Especial admin 4 de outubro de 2010 (1) (80)

Viciados em maquininhas

No topo da lista das preferências sem dúvida nenhuma está o GPS, que já foram grandes, diminuíram de tamanho e hoje são bem parecidos com os relógios comuns de cronômetro e podem até ser usados no dia-a-dia. A coqueluche do momento é o Garmin modelo Forerunner 405, que é menor que os modelos anteriores da marca e possui todos os recursos que se espera de um GPS.

Corredor há quinze anos, o paulista e administrador de empresas Roberto Fragoso, 30 anos, é apenas um dos atletas que dizem hoje não saber o que fazer sem o GPS para orientá-lo nos treinos e nas corridas de que participa.  Com seis maratonas e uma ultra no currículo, Roberto, que se considera um maluco por tecnologia, faz questão de estar sempre atualizado no modelo. "Troco sempre que sai um novo. É uma média de um relógio novo por ano. Em casa, tenho cinco deles em perfeito estado de funcionamento", comenta o corredor, que passou a usar o GPS há cerca de quatro anos, um pouco depois de começar a treinar para sua primeira maratona.

"A principal vantagem é justamente informar com precisão a distância percorrida, principalmente em treinos longos e em lugares onde você não está acostumado a correr e não sabe a distância de uma volta. É um belo companheiro de treino", complementa. Com o recurso virtual partner, dá para entender muito bem porque muitos corredores não abrem mão dessa tecnologia. "Basicamente, você informa a distância e o tempo que quer correr, e o relógio vai indicando quantos metros e quanto tempo você está à frente ou atrás para alcançar o objetivo. Em provas longas, esse recurso auxilia a não sair do ritmo estipulado, principalmente no começo, quando existe aquela afobação das pessoas em passar todo mundo."

Quem faz uso da tecnologia dos GPS sabe muito bem que as funcionalidades desses relógios vão muito além do que se imagina. E o contato com o moderno acessório está longe de terminar no momento em que você aciona o stop do cronômetro para finalizar mais um dia da sua rotina de treino. Afinal, a grande vantagem desses aparelhos é poder ter todos os dados da sua corrida guardados em um mesmo lugar e em um mesmo formato, o que acaba sendo um excelente instrumento para fazer comparativos e auxiliar na sua evolução ao longo da temporada.

TUDO NO COMPUTADOR. Para Roberto Fragoso, esse é o principal benefício dos corredores que usam a tecnologia como aliada da corrida. "Todos os meus treinos estão no computador. Posso comparar depois, principalmente as provas que faço com freqüência. Dá para comparar como foi o ritmo quilômetro por quilômetro e como foram os batimentos cardíacos", explica o atleta, que usa há mais de 10 anos também o frequencímetro, justamente para poder fazer o treino da maneira correta, dentro da faixa de batimento adequada para ganho de condicionamento físico.

Usuário assíduo também dos relógios da Polar, que utiliza principalmente nos treinos de tiro (modelo RS800SD) por achar a velocidade instantânea (aferida por um acessório que vai preso no cadarço tênis e que se chama acelerômetro) mais precisa que a do Garmin, Roberto chegou a usar dois aparelhos de aferição em uma ultramaratona, por medo de a bateria de um deles não agüentar. Como todo aficionado por eletrônicos, que adora explorar ao máximo suas funções, o atleta diz ter bastante facilidade para pegar os recursos principais e usa o tempo ocioso para dar uma folheada no manual e verificar se não tem nenhum recurso que escapou.

E foi exatamente numa situação dessas que o corredor descobriu um erro na transmissão de dados de um Polar, que, graças à sua observação, foi corrigido pelo fabricante. "Ao transferir dados, comecei a reparar que a distância total começou a ficar maior do que a acumulada no computador. Percebi que o problema devia-se ao fato de na transmissão de dados o relógio não exportar os últimos 15 segundos de treino. Lógico que demorei alguns meses para perceber isso. Mas mandei um e-mail para o suporte da Polar nos Estados Unidos e o problema foi corrigido já na atualização seguinte do software."

