Performance e Saúde Redação 15 de junho de 2018 (0) (623)

Papo de mulher – celulite

A celulite não discrimina nenhuma mulher, nem mesmo as que correm e fazem musculação rotineiramente. Mas ela pode ser bastante reduzida. Para isso é importante conhecer suas causas e formas de tratamento. O aparecimento da celulite (lipodistrofia ginóide) é desencadeado por vários fatores, como uma produção excessiva de hormônios femininos, como os estrogênios, ou pela inflamação orgânica.
Caracteriza-se por um conjunto de alterações no tecido conjuntivo subcutâneo, associada à inflamação, inchaço e dor local. A inflamação prejudica o funcionamento das células, dificulta a chegada de nutrientes e oxigênio às mesmas, reduz a remoção de toxinas, comprime os vasos e acelera o envelhecimento local. Tal inflamação é gerada em resposta a agressões ambientais.
Os principais fatores agressores são a poluição, os hábitos alimentares inadequados, o excesso de gordura corporal, a prisão de ventre, o uso de roupas apertadas e os anticoncepcionais. Todos estes elementos, combinados à susceptibilidade individual, podem gerar as tais alterações hormonais e inflamação.

ALTERAÇÕES HORMONAIS. O excesso de estrogênio (hormônio sexual feminino) é a principal causa da celulite e por este motivo as mulheres são mais acometidas por este problema estético do que os homens. Ovários, glândulas adrenais, tecido adiposo e placenta produzem estrogênios. Os mesmos se ligam a receptores nas membranas das células e também no DNA, dentro do núcleo provocando determinadas reações no organismo. Os três principais tipos de estrogênios são o estradiol, a estrona e o estriol.
O estradiol é produzido nos ovários e é responsável pelas características sexuais femininas, pelo desenvolvimento das mamas e quadris, pela maciez da pele. Protege o cérebro, coração e ossos das mulheres, além de regular o ciclo menstrual. Também controla os níveis de insulina, a pressão sanguínea, aumenta o colesterol bom (HDL) e diminui o ruim (LDL). Mulheres com maiores concentrações sanguíneas de estradiol tendem a ter maior massa magra e menos gordura. Também tendem a ter menos fome e o humor mais estável. Na menopausa a produção de estradiol pelos ovários diminui.
A estrona é o estrógeno produzido no tecido adiposo e nas glândulas adrenais localizadas acima dos rins. Antes da menopausa a estrona é facilmente convertida em estradiol. Já na menopausa os níveis de estronas aumentam e o corpo da mulher muda dramaticamente. Por exemplo, a quantidade de gordura nas mamas e nos quadris diminui, enquanto a gordura abdominal se eleva. O interessante é que quanto mais gordura corporal a mulher tiver, mais estrona produzirá, estando ou não na menopausa. Níveis elevados deste hormônio aumentam a resistência à insulina, o risco de diabetes e o número de furinhos na nádega!
Já o estriol é produzido principalmente durante a gravidez, pela placenta.

PROGESTERONA. Contrabalanceado os efeitos dos estrogênios, principalmente da estrona, está o hormônio progesterona. O mesmo é produzido pelos ovários e sua principal função é atuar como precursor da testosterona e estradiol. Assim, a progesterona ajuda a equilibrar os níveis de estrógenos. Os níveis de progesterona caem antes da menstruação e na menopausa. Um dos efeitos é o aumento da compulsão por doces e carboidratos simples nestes períodos. Como a progesterona é precursora de testosterona (hormônio anabólico, que facilita a manutenção da musculatura) e estradiol, queimar gordura fica mais difícil após a menopausa e a queda da massa magra é mais pronunciada.
Em indivíduos jovens, o desequilíbrio entre progesterona e estrona se deve principalmente devido ao contato com xenobióticos, substâncias estranhas que não deveriam estar no nosso organismo. Vários xenobióticos desregulam a relação progesterona/estrona como o açúcar, as gorduras ruins e os grãos refinados (presentes em pães, massas, pizza e biscoitos feitos com farinha branca).
Muita estrona e pouca progesterona levam a uma série de problemas, como a celulite, e também a disfunções menstruais, ressecamento da pele, cansaço excessivo, queda de cabelo, aumento da gordura abdominal, perda de massa magra, diminuição da libido, compulsão por carboidratos, ovários policísticos, irritabilidade, síndrome do intestino irritável, ganho de peso, mudanças abruptas de humor, resistência à insulina e dores de cabeça.

