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Especial Tênis e Acessórios Redação 12 de março de 2013 (0) (121)

Tênis, roupas, acessórios: o avanço da tecnologia

Um par de tênis, roupas confortáveis e você já pode começar a correr. Sempre foi simples assim. Mas se em 1993, quando a CR nasceu e o número de praticantes de corrida de rua era pequeno, a imagem era do corredor franzino, que usava um tênis qualquer, calção curto, camiseta regata de algodão e relógio com cronômetro, hoje a coisa é completamente diferente. O corredor de agora pode ser desde o atleta que tem o corpo trabalhado na musculação até o indivíduo cheinho e com disposição para entrar em forma. Seu calçado possui todo tipo tecnologia (de amortecimento, de estabilidade, de absorção de suor); suas roupas são feitas com tecidos "inteligentes" e a modelagem é fashion; para controlar o tempo, relógio com GPS no pulso e outras traquitanas que fornecem mil informações. Toda essa evolução teria mudado o jeito de encarar a corrida?

Antes os corredores tinham praticamente que improvisar calções e bermudas para evitar que a pele, principalmente nas virilhas, ficasse irritada; usava-se vaselina para evitar o atrito (hoje existem diversos cremes para esse fim). Os tecidos grossos das camisetas também provocavam irritações nos mamilos – colocava-se esparadrapo para protegê-los (embora essa prática ainda seja vista em alguns lugares hoje). Para não machucar os pés, em vez de meias esportivas, de cano baixo, muitos usavam meias sociais (mais finas).

"Comecei minha carreira atlética em 1975. E durante muitos anos não tive escolha: treinava com qualquer tênis, de solado duro, sem tecnologia. Às vezes, colegas da elite viajavam para fora do país, traziam alguns pares mais ‘sofisticados' e vendiam aos interessados por aqui. E as meias, então? Eram grossas, horríveis. Vestíamos o que tínhamos à mão. Também não existia essa coisa de trocar de tênis a toda hora: usávamos o calçado até acabar com ele", conta Miguel Sarkis, ex-atleta de elite e diretor-treinador da Assessoria Miguel Sarkis Personal Trainer, de São Paulo, um dos mais respeitados nomes da corrida de rua no Brasil.

Em meados dos anos 1980 surgiram as primeiras ideias de amortecimento – e os tênis passaram a ficar mais macios. "Na década seguinte, os calçados começaram a ganhar cara parecida com a que se tem hoje. Criaram-se as placas para dar estabilidade, mas ainda sem o intuito de corrigir a pisada. E os materiais eram inferiores aos de agora: a malha era mais fechada, o que deixava o calçado quente. As cores não variavam quase nada – os tons eram branco, cinza, preto. Os modelos também vinham com um toque que lembrava couro, que agregava valor ao calçado", relata Leandro Moraes, gerente da linha de tênis da Asics, especialista no assunto.

Com o passar do tempo, os tênis evoluíram: perderam peso (a maior transformação nesse sentido se deu no solado), ganharam diversos moldes (para atender a corredores com diferentes tipos de pés e pisadas), agregaram tecnologias (com materiais mais resistentes e com benefícios como melhorar a respirabilidade dos pés, por exemplo) e aumentaram a cartela de cores. "Tudo isso contribuiu para o bem-estar e para a melhora de performance tanto do atleta profissional como do amador", analisa Moraes.

As novidades incorporadas acabaram por elevar o preço do produto de maneira geral. Hoje os valores de alguns tênis de corrida batem os quatro dígitos. Mas, é claro, também existem opções econômicas e eficientes. "Usar tênis com amortecimento é uma ação preventiva contra lesões, principalmente para quem está começando ou está fora de forma. Só que não precisa ser o mais caro. Minha sugestão sempre é experimentar e se sentir bem com calçado. Se estiver confortável, é o ideal para você", ensina o especialista da Asics.

