O corredor, por mais condicionado, rápido e forte que seja, não é um super-herói, por isso não está imune a um dos problemas mais graves do país, a violência. Não adianta pensar que porque alguém corre uma maratona, saberá como fugir de uma tentativa de assalto, em meio a um trote no fim de tarde, mesmo em uma avenida movimentada da cidade.

Nos Estados Unidos, onde a violência é menor que no Brasil, muitos corredores sofrem do "complexo de invencibilidade", segundo a revista norte-americana Runners World. É um excesso de confiança que faz a pessoa pensar que, como ela é capaz de correr, pode fazer isso em qualquer lugar a qualquer hora e que nada irá atingi-la. Essa característica, segundo treinadores brasileiros, também é muito observada em corredores daqui.

"O corredor acha que tem sempre razão. E que ele é melhor do que alguém que está sentado dentro de um carro. Por praticar uma atividade esportiva ele acredita que é superior às pessoas sedentárias", explica o diretor técnico da assessoria esportiva MPR, Fábio Rosa.

Camila Hirsch, diretora técnica da Personal Life complementa: tem muito corredor que acha que, porque consegue fazer 42 km, pode ser o dono do mundo. "Existe muita falta de respeito. É um problema de irresponsabilidade cultural."

O que fazer então? Qual a melhor forma de não precisar trocar a rua pela esteira? E como poder fazer os treinos ao ar livre, de uma forma segura? A Polícia Militar de São Paulo preparou um manual de segurança com dicas para caminhantes, corredores e praticantes de esportes ao ar livre que está disponível no site www.polmil.sp.gov.br (serviços > serviços PM > dicas de segurança).

De antemão, a regra número um é: não reagir. Por mais difícil que seja perder um tênis, um relógio ou um tocador de MP3, a reação a um assalto é a pior atitude que a pessoa pode ter. Em seguida, a orientação é ligar para 190 e fazer um boletim de ocorrência. Segundo a PM, fazer o B.O. é a única forma do patrulhamento da região ser reforçado. Afinal, as autoridades só saberão que um corredor teve o tênis roubado, se ele registrar o fato em uma delegacia.

DICAS PARA MAIOR TRANQUILIDADE
Os treinadores de corrida concordam com o manual da polícia e comentam as orientações, dando algumas dicas para todo corredor fazer o exercício ao ar livre de forma segura

Não corte caminho por dentro da mata. Corra apenas em áreas bem iluminadas e com grande circulação de pessoas. "Escolha os horários de ‘rush' de corredores", sugere Fábio Rosa. Os parques e grandes avenidas costumam concentrar os esportistas entre 7h às 8h30 e 18h30 às 20h.

Evite caminhadas ou corridas noturnas, locais isolados, terrenos ou áreas abandonadas. Determinadas regiões em qualquer cidade do país são muito perigosas e devem ser evitadas. Na USP, por exemplo, o diretor técnico da assessoria esportiva Race, Ricardo Arap, não aconselha a rua do Hospital Universitário. "Ali, costuma ter muitos arrastões para roubo de tênis e freqüencímetros. Nem em dupla eu aconselho o corredor a fazer esse percurso." (veja, no box ao fim desta reportagem, alguns locais que devem ser evitados pelo corredor, segundo os técnicos).

Evite andar sozinho. Procure sempre estar acompanhado de um(a) amigo(a). "Muitas mulheres aderem à corrida com cachorros. Pode ser, inclusive, melhor do que uma companhia masculina", diz Fábio Rosa. Quem não dispõe de um animal de estimação com porte atlético, pode combinar com amigos que têm o mesmo ritmo (para poderem correr juntos).

Permanceça atento todo o tempo. Evite utilizar fones nos ouvidos. Camila, da Personal Life, sugere que, se a música for essencial, o corredor deve colocar o volume bem baixo, a ponto de conseguir ouvir um grito. Ou use o fone em apenas um ouvido.

Evite o uso de jóias e objetos que chamem muita atenção. Os óculos escuros podem ser úteis para você observar sem ser observado. E, dessa forma, ficar mais atento. Só não esqueça de tirá-lo quando começar a escurecer, para não limitar o campo de visão, lembra Fábio Rosa.

Leve consigo somente o dinheiro necessário e divida-o em diferentes bolsos. "Se o corredor se machuca, se cansa ou tem uma cãibra, por exemplo, ele precisa ter dinheiro para pegar um taxi ou comprar um cartão telefônico", diz Arap.

Conheça bem o local, sabia onde ficam cabines telefônicas, postos de atendimento, postos da polícia, etc. Conheça também lojas e outros estabelecimentos que ficam nas proximidades do parque. "Podem servir como ponto de apoio em casos de ameaças", explica Fábio Rosa. O treinador também aconselha usar a Internet para pesquisar as rotas. Principalmente quando a corrida será feita em outra cidade. "Conhecer os locais próprios para corrida na cidade que o atleta estará visitando evita que ele se arrisque em lugares ermos."

Caso algum desconhecido comece a discutir, simplesmente desconsidere e continue correndo. "A corrida ao ar livre deve ser feita por tempo e não por quilometragem", avisa Camila. Se no meio da volta em um lago alguém lhe aborda, o melhor é dar meia volta e mudar o percurso, ao invés em correr um risco para concluir os três quilômetros. Se algo lhe parecer suspeito, não entre em pânico. Vá para outra direção e procure áreas com muita gente, ruas movimentadas e comércio aberto.

Sempre leve consigo alguma identificação pessoal. "A identificação deve estar visível, amarrada no cadarço, em placas de identificação ou presas na roupa", diz Fábio Rosa. Em caso de desmaio, por exemplo, será difícil encontrar a identificação do corredor guardada dentro do tênis.

Varie o percurso e o horário, mas escolha áreas que você conheça bem. "Conhecendo seus hábitos, os criminosos podem planejar a abordagem", diz Arap. Procure fazer caminhos diferentes, descer em paradas diferentes, alternar as linhas de ônibus, variar os locais de estacionamento, etc.

Esteja sempre alerta. Preste atenção em quem está à sua volta. "Uma pessoa que está alongando perto de você não é, necessariamente, um corredor. Ele pode ser um ladrão disfarçado", alerta Camila. Por isso, orienta a Polícia Militar, o melhor é manter distância e cautela ao cumprimentar estranhos, ser amigável, mas não parar para dar informações.

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