial (www. saosilvestre.com.br) comprovam essa tendência de "procissão" da São Sil¬vestre. Dos mais de 22 mil concluin¬tes, somente 7.004 completaram abaixo de 1h30 pelo tempo líquido, o que dá uma média de 6:00/km (6.451 homens e 553 mulheres), ou seja, 31,1%. A maioria dos concluintes fi¬cou entre 1h30 e 2h – 12.155 corredo¬res (8.960 homens e 3.195 mulheres), enquanto outros 3.361 corredores completaram a SS acima de duas ho¬ras (1.886 homens e 1.480 mulheres), sendo 3:27:41 o tempo do último a cruzar a linha de chegada, conforme os dados disponibilizados até o fecha¬mento desta edição.
Essa tradição de encerramento de ano, de festa, é a "alma" da São Silvestre. A corrida fica em segundo pla¬no. Basta permanecer uma hora em pé esperando pela largada, na Aveni¬da Paulista, para ouvir histórias de pessoas que "correm" uma prova por ano, ou seja, os 15 km no dia 31 de dezembro. Ou gente que tem no cur¬rículo no máximo 10 km como trajeto mais longo, mas enfrenta caminhan¬do e trotando o difícil percurso pau¬listano. Ano após ano, a caminhada começa mais cedo, para muitos ao cruzar o tapete de largada… Outros têm motivos para estar presentes edição após edição. Como Conrado Guin, que completou a prova pela 12ª vez consecutiva.

CONTAMINADO PELA SS. "Comecei aos 19 anos, em 2002, na 78ª edição, sem saber ao certo nem que tênis cal¬çar. Nesse tempo, vivenciei altos e baixos. Quebrei tanto recordes pesso¬ais como também precisei caminhar por desleixo e falta de preparo físico. A relação que nutro com a São Silves¬tre é como a de um adolescente que descobre o primeiro amor. Sempre que estou na prova, momentos antes da largada, o coração bate forte, a ale¬gria da galera contagia, me sinto vivo e agradeço por isso", disse. "Creio que se não fosse a magia do evento e o po¬der de transformação que ele exerce sobre os corredores, eu já teria aban¬donado o barco faz tempo. Afinal, o que faz o camarada deixar família e sossego no dia 31 de dezembro para passar calor e aperto no quente as¬falto de São Paulo? O nome disso só pode ser paixão!", afirmou Conrado. "Como muitos, reprovo falhas na or¬ganização, o alto valor cobrado na inscrição (na minha primeira parti¬cipação paguei ‘míseros' R$ 30), alte¬rações de percurso nos últimos anos, mas o que posso fazer se fui conta¬minado pelo vírus da São Silvestre? Só me resta aguardar ansiosamente pelo próximo dia 31 de dezembro e treinar com foco na quebra do meu sexto recorde pessoal na corrida de rua mais apaixonante do Brasil."
Quem retornou à capital paulis¬ta com motivos para comemorar a "prova da vida" foi Alberto César de Souza. "Após 15 anos desde a última participação, em 1998, eu era pura emoção e, de certa forma, ‘cegueira'. Pois, mesmo após um ano intenso de treinamentos e mais de 20 com¬petições, com percursos entre 5 km a 21 km, redução do peso de 107 kg para 95 kg, o meu último teste ergo¬métrico apontava para uma possível ‘resposta isquêmica do miocárdio'; essa situação foi desmentida em um exame de cintilografia, mas não o su¬ficiente para a liberação pelo cardio¬logista, que só o faria após uma an-giotomografia de artérias coronárias, em 2014, o que na prática significava que eu estava fora da 89ª Corrida In¬ternacional de São Silvestre", contou Souza.
No dia 28 de dezembro, ele fez um último treino de 11 km. A meta era terminar a São Silvestre em menos de 1h30. "Com a cara, a burrice, a empolgação e uma alimentação à base de carboidratos no dia anterior e o meu tradicional café com leite e pão com manteiga pré-prova, lá esta¬va eu para a minha sexta participa¬ção. Alguns poucos amigos e a minha família sabiam da situação dos exa¬mes, porém, por mais que alguns ten¬tassem me dissuadir, a decisão já es¬tava tomada, não com a cabeça, mas com o coração. Larguei com exatos 17 minutos do início da largada, no que pude chamar de corrida e caminha-da de São Silvestre, naquilo que era possível naquele mar de gente. Corri cerca de 500m, com alguns amigos da empresa e da mesma assessoria esportiva, filmando e fotografando (sempre em movimento) os minu¬tos iniciais do trajeto, até que antes do final da Avenida Paulista decidi desgarrar do nosso pelotão ‘corpora¬tivo'", afirmou Souza.
"Mesmo com o trânsito de corredo¬res, caminhantes e ‘turistas', situa¬ção comum em grandes eventos es¬portivos de rua, consegui desenvolver uma velocidade próxima do meu ob¬jetivo nos 4 km iniciais, porém, como a grande maioria das largadas das provas de que participo acontecem entre 7h e 8h e eu não estou acostu¬mado a treinar sob o sol forte, no km 5 já estava com o ritmo bem acima do programado. Não encontrei proble¬mas em me hidratar, pois, ‘geladas ou não', lá estavam as garrafinhas, ora indo à boca, ora servindo como ducha para amenizar o calor."

PROVA DE VIDA. Felizmente, Souza comemorou também o fato de a fre¬quência de batimentos ter se manti¬do abaixo do limite. "Mas o receio de ‘cair duro' durante o percurso rondou a minha mente, pois tenho histórico familiar de problemas cardíacos. Ao chegar no início da Brigadeiro, um novo mar de gente tomava conta da subida de ponta a ponta. Era como se todos os participantes tivessem com¬binado para subi-la ao mesmo tempo. Voltei a encontrar alguns amigos. Não chorei de emoção ao entrar na Paulista, mas corri aqueles últimos metros como se fossem os últimos da minha vida. Não que eu quisesse pro¬var que os exames estavam errados, mas pelo fato de que eu merecia estar ali, naquela que foi a melhor corrida da minha vida."
Além da largada tumultuada e do trânsito, que já foram motivo de vá¬rias reportagens na Contra-Relógio nos últimos dois anos e que a organi¬zação realmente faz questão de "igno¬rar", o calor foi um grande adversário para os corredores, principalmente pela largada às 9h. O que chamou a atenção foi a diminuição do público nas ruas, com bem menos gente do que em 2012 e, principalmente, em relação ao período em que a largada era no final da tarde. Mesmo no tre¬cho do Viaduto do Chá, entre o Te¬atro Municipal e o Largo São Fran¬cisco, que tradicionalmente tem boa lotação, estava com vários "clarões" e pouca gente. Independentemente de tudo isso, a tradição da São Silvestre é maior do que qualquer organização, a corrida tem "vida própria" e milha¬res de corredores de todo o Brasil já estão fazendo planos de estar no pró¬ximo dia 31 de dezembro, completan¬do os 15 km da 90ª edição.

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