A Disney Marathon Weekend confirmou ser a prova preferida dos brasileiros no exterior. Com 55 mil inscritos em todos os eventos, mesmo número do ano passado, o evento reitera ainda mais sua posição de prova festiva, feita na medida certa para quem quer correr e passear. A surpresa de 2011 ficou por conta do resultado da maratona, que consagrou o baiano Fredison Costa, como o novo campeão de uma prova que há seis anos seguidos não via outro atleta cruzar a linha de chegada em primeiro a não ser o heptacampeão da disputa, o paulista Adriano Bastos.
Se no ano passado o evento já mostrou um grande número de corredores do país, com 724 concluintes nas duas provas, este ano esse contingente subiu para 950, novo recorde e disparada a maior participação no exterior. Foram 602 na meia, 149 na maratona e 199 no Desafio do Pateta (participação nas duas corridas), com o detalhe de que o crescimento aconteceu apenas na corrida de 21 km, uma vez que na de 42 km ficou estacionado. Vale lembrar que nessas contas não estão brasileiros que moram nos Estados Unidos, sendo as listagens aqui publicadas apenas de pessoas que para lá viajaram no começo de janeiro. O Brasil continua atrás somente do Canadá entre as delegações estrangeiras no evento.
Com presença tão marcante, até os locutores oficias se renderam aos sempre animados brasileiros que cruzavam a linha de chegada, a maioria vestida de verde e amarelo e segurando a bandeira do país, avistada de longe. O que mais se ouvia eram frases do tipo "e lá vem mais um corredor do Brasil…".
E nem o frio do ano passado, com 2 graus negativos na largada da maratona e princípio de neve na meia, foi suficiente para espantar os brasileiros, que encaram a Disney como uma prova mais para se divertir do que propriamente para correr para performance. Ainda que o circuito pelos parques temáticos de Orlando, com pouquíssimas subidas, permita se alcançar bons resultados, principalmente para os competivos na faixa etária, que podem comprovar índice técnico para largar nas baias da frente, a maioria dos corredores se rende ao mundo encantando do Mickey e entra na prova com espírito mais participativo. Tanto é que a Disney é uma das provas com média de tempo de término mais alta nos Estados Unidos, com grande quantidade de concluintes acima de 6 horas na maratona. Outro dado que chama atenção é o número crescente de concluintes na meia (de 11.192 em 2010 para 17.344 em 2011) e o decréscimo na maratona (de 10.951 para 8.908). No Desafio do Pateta, os números mostram 4.621 concluintes, dados inferiores ao ano passado (5.982), mas explicado pela edição do ano anterior ter sido comemorativa e aberta a mais de 7 mil inscritos.
E mais uma vez é o público feminino que chama a atenção nos 21 km. Dos concluintes, 12.409 são mulheres, dados que demonstram a tendência entre os norte-americanos de ter a meia maratona não só como a distância que mais cresce em número de participantes, como também a prova preferida por mulheres.
TAMBÉM 5 KM. A Meia da Disney parece ser a porta de entrada para quem um dia sonha em fazer os 42 km ou até mesmo o baladado Desafio do Pateta, que consiste em concluir a meia no sábado e a maratona no domingo. E no caso do cearense Victor Higino Pereira Simões, de 42 anos, optar por correr os 21 km na Disney foi, além disso, também uma forma de celebrar a vida. Industrial gráfico em Fortaleza, ele começou a correr há 3 anos, quando sua esposa, Adriana Menezes Ferreira Simões, também de 42 anos, terminou um tratamento de câncer de mama e, como recuperação, os médicos recomendaram que adotasse uma atividade física regular.
"A primeira coisa que me veio à cabeça foi começar a andar na Beira-Mar", lembra Victor, que acompanhou a esposa em todo esse processo de recuperação, demorado devido aos fortes medicamentos que afetavam principalmente sua resistência. Ele começou a andar junto com a esposa, mas a impaciência de chegar mais rápido ao fim do percurso fez com que passasse logo a correr. Depois de várias provas de 5 e 10 km, fez sua primeira meia no Rio de Janeiro em 2008 e outras que vieram a seguir.
A idéia de correr em Orlando surgiu também como forma de curtir uma viagem a dois com a esposa. E a Disney, que tem eventos para todos os gostos, idades e preparo físico, caía com uma luva para incentivar Adriana, que até então apenas alternava caminhada com corrida, a fazer sua primeira prova de 5 km correndo. O Buzz and Woody's Best Friends 5k, corrida festiva que acontece dentro do Epcot na sexta-feira foi sua prova de estréia.
Depois de cumprir o desafio com a esposa, com quem tem duas filhas e é casado há 17 anos, Victor acordou às 3h da manhã no dia seguinte para ir para a largada dos 21 km. Para quem carregava o sonho de infância de um dia poder visitar o mundo mágico da Disney, o fato de ter que acordar cedo, sob o frio da madrugada, e ainda ser colocado para sair na última das oito largadas não chegaram a ser motivo de chateação. "Foi tudo muito bom", diz Victor, que terminou a prova em 2h41 e, como a maioria, elegeu a parte mais emocionante da prova a entrada no parque temático, o que acontece apenas perto do final. Aliás, as personagens espalhadas pelos parques fazem a cabeça dos corredores, que correm com câmera fotográfica na mão e por vezes deixam a corrida de lado para entrar em filas e serem clicados ao lado de personagens como Tico e Teco, Capitão Gancho, a Bela e a Fera e tantos outros.
