20 de setembro de 2024

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Sem categoria admin 11 de julho de 2011 (2) (91)

Em busca do Green Number

O que leva uma pessoa a correr anos e anos a mesma prova? Ainda mais uma extremamente difícil e longa (89 km), como a Comrades, na África do Sul… No caso de Nato Amaral, de 39 anos, de São Paulo, que no dia 29 de maio completa sua 10ª participação na famosa ultramaratona, são vários os fatores envolvidos: desafio, conquista pessoal, amor incondicional.

"Os africanos falam que quando você corre uma vez a Comrades, muda sua vida para sempre. Desde o início essa prova reforça em mim valores que eu considero importantes, como determinação e superação. Mas acho que o grande legado dela é o espírito de camaradagem existente ali; é ajudar irrestritamente o próximo sem esperar nada em troca", diz com um brilho no olhar. "Não imagino um mês de maio em minha vida sem ir para a África para correr a Comrades", completa, deixando claro que pretende continuar a jornada.

Ao conquistar o Green Number (número verde), honraria concedida àqueles que completam a ultra por 10 vezes, Nato, já nomeado Embaixador da Comrades no Brasil, se tornará o primeiro brasileiro e sul-americano a conseguir o feito, com direito à perpetuação de seu número de peito e ingresso no Hall of Fame da prova. De 85 mil corredores que já participaram da Comrades desde sua criação, em 1921, apenas 7 mil obtiveram essa honraria.

Foi nessa expectativa que ele recebeu a reportagem da Contra-Relógio em sua casa, mostrando sua face de corredor racional e focado – com planejamentos e treinos minuciosamente registrados -, mas também revelando um lado mais sensível. "Choro de emoção até em treino", confessou.

 

O INÍCIO DE TUDO. Em 1997 o corredor Marcio Milan, orientado pelo técnico de atletismo Wanderlei de Oliveira, se tornou o primeiro brasileiro a completar a Comrades. Em 1999, foi a vez do treinador Vanderlei Severiano, o Branca, organizar um pequeno grupo para a ultra. Nato treinava com ele e ouviu de seu técnico: "Um dia você ainda vai fazer essa prova".

Foi só em 2001 que Branca sentiu o pupilo preparado. "Ele chegou para mim e disse: ‘agora é a sua vez'. Fiz o que ele mandou", brinca. Nato havia corrido poucas maratonas até então – Nova York, São Paulo e Blumenau – e por conta da "falta de experiência" em longas distâncias muita gente não acreditava que ele pudesse completar a Comrades.

Mas ele foi lá e fez. E fez bem feito, superando os 89 km em 8h33. "Fui o primeiro brasileiro a chegar naquele ano e registrei o segundo melhor tempo entre os brasileiros em todas as edições". Foi nessa sua primeira participação também que ouviu falar do Green Number. Secretamente desejou essa conquista. "Só falei dessa minha intenção ao Branca".

Em 2002, no entanto, por uma série de razões pessoais, Nato não conseguiu participar da ultra. Mas de 2003 em diante, não falhou uma. Tornou-se amigo de Bruce Fordyce, conhecido como o "rei da Comrades", por suas várias vitórias na prova, e conquistou inúmeros amigos na África. "Me sinto em casa lá".

 

A PEDRA AZUL E AS MEDALHAS. Desde sua segunda participação na Comrades, Nato carrega uma pedrinha azul, presente de seu treinador Branca. "Ele me falou para apertá-la na mão sempre que passasse por alguma dificuldade. Coloco-a no bolsinho do meu short. Virou meu amuleto".

Já precisou dela algumas vezes, como no ano passado. "Foi a corrida mais difícil. Passei mal, fiquei com medo de sofrer um colapso e não terminar". Felizmente tudo acabou bem: em 10h19 e com lágrimas nos olhos".

A Comrades, sem dúvida, desperta emoções. Mas elas não se restringem à cruzar a linha de chegada. "Ao me vestir para sair para um treino, especialmente um longo – que pode chegar a 60 km -, vou me transformando", diz. É uma espécie de ritual, em que Nato vai moldando o corpo e o espírito. E o momento final desse rito é olhar as medalhas já conquistadas, que ocupam um espaço nobre na sala de sua casa. "Paro diante delas e conto: nove! Este ano trarei a décima".

A COMRADES E O DIA-A-DIA…

Para quem tem lastro de corrida, cerca de seis meses bastam para uma boa preparação. Como a Comrades é realizada no final de maio, é preciso iniciar o treinamento em dezembro. "No último mês do ano eu começo a rodar de leve. Mas é no dia 1º de janeiro que dou a largada oficial para meus treinos", revela Nato.

É necessário muita disciplina para cumprir planilhas, trabalhar e dar conta de família e amigos. "Eu me empenho muito para não prejudicar a vida familiar e profissional. Mas confesso que a vida social às vezes fica um pouco comprometida. Às sextas-feiras, por exemplo, quando os amigos costumam sair, eu vou dormir muito cedo, para descansar para o longo de sábado".

No processo de preparação, treinar o lado psicológico também é fundamental. "Eu mentalizo a prova, me vejo correndo lá, crio estratégias para fortalecer minha mente". Quando precisa de uma força a mais, Nato, que não costuma correr ouvindo música, apela para uma única canção: Carruagens de Fogo. "É uma das músicas que toca antes da largada da Comrades", explica.

 

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2 Comments on “Em busca do Green Number

  1. nato voce ja e um vencedor parabeñs deus te protejã em todas as provas

  2. Parabêns por sua dedicaçâo e força de vontade.
    Eu já fis 8 maratonas e alguns revezamentos no brasil.
    Depois que encarei solo de Bertioga a maresias os 75km pela primeira vez com muita coragem e com algumas dificuldades!,quando cheguei no final ! ai dei conta que eu nâo tinha limite de mim !!
    Sempre vejo notícias de Comrades,acho o maxîmo essa prova,em breve quem sabe estarei lá ao seu lado..Parabêns..que Deus abençôe a todos os Corredores de rua.

    Mauro Barboza – 50anos de Guarulhos – Sâo Paulo

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