Especial Performance e Saúde Redação 12 de novembro de 2010 (0) (341)

A dermatologia pode ajudar na sua corrida

Algumas assessorias especializadas em preparação física já incluem o dermatologista em sua equipe multidisciplinar, e muitos treinadores orientam seus atletas a consultar essa especialidade para esclarecer dúvidas, que vão muito além da indicação de filtro solar ou em relação ao famoso pé de atleta. Isso porque os esportistas estão mais sujeitos a sofrer lesões de pele, sendo que no caso dos corredores, a pele é frequentemente sede de infecções fúngicas, bacterianas e virais, devido à transpiração excessiva e ao trauma causado por atrito constante. O aumento da umidade cutânea associada a esse atrito em áreas de dobras, ou da pele em contato com roupas, pode ocasionar assaduras, sendo as regiões mais afetadas as axilas e as coxas. Um modo de evitá-las é passando vaselina em pasta nas regiões mais sensíveis. Nos casos mais sérios, essas assaduras podem evoluir para infecções fúngicas.

"Para evitar esse quadro, devem ser usadas roupas apropriadas e sempre enxugar todo o corpo, principalmente na virilha", alerta o dermatologista Antonio D'Acri, professor na Universidade Severino Sombra, no Rio de Janeiro. Nos homens, ainda podem surgir com mais frequência as lesões avermelhadas, com formação de crostas, dolorosas e muitas vezes fissuradas, que aparecem nos mamilos, ocasionadas pelo atrito com o tecido das camisetas. "Para evitar a fricção, pode ser usada bandagem adesiva, vaselina, camisetas com tecido de fibras leves e macias, e, nos casos mais graves, pomadas de antibiótico", explica D'Acri.

Para alguns corredores, esse cuidado já virou rotina, apesar de nada agradável. "Puxar os adesivos curativos que aplico no meu peito a cada prova que participo virou um ritual de diversão para a minha filha de quatro anos", conta o maratonista José Carlos Gomes Pedrosa, 42 anos, adepto de provas mais longas, desde 2006.

O maior medo de Alice Ribeiro Motta, 29 anos, quando começou a correr, há um ano e meio, era ser "pega" pela tal unha preta: "Quando falei da minha decisão de iniciar no esporte, os corredores mais experientes da academia logo disseram que eu iria ficar com a unha preta. Por isso, tratei de procurar orientação de um dermatologista rapidinho", diz a atleta, que está abandonando as provas menores, de 5 e 10 km, em busca de novos desafios, e pretende encarar sua primeira São Silvestre este ano.

 

UNHA PRETA. Conhecida como ‘unha preta', a onicólise traumática é apenas um dos problemas mais comuns, de uma extensa lista, no caso específico dos corredores de rua. Foto envelhecimento, câncer de pele e, na ausência de cuidados especiais com os calçados, calos, calosidades, micoses, fissuras dolorosas, cicatrizes traumáticas, bolhas por fricção, onicomicoses e mau cheiro nos pés, são outros problemas que podem surgir, de acordo com o dermatologista Egon Daxbacher, também do Rio.

Segundo Daniela Nunes, diretora médica da Slim Clinique, o hematoma subungueal (sangue debaixo da unha) e a onicólise (deslocamento da unha) são ocasionados pelo uso de calçados inapropriados, apertados ou que machucam os dedos dos pés. Uma medida preventiva, óbvia e eficaz, é de simplesmente não usar o tênis para correr se o calçado estiver levemente apertado. "Porém, em maratonistas pode acontecer mesmo com esses cuidados devido ao esforço repetitivo. É necessário manter as unhas bem aparadas e com os cantos quadrados a fim de evitar o encravamento e a consequente dificuldade para correr", esclarece Daniela.

"Nos pés as infecções mais comuns são as micoses, que podem ser da pele, da unha ou entre os dedos, chamadas ´pé de atleta´. No resto do corpo, em algumas áreas de atrito, podem aparecer as foliculites (bactérias nos pelos). O tratamento depende de um correto diagnóstico, sendo necessário, às vezes, exames complementares para identificar o tipo de fungo. Para isso, o correto é procurar um dermatologista, pois pode ser preciso, além do tratamento com cremes, algum remédio pela via oral", afirma Daxbacher.