GPS E SENSOR NO PÉ. Outro que também acompanha bastante as inovações no mercado, embora se diga hoje bem mais seletivo em relação ao que surge de novo, é o corredor José Ribeiro de Andrade, de 41 anos, que é engenheiro e corre há seis anos. "Acompanho bastante as inovações, mas mudei um pouco de atitude. Antes comprava tudo o que tinha de novidade. Agora sou um pouco mais seletivo. Avalio bem se vai ter mesmo utilidade antes de comprar", comenta o engenheiro, que não teve muita sorte com o uso do GPS da Garmin e acabou optando por outra tecnologia, que usa o sensor do pé para aferir a distância. "Comprei há dois meses um relógio da Suunto (modelo T3c) e até agora estou bastante satisfeito. Calibrei apenas uma vez. Não tem todas as funções do Garmin; poderia ter optado pelo mesmo modelo da Suunto com GPS, mas acho que o T3c é mais que o suficiente. Com o tempo você descobre aquilo que realmente importa e faz a diferença. Estou gostando bastante. E o relógio é até bonito e dá para usar no dia-a-dia."

Embora tenha optado por outra tecnologia para aferição de percurso, o corredor ainda vê muitas vantagens na utilização do GPS, que afere a distância por satélite. "Ajuda bastante quando você está de viagem ou correndo em lugares que não conhece. Você consegue saber quanto está correndo, o ponto de retorno para a distância que quer correr. Mas, nesse caso, o sensor de pé também funciona. O que achava legal no Garmin é poder baixar no Google Earth o trajeto que tinha feito para conferir o relevo, a foto do satélite do lugar e coisas assim. Usava-o principalmente nas rodagens mais longas, em lugares não habituais e também em locais que já conhecia. Mas aí era mais frescura mesmo. Depois de um tempo de treino, já sabemos nosso ritmo de cor. Não precisa de relógio", diz Ribeiro.

Quem concorda com a opinião é o técnico e também maratonista Wanderlei de Oliveira, 49 anos, mais de 30 dedicados ao atletismo. Mesmo apostando no tempo de treino para que o atleta tenha noção de ritmo, o técnico vê grandes vantagens no uso desses equipamentos, que acabam sendo grandes aliados para o atleta. "Todo corredor, entre os quais me incluo, gosta de saber a medida exata de quanto correu. Indico o uso desses equipamentos para todos os meus atletas. Se a pessoa souber controlar o ritmo pelos batimentos cardíacos ou por qualquer outro meio saberá com o tempo também controlar o ritmo das pernas. Tudo é uma questão de aprendizado", comenta o treinador, que, por correr há muito tempo, a maioria das vezes em locais que já conhece, diz não sentir necessidade de usar frequencímetros, sensores de pé ou mesmo GPS.

Mesmo assim, como corredor, Wanderlei não deixa de ter também suas preferências por equipamentos mais avançados quando o assunto é quantidade de lap no relógio. "Uso hoje um modelo da Nike, o Fury, que tem 100 laps e apresenta um designer com visor torcido para facilitar a visualização, além de ter os números bem maiores. São recursos úteis para um maratonista."

O técnico lembra também que não faltam exemplos de corredores, muitos deles competitivos na faixa etária, que não estão nem aí para a tecnologia. "Temos a Ana Luiza dos Anjos Garcez, a Animal, que corre sem relógio. Sai para correr às 5 da manhã da pista de atletismo do Ibirapuera, onde mora, para rodar pelas ruas de São Paulo. Por experiência, ela conhece seu ritmo de rodagem e sabe também quanto tempo tem que correr. Na Meia-Maratona da Disney deste ano, como ela se recuperava de uma lesão, e tinha 15 dias depois mais uma meia em Miami, pedimos para ela segurar o ritmo e correr para 1h32. Ela correu sem relógio e no ritmo programado, apenas se guiando pela sensação de mais conforto em relação ao que seria seu ritmo ideal para os 21 km. Duas semanas depois, correu novamente para o tempo programado, 1h26, dessa vez com o esforço máximo para a distância."