INFLAMAÇÃO ORGÂNICA. O segundo fator mais importante para o desenvolvimento da celulite é a inflamação orgânica. Muitos tratamentos estéticos voltados para a redução da celulite são insatisfatórios justamente por não tratarem as causas do problema. Por exemplo, a redução da gordura corporal, com dietas e corrida nem sempre resolve o problema. É só observar a existência de mulheres magras com mais celulite do que as mais gordinhas. Por isto, é fundamental reduzir o contato com fatores que aumentam a inflamação orgânica. Como a dieta pode ser uma grande responsável por tal inflamação, vamos nos concentrar neste aspecto importante para uma pele bonita, para a prevenção de doenças e para o bom desempenho esportivo, em três etapas:
1 – Eliminação das substâncias inflamatórias
Para desinflamar a pele, xenobióticos devem ser excluídos da dieta. Alimentos processados, gorduras hidrogenadas, grãos refinados, açúcar e xarope de frutose, adoçantes artificiais, alimentos ricos em corantes, conservantes, substâncias alergênicas, álcool e cafeína são grandes responsáveis pelo aparecimento e manutenção da celulite.
Dicas importantes:
– Diminua o consumo de gorduras ruins. Gorduras saturadas (carnes gordas, queijos amarelos, biscoitos, sorvetes, manteiga, pele do frango, couro do peixe), gorduras trans (sorvetes, biscoitos recheados, salgados de forno, alimentos industrializados, sopas prontas, frituras em geral) aumentam a produção de substâncias altamente inflamatórias e que acabam com a beleza da pele.
– Evite alimentos com potencial alergênico. Devem ser excluídos ou evitados por três meses para que o funcionamento celular seja recuperado e a melhoria da circulação e da remoção de toxinas seja relevante. Evite laticínios, chocolate, amendoim, glúten e outros alimentos que não fazem bem.
– Fuja dos alimentos diet e light. Frequentemente, alimentos pouco calóricos apresentam um teor tóxico elevado – oriundo de corantes, conservantes e adoçantes, que acabam inflamando ainda mais o organismo, roubando nutrientes importantes das células, desencadeando compulsão alimentar, disfunções hormonais e aumento da gordura corporal. Dê preferência à dieta mais natural possível.
– Reduza o consumo de carboidratos refinados (doces, macarrão e pães feitos com farinha branca), os quais aumentam a produção de insulina, favorecem o depósito de gordura, geram compulsão alimentar e prejudicam a drenagem natural dos tecidos.
– Não abuse das bebidas alcoólicas, já que as mesmas favorecem a retenção hídrica e deixam os processos de desintoxicação do organismo mais lentos.
– Nunca estoque alimentos em recipientes plásticos e não aqueça alimentos envoltos em plástico ou vasilha plástica no microondas. Os plásticos, principalmente ao serem aquecidos, liberam substâncias que contaminam os alimentos e ao serem ingeridos desregulam os hormônios. Se for usar o microondas para aquecer alimentos, use tigelas de vidro ou louça. Evite também tomar café ou chás em copos plásticos. Use uma caneca de louça ou copo de vidro.
2 – Reparo com anti-inflamatórios e antioxidantes
Todas as reações químicas do nosso organismo são dependentes de nutrientes, como vitaminas, minerais, fibras e compostos bioativos, que regulam o metabolismo, facilitam a excreção de substâncias inadequadas e favorecem o reparo celular. Conheça as propriedades de alguns alimentos fundamentais para a recuperação da pele:
– Alho e cebola. Fontes de aliina e alicina, substâncias antiinflamatórias e que inibem hormônios do estresse, como o cortisol. Com isso, a redução da compulsão e da gordura corporal é maior. Uma dica para potencializar o efeito da dupla é misturar alho e cebola em um vidro com azeite de oliva extra-virgem, óleo de linhaça e alecrim.
– Algas são fontes de iodo, nutriente importante para o equilíbrio da glândula tireóide, evitando flutuações hormonais e de peso, seja por acúmulo de gordura, seja por retenção de líquidos.
– Arroz integral é fonte de fibras, de vitaminas do complexo B e minerais, como magnésio e cromo, todos importantes para o metabolismo dos carboidratos e redução da compulsão por doces. O arroz é fonte também de fosfatidilserina, substância que reduz os níveis do hormônio cortisol e aumenta os níveis de testosterona, hormônio fundamental para ganho e manutenção da musculatura.
– Aveia, salsinha e cavalinha: alimentos ricos em silício, nutriente importantíssimo para a sustentação da pele e prevenção da celulite.
– Castanha do Brasil (Pará) é a principal fonte de selênio, um importante mineral que reduz o envelhecimento das células. Esta e outras castanhas, amêndoas e nozes são também fontes de resveratrol, composto que melhora a circulação sanguínea.
