Sem categoria admin 11 de julho de 2011 (1) (235)

As vitórias de Giovani dos Santos

As atenções da última São Silvestre voltaram-se para o brasileiro Marilson Gomes dos Santos, campeão da prova. Mas Giovani dos Santos, quarto colocado geral e segundo brasileiro na tradicional competição, também precisa ser considerado vencedor. Aos 29 anos e apenas um ano e nove meses como profissional no atletismo, ele começa a colher expressivos resultados no esporte, depois de superar várias dificuldades na vida.

Nascido em Natércia (MG), cidade próxima a Pouso Alegre, Giovani teve uma infância difícil ao lado dos pais lavradores e dos 10 irmãos. Aos 12 anos, com a morte do pai, mais do que nunca teve que ajudar a família. "Trabalhava na roça, plantava café, banana, milho, feijão. Tinha de trabalhar, ajudar em casa, estudar. Foi uma infância sofrida", conta.

Aos 16 anos, conheceu a bebida. Mesmo que os tragos inicialmente fossem apenas aos finais de semana, atrapalhavam a vida do garoto. "Algumas vezes tinha umas crises, ficava fora do ar, não sabia o que estava fazendo."

Em 2001, ao alistar-se para servir o Exército, sem saber começava a mudar sua história. Algum tempo depois, já convocado, entrou em contato com o esporte. "Nunca havia pensado em correr, mas no quartel tinha que fazer educação física. Passei a participar de algumas competições e me diziam que eu tinha dom para a corrida. Mas eu não levava a sério", lembra.

Giovani comenta que por conta do álcool passou por situações delicadas. "Algumas vezes não sabia se bebia ou se corria. Chegava ao ponto de me apresentar no quartel de ressaca para ir para as competições". Apesar de tudo, costumava obter bons resultados. "Meu capitão falava: ‘se de ressaca ele ganha dos outros, imagina se estivesse sóbrio'".   

Foi um amigo – o soldado Roberto – quem mais o incentivou a se livrar do alcoolismo e investir definitivamente no esporte. "A essa altura da vida eu já tinha família, tinha uma filhinha… Minha esposa também me dava força. Aos 25 anos resolvi parar de beber. E como Deus tinha me dado o dom de correr, passei também a levar mais a sério o esporte", diz.

 

PÉ DE VENTO. Como soldado do Exército, frequentemente era inscrito para competições. Uma delas foi a Meia-Maratona da Corpore, em 2009, na capital paulista. "Eu e um amigo fomos para São Paulo, não conhecíamos a cidade. Foi uma dificuldade chegar."

Além da vontade de realizar uma boa prova, Giovani tinha uma idéia na cabeça. "Ouvia falar do Henrique Viana, da Equipe Pé de Vento; sabia que era um bom treinador e ainda por cima era médico. Falei para meu amigo que iríamos procurá-lo para ver se ele nos treinava". O amigo duvidava que a investida pudesse dar certo: "Será que ele vai querer treinar a gente? Somos simples, não temos tempos bons…" Na época, os soldados faziam 10 km para 31 minutos, o que não era nada ruim, diga-se de passagem.

Ao ser abordado por Giovani, Viana ficou em dúvida em treiná-lo (leia boxe). Mas por fim aceitou. "Em minha primeira corrida pela Pé de Vento – 10 km da Tribuna de Santos -, cheguei na 16ª colocação, sentindo que eu tinha muito a melhorar", conta o corredor.

Entre os bons resultados de Giovani, em tão pouco tempo, estão ainda o 5º lugar na Pampulha e o 18º na São Silvestre em 2009; e o 4º lugar na Pampulha em 2010. "Se não fosse o Henrique Viana, eu poderia até estar correndo, mas não com tantas chances de crescer no esporte", reconhece Giovani.

Pelas mãos do treinador da Pé de Vento, o corredor de Natércia também já alçou outros longos vôos. No ano passado participou do Mundial de Meia-Maratona na China, onde obteve a 40ª colocação, com o então recorde pessoal na distância de 1:05:41. Hoje sua melhor marca nos 21 km já baixou para 1:04:32.

 

TEMPORADA 2011. Atualmente em período de transição no treinamento, Giovani dos Santos comenta que os objetivos da temporada são diminuir os tempos nos 10 km (seu recorde é 29:20) e nos 21 km. E entre seus sonhos de corrida está a Maratona de Nova York.

 Para cumprir seus planos, se dedica muito aos treinos e se inspira em ídolos como Vanderlei Cordeiro, Marilson Gomes e Damião Ancelmo. "Quero chegar onde eles estão. Creio que com meu potencial e com a graça de Deus vou conseguir."

A PALAVRA DO TÉCNICO

Fundador da equipe Pé de Vento e membro do Conselho Técnico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Henrique Viana já treinou nomes expressivos do atletismo como Ronaldo da Costa, Luiz Antonio dos Santos e Franck Caldeira. Ele conta como se deu a aproximação com Giovani:

"É muito comum atletas me procurarem, tentando seguir o caminho de outros ídolos do passado e do presente da Pé de Vento. Quando ele me procurou na corrida da Corpore, percebi que não tinha resultados importantes e que não seria interessante treiná-lo. Entretanto, decidir aceitar o desafio porque Giovani me pareceu bastante focado e queria dar a volta por cima na história do alcoolismo."

Segundo Viana, o atleta hoje se dedica muito aos treinos – parte em Natércia, parte em Petrópolis (sede da Pé de Vento) -, fazendo um total de 180 km por semana, entre rodagem, treinamento intervalado e corridas longas. "Para 2011, planejamos os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, e o Campeonato Mundial de Atletismo, na Coréia do Sul", revela.

E se no começo Giovani teve alguma dificuldade de seguir as orientações gerais do técnico – principalmente querendo participar de muitas competições -, hoje está totalmente enquadrado e colhe bons resultados. "Temos um entrosamento muito grande e agora ele procura seguir tudo certinho. Creio muito em seu potencial e sei que tem muito caminho pela frente, podendo chegar aos Jogos Olímpicos de Londres e mesmo os do Rio de Janeiro", vibra Henrique Viana.

 

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One Comment on “As vitórias de Giovani dos Santos

  1. Excelente história de superação deste atleta,ótima reportagem da revista contra-relógio.que outras pessoas com problemas parecidos, se superem.
    A Corrida é ótimo pra isto.

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