Bom treinamento, reforço muscular, alimentação equilibrada, suplementação correta, vestuário apropriado. Se você quer correr melhor, deveria acrescentar a massagem nessa lista. É o que garantem os especialistas.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Toque da Escola de Medicina da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, em conjunto com a Universidade Duke, mediram os índices bioquímicos do corpo após terapia da massagem e encontraram grande redução dos níveis de cortisol (o hormônio do estresse), norepinefrina (neurotransmissor ligado ao aumento de ansiedade) e dopamina (estimulante do sistema nervoso central). O estudo ainda registrou aumento nos níveis de endorfina (neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar) e serotonina (substância calmante e sedativa).
Isso contribuiria para a diminuição das dores musculares pós-treinamento ou competição. "A massagem reduz ainda espasmos musculares e até o estresse psicológico, acelerando a recuperação do atleta e preparando-o para o próximo evento, podendo, dessa forma, atuar na melhora da performance", diz a fisioterapeuta Lucely Lustre, da Ayni Saúde Integrada, de São Paulo.
"A terapia manual ativa um efeito chamado ‘teoria das comportas medulares', o que também ajuda a diminuir as dores presentes no corpo após um leve trauma ou excesso de atividade física", completa o fisioterapeuta Evaldo Bosio Filho, coordenador de fisioterapia esportiva da Prime Sports, de São Paulo, e coordenador científico da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva.
ANTES OU DEPOIS? Segundo Evaldo Bosio, antes de uma sessão de exercícios a massagem promove aumento local da circulação sanguínea, fazendo com que os músculos dos membros inferiores – quadríceps, tríceps sural e isquiotibiais – ganhem maior oxigenação. "Feita nesse momento, ela ainda melhora a nutrição celular, a liberação de toxinas e a liberação de aderências na musculatura", concorda Lucely Lustre.
Mas a fisioterapeuta Tatiana Abreu, da Clínica Fisiorun, de São Paulo, alerta: "Deve ser uma massagem estimulante. Caso contrário, o músculo relaxa demais e o atleta perde a eficiência na contração muscular".
Após treinos ou competições, dizem os fisioterapeutas, os benefícios são maiores. "Alivia dores, promove relaxamento muscular, melhora a circulação e acelera a remoção de produtos metabólicos que se acumulam e causam a dor muscular tardia (DMT)", diz Tatiana.
Já os treinadores Mário Mello, Marcos Paulo Reis e Miguel Sarkis, todos da capital paulista, defendem a tese de que a massagem deve ser aplicada em horários não próximos aos de treinamento ou provas – ou seja, nem pouco antes nem imediatamente depois. "Se for feita pós-exercício, deve ser relaxante e é preciso ter cuidado com a intensidade do toque. Não se deve causar estresse na musculatura já bastante cansada", argumenta Sarkis.
INDICAÇÕES E CONTRAS. A fisioterapia esportiva recomenda que o atleta inclua em seu programa esportivo pelo menos uma sessão de massagem por semana. Além de contribuir para a recuperação, a massagem pode ajudar o diagnóstico precoce de algumas lesões que possam estar instaladas, sem a percepção prévia do paciente.
"Por isso, ao se submeter a esse tipo de terapia, é importante que o corredor relate se sente algum ponto de maior dor", recomenda o treinador Marcos Paulo Reis. "O toque do especialista pode avaliar o estado do músculo e a integridade de articulações", explica a fisioterapeuta Tatiana Abreu.
Mas nem todo mundo pode se entregar a massagem. Portadores de insuficiência cardíaca ou renal, trombose venosa profunda, infecções, alterações cutâneas na região a ser tratada (feridas, inflamações, eczemas) ou ainda com lesões musculares agudas, como no caso de estiramento ou distensão muscular recente (a massagem prejudicaria a cicatrização do tecido, criando uma espécie de calcificação no lugar do músculo) devem ficar longe do procedimento. "Para esportistas com lesões e dores musculares intensas, descanso e métodos de fisioterapia são mais eficientes", diz Mário Mello.
TIPOS DE MASSAGENS
DESPORTIVA: com movimentos e intensidades que variam de acordo com os objetivos do atleta (relaxamento ou terapêutico), aumenta a circulação sanguínea e ajuda a eliminar toxinas (como o ácido lático) que se acumulam nos músculos, principalmente depois da prática de exercícios. Com isso, combate a dor, a tensão e a contratura muscular. "Pode ser realizada com gelo (criomassagem) associada à massagem clássica (sueca ou massoterapia)", sugere o fisioterapeuta Evaldo Bosio. Para corredores, a especialista Tatiana Abreu recomenda também a técnica rolfing. "Favorece o alongamento", diz.
DRENAGEM LINFÁTICA: estimula o corpo a reabsorver os líquidos acumulados, por meio de movimentos que direcionam os líquidos estagnados aos linfonodos (órgãos que drenam estas substâncias). Deve ser realizada quando o atleta sofre de retenção líquida ou quando apresenta inchaço, devido a uma lesão, por exemplo. Vale ressaltar que só pode ser realizada por fisioterapeutas.
SHIATSU: técnica oriental que visa manter o equilíbrio entre o corpo e a mente, com manobras vigorosas. "Remove aqueles pontos de tensão, os nódulos que ficam no músculo. Vale lembrar que eles são mais comuns em regiões como trapézio (em cima dos ombros) e pescoço – e não em membros inferiores", diz Tatiana.
AUTO-MASSAGEM: é importante até para você conhecer mais seu próprio corpo e detectar possíveis dores. "Faça sempre que possível, tocando com cuidado pontos sensíveis como sola dos pés, panturrilhas e parte lateral das coxas. O ombro, ponto de constantes tensões, é outra parte importante", diz a especialista da Fisiorun. "Você pode utilizar um creme para facilitar o deslizamento das suas mãos ou usar uma bolinha de tênis para massagear as áreas tensas. Os pontos mais importantes para o corredor são o quadríceps (coxa), trapézio (região dos ombros)
e a planta dos pés", reforça a fisioterapeuta Lucely.
RÁPIDA PÓS-PROVA ADIANTA?
"É apenas um relaxamento", diz Marcos Paulo Reis. "Não substitui uma massagem mais longa e bem direcionada, com fins terapêuticos", completa Lucely Lustre. "Como o nome diz, é um procedimento rápido, mas não significa que seja ruim. Mal só pode fazer quando o massagista não é preparado. Aí o bom é evitar", aconselha o treinador Mário Mello.
Aplicada nas costas não tem muita eficácia logo. "O ideal é que seja feita nos membros inferiores, com intuito de aliviar dores após as corridas e acelerar o processo de recuperação", diz Tatiana Abreu.
CUIDADOS
– O profissional – massoterapeuta ou fisioterapeuta – deve ser habilitado.
– Ao se submeter à massagem, esteja livre de aneis, brincos, colares, correntes.
– Acomode-se na maca o mais confortável possível, evitando formar novos pontos de tensão.
– A tolerância à pressão e à dor é diferente para cada pessoa. Avise ao especialista se sentir desconforto.
– Informe previamente o terapeuta sobre alguma doença que possa ter, principalmente problemas vasculares e infecções.
– Saiba que não é possível eliminar todo o estresse de uma só vez e em sessões curtas.