 

A MODA DA CORRIDA. O figurino para a prática da corrida também mudou nas ruas, nos parques, nas academias. Os velhos camisetões e as regatas de algodão de antigamente – que encharcavam com o suor – já não têm vez. Hoje a pessoa que começa a se exercitar busca modelos bonitos, ajustados ao corpo, com tecidos agradáveis. "A roupa de esporte melhorou muito. Surgiram tecidos tecnológicos, como o poliéster e a poliamida, aos quais podemos agregar benefícios em suas fibras, resultando em redução de odor, resfriamento do corpo, menos atrito, entre outras coisas. Não se trata só de conforto, mas também de ganho de performance, já que com uma roupa que não incomoda, o corredor se concentra no que ele tem realmente de fazer: correr!", diz Tatiana Mancini, gerente de produto de vestuário e acessório da Asics.

Só que tem um detalhe: da mesma forma como acontece com os tênis, quanto mais tecnologia a peça tiver – e consequentemente quanto mais benefícios prometer -, mais alto será o seu preço.

E se há duas décadas os tamanhos que mais saíam eram P e M – a maior parte dos corredores era magrinha -, atualmente essa grade cresceu. "Até alguns anos, os modelos femininos paravam no G. Hoje já introduzimos o GG. E para determinadas peças temos numeração até maior. O mercado da corrida não para de crescer e estamos recebendo muitos novos consumidores, de todos os tipos e idades. Isso é bom, porque significa mais gente cuidando da saúde", argumenta Tatiana.

As mulheres, aliás, ganharam não só com a numeração como com a nova modelagem. As roupas de antigamente eram muito restritas – shorts, por exemplo, só existiam masculinos -, mas agora as peças chegam a ser tão atraentes que muitas vezes são usadas até fora do ambiente da corrida.

Além de mais gostosas de vestir, as roupas também ficaram muito mais bonitas. As coleções de todas as marcas ligadas a esporte trazem peças coloridas e estampadas. "Branco, preto e cinza já não são as cores que mais vendem. Até os homens estão optando por roupas e tênis mais fashion. O tom do momento é o flúor", atesta a especialista.

Nesse crescimento do mercado, apareceu ainda um novo item no "enxoval" do corredor: a meia de compressão. Em simples treinos ou em provas, é fácil encontrar adeptos. Alguns estudos e os fabricantes, claro, procuram validar sua eficiência. "Ela reduz a fadiga e traz conforto ao usuário. E acaba até compondo um visual bacana", acredita Tatiana.

Mas nada há no meio científico que comprove a eficiência dessas meias, que parecem ter mesmo mais uma função estética. Como corredor e treinador, Miguel Sarkis se mostra reticente em relação aos benefícios da peça. "Meias de compressão e outras que tentam justificar o amortecimento pelo enchimento do solado podem não ser tão eficientes assim. Talvez faltem mais pesquisas. Acho que não é das coisas mais interessantes para se usar hoje, e acredito que a maioria dos corredores não tem indicação e nem sabe por que está usando. Compra-se porque agora faz parte do visual da moda."

 

TEMPO, TEMPO, TEMPO. O velho cronômetro de 20 anos atrás continua lá, mas os novos relógios trazem muito mais funcionalidades: calculam velocidade, distância e ritmo; têm sensor cardíaco; podem aferir o VO2 máximo; informam até o tempo de que você precisa para se recuperar após o exercício. Ainda permitem que você compartilhe seu treinamento com os amigos por meio das redes sociais e participe de desafios virtuais. Ou seja, se você quiser, sua corridinha vira um espetáculo!

"Não devíamos ficar dependentes de toda essa tecnologia, sob o risco de perder as referências que o corpo dá e as boas sensações que o exercício traz. Um relógio com algumas informações é importante para quem está começando a correr, para quem é cardiopata ou obeso e precisa aprender a se controlar", diz Sarkis.

Mas antes que o acusem de ser "pré-histórico das corridas", o treinador informa: "Adoro minha história e o caminho que eu trilhei. Mas também adoro o novo, adoro eventos gigantescos, marketing esportivo, adoro roupas, tênis, óculos coloridos. Temos que andar para frente e, de fato, com as inovações dos últimos 20 anos estamos colhendo bons frutos… Minha crítica é somente ao avanço desenfreado, sem informação, pelo modismo. Dessa forma vejo que as pessoas acabam se machucando e comprometendo a saúde no futuro, ou seja, saem perdendo". 

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