COM RELÓGIO DE PONTEIRO! Mais um caso bem interessante é o vivido pelo maître Oswaldo Silveira, de 79 anos, que correu a Maratona de Paris de 1998 com um relógio de ponteiro, com um pequeno cronômetro no centro que mal dava para enxergar os números. "Suas marcas em distâncias menores e sua evolução nos treinos indicavam que ele poderia fazer os 42 km abaixo das 4 horas. E foi o aconteceu. Isso é que é o correr com o relógio nas pernas", lembra Wanderlei, que ouviu pela primeira vez essa expressão quando fez um estágio no final dos anos 80 em Portugal, com o professor Mário Moniz Pereira, técnico do Sporting Club de Lisboa e dos recordistas mundiais e medalhistas olímpicos Carlos Lopes e Fernando Mamede. "Ele costumava dizer que para ser um grande corredor de pista e de rua tem que ‘correr com o relógio nas pernas'. É o que eu tento passar para meus atletas."

Outra tecnologia que tem atraído bastante os corredores, não tanto pela possibilidade de aferir a distância e a variação de ritmo ao longo da corrida, mas mais pela oportunidade de poder descarregar os dados no computador e poder compartilhar e também competir com outros corredores de todas as partes do mundo, é o Nike Plus. Um sensor colocado no calçado transmite os dados para o Ipod ou para uma pulseira (sportband).

FÃS NO NIKE PLUS. Um dos mais fanáticos usuários da tecnologia é o paulista Richard Ivor Jones, de 27 anos, que começou a correr em 2007. "Eu sentia falta de algo para me estimular na corrida. Como sou fissurado por aparelhos eletrônicos, certo dia cai sem querer no site do Nike Plus. Achei tudo aquilo fascinante e em pouco tempo comprei o kit e um IPod Nano", diz o corredor, que considera vantajoso o uso desse acessório por poder correr ouvindo música e ao mesmo tempo se atualizar com os dados da corrida apenas apertando um botão.

Outra vantagem que o corredor aponta é o fato de poder ter seu histórico online, permitindo comparação ao longo dos tempos, e a possibilidade de participar de desafios online com outras pessoas e até vencê-los, o que numa prova real seria de certo forma impossível. Para Richard, tudo isso acaba sendo um grande estímulo para mantê-lo motivado.

Também fã do Nike Plus, Luciana Sanjuan Rodrigues, de 36 anos, que mora em Piracicaba, interior de São Paulo, e corre mais ou menos há dez anos, trocou a esteira da academia pelas ruas e aí surgiu a necessidade de marcar a distância. "Fazia o percurso correndo e depois media com o carro. Comprei um pedômetro. Mas que tristeza era aquilo! Nunca dava certo. Foi aí que eu vi pela internet o Nike Plus", diz Luciana, que, no final de 2007, ganhou seu primeiro desafio.

"O maior incentivo para mim, e acredito que para a maioria dos usuários, é que na minha vida real não dá pra participar de todas as provas que gostaria. Piracicaba fica a 170 km de São Paulo. Por isso, meus desafios são virtuais. As pessoas do site tornaram-se meus companheiros de corrida", comenta a corredora, que confessa que se acabar a bateria do IPod no meio do treino, pára de correr e volta andando. "Não gasto energia, se não o treino não está sendo registrado. Minhas amigas acham o cúmulo, mas fazer o quê?"

Luciana calibra seu fiel companheiro de corrida uma vez a cada 15 ou 20 dias, na opção de 400 m, na esteira ou com ajuda de um Garmin. "Presenteei-me um Forerunner 405, outro brinquedinho tecnológico. Depois que o comprei, achei que iria abandonar o Nike Plus, mas os desafios são a grande motivação."

A paulistana Tatiana de Carvalho Aristoff, de 32 anos, é outra que não troca seu sensor por nada. "É muito bom definir a distância que deseja correr e escutar a narradora/treinadora falando em inglês ‘one kilometer completed', ‘two kilometer completed', ‘400 meters to go', ‘congratulations, you've reached your goal at…'. É legal! Corro e não me sinto tão só. Além disso, consigo me concentrar mais do que quando estou correndo com uma amiga, por exemplo. A mulher tagarela muito quando corre. E a do Nike Plus fala somente o necessário", brinca a corredora.

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One Comment on “Viciados em maquininhas

  1. Excelente reportagem… faltou mencionar apenas o adidas Micoach…. que é bastante completo….

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