DESAFIO DO PATETA. Ainda que pesem os dados estatísticos a favor dos 21 km, aqueles que verdadeiramente briham no evento são os chamados Goofy's (Pateta em inglês), que correm a meia no sábado e a maratona no domingo, com o direito de levar para casa uma terceira medalha. O Desafio do Pateta só não tem mais adeptos porque o número de inscritos é limitado a 5,5 mil. E não são apenas os norte-americanos que optam pelo Pateta. Pelo que os dados da prova deste ano indicam, os brasileiros também resolveram deixar a maratona de lado para aderir à versão mais longa do evento. Dos 950 brasileiros na prova, 199 cruzaram a linha de chegada do Desafio, número maior que ano passado, quando o Brasil registrou 166 participantes.
A funcionária pública Beatriz Helena da Silva, 43 anos, de Brasília, foi uma das que decidiu enfrentar esse desafio, junto com o namorado, o militar Valter Ferreira da Rocha, também de 43 anos. "Foi idéia dela", faz questão de dizer Valter, que corre há 10 anos e agora tem no currículo oito maratonas, sendo 3h07 o melhor tempo.
Enquanto muitos corredores incorporam personagens dos desenhos animados para entrar no clima da prova, este casal resolveu inovar e levar as cores da bandeira do Brasil para a prova de uma maneira bem inusitada. Vestidos numa só camisa, cruzaram a linha de chegada do Desafio do Pateta, sendo muito aplaudidos pela arquibancada e anunciados pelo locutor do evento. Ao final, a pergunta era inevitável: "Vocês correram assim?" não, não foi isso que aconteceu. Correndo separados, a missão de Valter para o domingo era terminar a prova e correr para o guarda-volumes para pegar a camisa feita sob encomenda e esperar Beatriz a cerca de 150 metros do final para que pudessem cruzar a linha de chegada juntos.
Mas os planos quase foram por água abaixo quando Valter, que havia feito 1h26 na meia, literalmente "quebrou" na maratona e foi alcançado por Beatriz por volta do km 35. "O que você está fazendo aqui? Era para você já estar me esperando no ponto que combinamos, com a camiseta", disse Beatriz, que fez o 21 km em 1h52 e os 42 km em 4h40. Não querendo desapontar a namorada, Valter deu um tiro de 7 km até o final, mas com a pressa de chegar a tempo no local combinado, acabou caindo e ralando o braço no tombo. "Eu estava cansado. Já tinha corrido 42 km e a perna não obedeceu, mas eu não podia decepcioná-la", emociona-se Valter ao contar o feito.
Para o casal Valter Abreu, professor de 52 anos, e Juraci Rodrigues, advogada 42 anos, de Guarulhos, poder levar para casa a medalha do Pateta tinha um significado bem diferente de todos os outros corredores que ali estavam. Isso porque na edição de 2010 eles perderam a inscrição do Desafio, conseguindo se inscrever isoladamente na meia e maratona. Mesmo finalizando as duas provas, não receberam a terceira medalha, que coroaria a participação no Pateta. Prometeram voltar em 2011 para cumprir novamente o Desafio, dessa vez inscritos oficialmente no Goofy.
Para Juraci, que é advogada e tem 42 anos, a experiência deste ano foi muito melhor que a do ano passado, também devido ao pouco frio. "Este ano a temperatura estava maravilhosa. Curtimos muito mais, até porque já conhecíamos o percurso. Ano passado fizemos a meia para 2h49 e a maratona para 5h45 e agora 2h27 e 5h08".
O médico encocrinologista Henrique Lopes, de 50 anos, é o que se pode chamar de multiplicador, que no mundo da corrida são aquelas pessoas em que outras se espelham e se motivam. Corredor há 12 anos, Henrique, que nasceu e vive na cidade de Araras, interior de São Paulo, já tem 12 maratonas na bagagem, um Ironman e até uma Comrades.
Um dos principais motivos de satisfação do médico na Disney, que correu pela primeira vez o Desafio do Pateta, foi ter conseguido incentivar sua irmã, Ana Amelia Lopes Puls, de 46 anos, médica hematologista, a começar a correr e fazer sua estréia nos 21 km. "Ela era sedentária e com o corrida perdeu 22 kg em dois anos e ainda teve um problema circulatório, em que os médicos a desaconselharam a continuar a correr. Minha grande emoção de fazer o Pateta foi a celebração pela vitória da minha irmã", conta Henrique, que, ao completar seus 21 km, foi para a arquibancada para aguardar a chegada de Ana. No dia seguinte correu a maratona para 4h09, sem se preocupar muito com o tempo final. "Terminei a prova e coloquei as quatro medalhas (também a dos 5 km) no pescoço. Fui muito fotografado por americanos que estavam assistindo e pediam para tirar uma foto mostrando todas as medalhas. Isso é um diferencial."