POR TOMAZ LOURENÇO
Os números do QUADRO abaixo são bem expressivos porque revelam que quase 10 mil corredores fazem provas de 42 km no exterior, enquanto por aqui são apenas 30 mil os concluintes em maratonas nacionais urbanas, com percurso aferido. E considerando que centenas fazem mais de uma no Brasil, assim como muitos dos que vão para fora correm alguma no país, dá para supor que maratonistas brasileiros de verdade não devem chegar a 35 mil.
É uma parcela ínfima do talvez 1 milhão de corredores brasileiros, para ficar em um dado mais “pé no chão” sobre os praticantes de corrida, apesar de volta e meia aparecerem chutes sobre alguns milhões, sem qualquer lógica. Destacando que estamos chamando de CORREDORES aqueles que participam de provas, devidamente inscritos, mesmo que apenas uma por ano. Ou seja, não entram na conta os que correm atrás de uma bola, dão umas corridinhas de vez em quando, fazem esteira na academia etc, mas nunca se posicionam em uma largada, com número no peito.
Mas então qual o problema com nossas maratonas, para terem poucos participantes, ou o que há de interessante lá fora para atrair os brasileiros? Vamos tentar responder a essas dúvidas, que estão absolutamente correlacionadas.
A resposta automática à primeira questão é que estamos em um país tropical, onde praticamente apenas os três estados do sul oferecem longos períodos de clima temperado, mais propícios para se condicionar ao desafio dos 42 km. E como a participação em uma maratona só acontece geralmente depois de 3 a 4 meses de treinamento, daí que nem são tanto as condições de temperatura no dia da prova, mas o período anterior que precisa ser favorável para uma preparação física adequada.
Quando se levam em conta essas características, chega-se à conclusão que os brasileiros dispõem de poucos meses propícios para treinarem como se deve para uma maratona. E isso vale também para as lá de fora, especialmente as do primeiro semestre, na medida em que para correr Paris, Santiago, Boston ou qualquer outra em abril, é necessário encarar muitos quilômetros no primeiro trimestre, o pior do ano para essa meta.
Efetivamente se tem 6 meses de clima adequado para um bom planejamento para os 42 km, ou seja, de abril a setembro, e dessa forma se consegue treinar tanto para as mais indicadas para resultados no país (as de junho/julho/agosto), como para as lá de fora (as de setembro/outubro/novembro).
Essa preferência fica patente ao se verificar as com mais participantes no Brasil (Rio e Porto Alegre em junho, SP City em julho e Floripa em agosto, fugindo do lógico a de São Paulo em abril e a de Curitiba em novembro). Já entre as preferidas no QUADRO, o segundo semestre tem mais adeptos (Buenos Aires, Berlim e Punta del Este em setembro, Chicago e Amsterdã em outubro e Nova York em novembro), enquanto no primeiro aparecem Paris, Boston, Londres e Santiago em abril; não se enquadram nesse raciocínio, a de Valência em dezembro, a da Disney em janeiro e a de Tóquio em março.
Agora a justificativa para a forte procura por maratonas no exterior, mesmo com seus altos custos de participação, enquanto por aqui o interesse é limitado. A razão maior parece estar relacionada ao chamado “maraturismo”, mas também tem importância o fato das lá de fora acontecerem quase sempre com baixas/amenas temperaturas, em percursos predominantemente planos e com muitos participantes, o que é sempre um fator estimulante.
MARATONAS LÁ FORA COM MAIS BRASILEIROS EM 2023
1 | Buenos Aires | 1.422 |
2 | Berlim | 1.274 |
3 | Chicago | 1.223 |
4 | Paris | 1.000* |
5 | Nova York | 719 |
6 | Boston | 672 |
7 | Londres | 385 |
8 | Valência | 274 |
9 | Tóquio | 219 |
10 | Amsterdã | 214 |
11 | Santiago | 193 |
12 | Disney | 78 |
13 | Punta del Este | 50* |
14 | Outras 30** | 500* |
* Estimativa
** Miami, Roterdã, Mendoza, Montevidéu, Roma, Madri, Lisboa, Frankfurt, Barcelona, Porto, Atenas, Los Angeles, Munique, Sevilha, Hamburgo, Estocolmo, Viena, Praga, Rosario, Colônia, Lima, Copenhague, Vancouver, Assunção, Jerusalém, Valparaíso, Hannover, Medelín, Veneza e Washington.
Fonte: https://www.corridanoar.com.br/
Tomaz Lourenço é jornalista, 77 anos; lançou a revista Contra-Relógio em outubro de 1993, sendo seu editor até a última edição em abril de 2021. Correu mais de 60 maratonas no Brasil e exterior, além de 2 Comrades; seu recorde nos 42 km foi ao estrear na distância, em Blumenau 1992, com 3h04. Contato: tomazloureno1947@gmail.com