As unhas apresentam várias funções e, entre elas, estão defesa, proteção e estética. As dos pés ainda contribuem para uma correta biomecânica do pé e, por este motivo, relacionam-se diretamente com as alterações da forma de andar e correr. "As unhas, assim como a pele, devem ser hidratadas semanalmente com bases fortalecedoras e que contenham substâncias adequadas para mantê-las saudáveis e rígidas. Os cantos das unhas devem ser apenas lixados e não cortados, e deve-se mantê-las sempre quadradas para evitar lesão e inflamação da pele", ensina Daniela Nunes. Alguns corredores também fazem o uso de dedais de silicone, encontrados em lojas de produtos ortopédicos, que oferecem conforto e evitam atritos.

Segundo os dermatologistas ouvidos pela revista, os pés deveriam estar para os corredores assim como as mãos estão para os pianistas. Por serem instrumentos de trabalho importantíssimos para o bom desempenho da atividade praticada, os atletas precisam dar tanta atenção aos cuidados com os pés quanto dão à escolha de seus pares de tênis com solados especiais, meias e camisetas dry-fit, shorts em poliamida, frequencímetros e outros acessórios como polainas de compressão, bonés, viseiras, óculos escuros e por aí vai.

O uso de tênis inadequados, características ósseas (malformações e sobreposições digitais, joanetes, dedos em garra) e a forma de andar podem ainda levar ao aparecimento de calos e de calosidades nos pés. No caso destes últimos, para preveni-los o mais indicado é passar por uma avaliação ortopédica ou de um terapeuta ocupacional. Caso seja diagnosticado algum problema de pisada ou postural globlal, uma palmilha moldada deve ser associada ao uso de calçados adequados, assim como meias esportivas de algodão.

 

BOLHAS. Alguns fatores podem ser determinantes para o surgimento de bolhas nos pés. Geralmente, meias frouxas ou mal colocadas são as maiores vilãs, mas tênis velhos, folgados, pés muito úmidos ou molhados também podem ser geradores das bolhas. Até a temperatura do asfalto pode influenciar. Se o problema for mecânico, os cuidados adequados e as indicações de hábitos diários são, ao mesmo tempo, prevenção e tratamento. "Deve-se trocar sempre o calçado porque o mesmo machucando na mesma área evolui para calosidades. Portanto, o mais indicado é fazer um rodízio entre os tênis a fim de evitar esse problema", alerta Daniela Nunes.

Apesar de no seu conteúdo líquido conter substâncias pró-inflamatórias, as bolhas nos pés não devem ser rompidas, porque nesta área temos um local propício para a contaminação bacteriana, e no caso dos pés a pele da bolha vai funcionar como uma capa protetora. Uma dica para evitar o incômodo durante a corrida, uma vez já formada a bolha, é colocar um band-aid sobre a mesma, cobrir o local com vaselina e em seguida uma camada de micropore, passar mais vaselina sobre o micropore e só então calçar uma meia macia.

Composto, cada um, por 26 ossos, 107 ligamentos, 33 articulações e vários músculos, a cada quilômetro corrido, os pés batem no chão quase mil vezes. O impacto de cada pé no solo corresponde ao triplo do peso de seu corpo em percurso plano, chegando a quadruplicar na descida – para uma mulher de 50 quilos, o impacto no solo durante a corrida corresponde a 150 quilos de carga em cada pé. Não custa muito, depois de "maltratar" essa sua "ferramenta", tratá-la com bastante carinho.

CUIDADOS COM OS PÉS

– Use chinelos quando utilizar banheiros ou vestiários comunitários;

– Hidrate a pele do dorso e planta dos pés diariamente após o banho, pois há um aumento da absorção dos cremes aplicados;

– Use cremes que contenham ativos emolientes, como uréia, lactil, ceramidas;

– No inverno, após aplicar o creme à noite, durma de meias, pois aumentando o calor e abafando o local haverá maior absorção das substâncias;

– Use produtos específicos para a região dos calos (pomadas que diminuem a espessura da pele);

CUIDADOS COM A PELE

– Use meias e roupas íntimas de algodão que absorvam bem a umidade;

– Evite tênis apertado;

– Faça uma higienização adequada do local com sabonetes específicos;

– Use loção antitranspirante nas axilas;

– Hidrate bem a pele após o banho;

– Evite a depilação no mesmo dia do treino;

– Lave o local com sabonete antisséptico antes de depilar e apenas o reutilize 24 horas após a depilação;

– Use água morna para depilar;

– Evite roupas justas para diminuir o atrito com a pele.

 

 

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