– Folhas verde-escuras são fonte de magnésio e clorofila, nutrientes que melhoram a circulação e desintoxicam o organismo. Consumir diariamente.
– Lima-da-pérsia, laranja, limão, acerola, umbu e abacaxi são frutas ricas em vitamina C, que contribui para a produção de colágeno, que sustenta a pele. Fundamental para a redução do cortisol e para a desintoxicação do organismo.
– Maçã: fonte de pectina, um tipo de fibra que neutraliza as toxinas presentes no organismo. Consuma uma ao dia, se possível.
– Missô (pasta de soja): alimento rico em substâncias probióticas naturais, que favorecem o funcionamento do intestino, além de ajudar a desintoxicar e desinchar. Consumir duas vezes por semana.
– Banana, linhaça, laranja e água de coco e tomate são importantes fontes de potássio, mineral que reduz a retenção hídrica. Para melhor efeito restrinja também alimentos ricos em sódio.
– Brássicas como brócolis, couve e repolho contém indol-3-carbinol, substância que acelera a desintoxicação.
– Frutas avermelhadas e arroxeadas são ricas em antocianidinas, potentes antioxidantes. Exemplos: amora, mirtilo, uva, açaí, cereja, framboesa e morango. Consumir duas a três vezes por semana.
– Alimentos ricos em coenzima Q10 são fundamentais para a oxigenação das células. Algumas fontes incluem espinafre, sardinha, brócolis, feijão azuki, abacate, semente de gergelim e castanhas.
– Gorduras boas: aumentam a produção de testosterona e lubrificam a pele. Estão presentes em alimentos de origem vegetal (castanhas, abacate, azeitona, açaí, azeite, chia, linhaça) e de origem animal (peixes como atum, sardinha, salmão). Consumir três vezes por semana.
– Chás são ricos em catequinas e flavonas, que evitam com que a glândula adrenal converta testosterona em estrógeno. O chá branco ajuda na manutenção da elastina e do colágeno, elementos essenciais para integridade da pele e prevenção da celulite. Consuma duas xícaras ao dia.
– Água: sem ela a eliminação de toxinas não acontece. Você deve ingerir pelo menos 40 ml por quilo de peso. Ou seja, se tem 60 kg, multiplique este valor por 40. O resultado será uma ingestão mínima de 2.400 ml de água ao dia.
3 – Atingindo e mantendo o equilíbrio
Além de eliminar os fatores que causam a celulite e incluir elementos que restabelecem as funções celulares, é de fundamental importância alcançar e manter um equilíbrio ao longo dos anos. Você não precisará se afastar do glúten e do leite para sempre, mas é importante lembrar que se estes alimentos forem privilegiados em detrimento dos alimentos anti-inflamatórios, a celulite voltará rapidamente. Além disso, alguns fatores extras contribuirão para a manutenção do resultado alcançado:
– Não pule o café da manhã. Após horas de sono, o organismo consumiu suas reservas de nutrientes para realizar os reparos necessários em todas as suas células. Por isto, é importante acordar e fazer uma refeição que reponha seus estoques de nutrientes anti-inflamatórios. Se acordar sem fome, espere meia hora, mas não saia sem pelo menos ingerir um suco verde ou um omelete com verduras e ervas.
– Não passe fome! Um organismo desnutrido produz mais hormônios relacionados ao estresse e à compulsão por doces, o que dificulta a manutenção do peso e a escolha sábia dos alimentos, além de desequilibrar o humor. Lembre-se também de não passar mais de três horas sem se alimentar.
– Não coma demais, principalmente à noite. Quando comemos mais do que devemos, nossa digestão é prejudicada. Além disso, o sangue é desviado para o trato digestório, para que os nutrientes possam ser absorvidos. Com isto, menos sangue estará disponível na pele e no fígado para a desintoxicação do organismo e eliminação de impurezas. O ideal é fazer várias refeições menores ao longo do dia: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e ceia.
– Busque ajuda. Tratamentos estéticos como massagem manual, ultrasson, rádio frequência, cosméticos com compostos bioativos e suplementação oral podem potencializar os efeitos da dieta. Procure profissionais qualificados. Nutricionistas, por exemplo, podem prescrever fórmulas individualizadas, de acordo com suas necessidades, e que incrementem seu tratamento. Um dos compostos bastante pesquisados atualmente, por sua contribuição na melhoria do aspecto da pele, é a crisina, um composto presente em plantas como a Passiflora coerula. A crisina inibe a enzima aromatase, responsável pela conversão de testosterona em estrogênio (principalmente estronas). E, quanto mais estronas, mais gordura localizada e mais celulite. Porém, este suplemento é caríssimo e não funciona sozinho. A manutenção da atividade física e da dieta é fundamental para a melhoria da textura da pele, redução da flacidez e aumento da massa magra.

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