Notícias admin 4 de outubro de 2010 (2) (116)

59 brasileiros terminam os 89 km da Comrades, na África

 

Apesar da organização anunciar o recorde de mais de 23 mil inscritos, o número de concluintes ficou na casa dos 14 mil, pouco acima dos tradicionais 11 mil que terminam todo ano. Desta vez, 59 brasileiros conseguiram a tão desejada medalha (que são de 4 tipos, de acordo com o tempo alcançado, mas todas muito pequenas), dos 71 que estavam previstos para largar.

Após as reportagens da Contra-Relógio em 2007 e 2008, inclusive com o  editor da CR completando nas duas vezes, a Comrades passou a ser o sonho de muitos brasileiros. O grupo do Brasil, que normalmente era restrito a menos de 10 participantes, começou a crescer e neste ano chegou a 71, o 4º maior na prova, atrás apenas da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Austrália.

O crescimento da participação foi geral, uma vez que dos tradicionais 12 mil corredores, as inscrições chegaram este ano a 23 mil (quase 7 mil estrearam!), em função principalmente da Copa do Mundo de Futebol, que começou duas semanas depois da corrida e por ser a 85ª Comrades. E para estimular essa participação se manteve o percurso em "descida", desde Pietermaritzburg até Durban, totalizando 89 km. Apesar da longa distância, muitos corredores sul-africanos e que são predominantes (95%) estão lá todo ano, sendo que 3 mil já a fizeram dez vezes (com direito ao famoso "green number"), 405 mais de vinte e 34 mais de trinta Comrades. Nato Amaral é o brasileiro com maior participação na prova, tendo completado a 9ª este ano, portanto deverá conseguir seu número verde em 2011.

O tempo-limite da prova é de 12 horas e a maioria consegue completar, com direito à medalha. Mas quem chega depois de 12 horas nada recebe e inclusive não tem direito sequer a passar pelo pórtico. Neste ano eram 78 os brasileiros inscritos, mas apenas 71 confirmaram e alguns não apareceram na largada, assim como foram poucos os que ficaram pelo percurso ou foram desclassificados nos vários postos de controle. Chegaram 59, cujos resultados estão na listagem.

PELAS MONTANHAS, RUMO A DURBAN
Por Ney Caires Sousa

Do alto da Cowie's Hill eu vejo o Oceano Índico e a cidade de Durban pela primeira vez, quase oito horas depois de ter começado a corrida. Meu corpo já fraquejado é levado à frente principalmente pela minha força mental. Eu tenho consciência disso. Mesmo assim, faltando apenas 23 km, tenho sérias dúvidas se terei condições físicas e psíquicas para chegar ao final no Saahara Stadium. Tento amenizar as dores musculares desviando o meu pensamento para a paisagem deslumbrante à minha volta e a multidão de corredores que vejo deslizar montanha abaixo.

Penso na noite mal dormida no Hotel Tropicana, no despertador à uma hora da manhã, no café-da-manhã às duas horas no saguão do hotel já cheio de corredores. Penso no trajeto de ônibus de Durban a Pietermaritzburg (onde inicia a Comrades) e a longa conversa com meu amigo Shibata, comradeiro experiente.

E com prazer, o que me dá mais forças ainda, penso na largada lá em cima em Maritzburg. Em frente à prefeitura, não obstante o frio de 6 graus, a poucos minutos da largada, ouço com apreensão de novato o alarido dos corredores. Mais de 20 mil, dizem. A música Shosholoza cantada pelos sul-africanos e o cacarejo do galo, toda esta história muitas vezes repetida aqui na CR e bem conhecida, mas que verdadeiramente emociona. 

Penso na felicidade ao ver o sol nascer detrás das montanhas, uma hora depois da largada, creio que ainda na subida Polly Shorts. Havia várias subidas alí, é verdade, mas com apenas 10 km de corrida, ainda não há nada a reclamar. Ainda carregamos a emoção da largada.

E são várias as colinas, sempre com público acolhedor, incentivando. E incontáveis os postos de hidratação e alimentação (a cada milha – 1.600 m), com apoio constante dos voluntários.

Volto o meu pensamento agora aos meus amigos da Triação, clube de corrida de Salvador. Eu sei que muitos acompanharam o meu longo e exaustivo treinamento. Eu que, já com quase 40 maratonas nas costas, obriguei-me a treinar seriamente. "Eu não posso falhar" – martelo comigo mesmo. E assim, imbuído de vários pensamentos, que tentam na realidade desvencilhar-se das dores musculares, vou em frente silenciosamente.

Agora, às portas da cidade de Durban, orgulhoso e inacreditavelmente com passadas firmes, como um soldado romano ciente da vitória, acompanho o "bonde" das sub-11 horas. Entro no Saahara Stadium lotado e barulhento. Venço os 89 km com o pórtico marcando 10h55. Por um momento fico sem rumo, carregado de emoção. Paro um pouco e penso com a cabeça baixa. Vem-me, inexplicavelmente, a lembrança do início do conto Um caso com características de vaudeville  de Anton Tchékhov: "Estou com uma terrível vontade de chorar! Se eu abrisse um berreiro, acho que ficaria mais aliviado."

Ney Caires Sousa é dentista e assinante de Salvador

 

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2 Comments on “59 brasileiros terminam os 89 km da Comrades, na África

  1. Sensacional o relato. Emocionante esta grande chegada. Parabéns e um grande abraço. Eduardo do Sul, Rio Grande do Sul.

  2. Sou do rio e farei a prova esse ano, caso alguem q renha feito possamos se comunicar sgue meu email, abracao atodos guerreiros, segue meu email: netosph@gmail.com

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