Viajei machucado, com suspeita de fratura por estresse na tíbia direita (deixei para mostrar o resultado da ressonância ao ortopedista na volta…). Desde dois meses antes da Maratona do Rio que estava sentindo dores, mas, como o projeto era baixar em Berlim os 3: 10: 52 feitos no Rio, viajei assim mesmo.
Como iria com antecedência de dez dias e passaria pela Holanda e Bélgica antes de chegar na capital alemã, havia pesquisado e me inscrito em duas provas nos arredores de Amsterdã no fim de semana que antecedia o da maratona. Cheguei na tarde de sexta dia 18 de setembro e na noite do sábado lá fomos nós (com o amigo Ed Carlos) rumo à desconhecida prova de 5 milhas chamada Damloop by Night em Zaandam, cidadezinha muito acolhedora nas proximidades de Amsterdã.
A retirada do kit poderia ser feita na hora da prova, algo comum em provas pequenas na Europa. Saímos com antecedência de duas horas, prevendo chegar em tempo hábil. Porém, não imaginávamos que a largada era tão longe da estação do trem. Tivemos que correr 6 km para não perdermos a largada que não era no local da chegada e retirada do kit. Prova muito bacana que de noturna só tinha o horário, pois, às 20h ainda é dia no frio outono dos países baixos.
Muitos idosos e crianças nas ruazinhas cimentadas, oferecendo ora doces, ora mãozinhas para serem tocadas. Um 9º lugar geral e um recorde pessoal (29:09) nos pouco mais de 8 km não foram um mau resultado, apesar de ter visado o pódio. Hora de retornar ao hotel, para descansar um pouco, pois na manhã de domingo teríamos uma meia que serviria de último longo para Berlim.
MEIA EM HAIA. Na manhã do domingo acordamos às 5h com 6 graus no termômetro e partimos para Den Haag ou Haia, em português. Lá fica a Corte Internacional de Justiça da ONU, que julga disputas de guerras entre nações. Novamente fomos enganados pelo mapa e tivemos que correr mais uns 4 km para retirar o kit. Participamos com número de peito improvisado, pois não encontraram os nossos na confusa entrega. Atraso de 40 minutos na largada e já comecei com fome, sede e sentindo muito a perna, apesar do relaxante muscular e antiinflamatório da noite anterior.
Mais uma vez visava pódio, pois o tempo do campeão de 2014 (1h25) era pior que o meu melhor de 2015. Mesmo sabendo que teria um trecho de 2 km de areia, sentia que se as dores não se agravassem, daria para ficar entre os três primeiros. Não demorou mais que 4 km para o corpo cobrar o preço pela minha teimosia e irresponsabilidade; cheguei a caminhar por um tempo até que Ed me passou seu único analgésico e que me empurrou até o final para fechar em um tempo de quase 17 minutos acima do feito em Salvador, na meia da Caixa meses antes.
Na chegada, medalhinha simples, bananas e água despejada com uma mangueira em uma bacia que dali iam para os copos servidos aos que chegavam.
RUMO A MAJOR. Primeira fase de corridas cumprida, passamos por Bruxelas e Waterloo, na Bélgica, antes de desembarcar em Berlim na noite de quinta-feira. Nas primeiras horas da sexta lá estava eu na expo para retirada dos kits e me esbaldar nas compras, principalmente de tênis Adidas, marca oficial do evento. Ledo engano. Tênis a partir de 80 euros, mais caros que no Brasil. O jeito foi sair no tapa pelas jaquetas restantes do evento (70 euros), tomar uma cerveja sem álcool e aproveitar os brindes que eram oferecidos na feira, muito bem organizada por sinal. Sábado foi dia de visitar o Memorial do Muro de Berlim e fazer o reconhecimento do local de largada.
Domingo às 7h35 eu já estava guardando meu saco (transparente, obrigatório e oferecido pela organização) na tenda. Temperatura de 4 graus, mas com sensação térmica de zero, e lá fui eu aquecer para não congelar antes da largada. Largamos às 9h, logo após os poucos elites que foram este ano. A perna suportou bem até a primeira meia, que cruzei em 1h34. Entusiasmado com a previsão de fechar na casa de 3h08, mantive o ritmo até o km 39, quando a perna esquerda, ao não suportar mais a "compensação", travou em câibras que me deixaram parado por alguns minutos. Revezei entre caminhada e trote para cruzar em 3h15 a linha de chegada, logo após o Portão de Brandemburgo.
Alexssandro Lima é assinante de Salvador