Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (105)

Sou marqueteiro mesmo, e daí?

Adriano é facilmente reconhecido nas provas e treinos. Ele diz que se sentiria pelado se corresse sem os óculos, tanto que quando corre à noite, usa com lentes transparentes. A roupa característica de triatleta é herança do esporte do qual praticou no passado (até foi campeão paulista da modalidade) e segundo ele, se sente mais a vontade correndo assim. Ainda quando era triatleta, em meio aos seus treinamentos para um Ironman, Adriano fez a Maratona de São Paulo de 1998 e concluiu a prova em 2h40. Já em 1999 participou das maratonas de São Paulo (2h39), Blumenau (2h28) e Curitiba (2h31). Foi então que seu principal patrocinador sugeriu que ele se dedicasse apenas à corrida.

Antes do triatlo, a corrida era seu esporte. Por ser temporão, Adriano tem irmãos bem mais velhos que ele. Daniel Bastos, o Beneu, tem 17 anos a mais que o caçula, e é considerado seu verdadeiro pai. "Meus pais nunca tiveram a menor noção do que eu fazia e nunca me viram correr, nem mesmo em competições. Minha mãe achava que eu corria ou pedalava porque não tinha nada melhor para fazer. Meu pai já é falecido, mas só agora minha mãe entende que ganho a vida com isso. O Daniel sempre ia atrás das coisas que eu pedia ou precisava e até pagou meu primeiro ano de faculdade", diz. Os irmãos mais velhos de Bastos praticavam corrida e inscreveram o caçula, com então 12 anos, em uma competição de 3 km para atletas de até 15 anos e ele chegou na terceira colocação. Passando a ter a mesma treinadora dos irmãos (Silvana Cole), conheceu e passou a praticar triatlo.

CARA METADE. Mais tarde, quando se viu na encruzilhada de largar esse esporte e abraçar definitivamente a corrida, Adriano contou com o apoio irrestrito de sua mulher, Renata, casada com ele há 7 anos. O papel de apoio que ela representa na vida de Adriano é tudo aquilo que não pode ter de seus pais e, obviamente, muito mais. Renata é sócia de Bastos na assessoria esportiva que leva o nome do marido. "Ela está comigo em todas as competições, acordando às 6 da manhã e falando para mim as palavras de incentivo que preciso escutar", afirma. É Renata quem abastece os patrocinadores de Adriano com as fotos de chegada da provas que ele vence.

E é aí que entra o marketing. Muitos dos críticos dizem que Adriano é só marqueteiro. "Sou marqueteiro mesmo", confirma. Se marketing significa dar o retorno de visibilidade para quem o patrocina, é isso que Adriano faz com maestria. Ele compete praticamente todos os finais de semana, inclusive em provas que não oferecem premiação, como as com preço alto de inscrição, que atraem majoritariamente corredores de melhores condições financeiras ou que não ligam de pagar caro para correr. A visibilidade para esse público já agradaria aos patrocinadores de Adriano.

SEM TREINADOR. O fato de competir tanto fez com que a parceria de 7 anos com Ricardo D´Angelo, o mesmo treinador de Vanderlei Cordeiro, chegasse ao fim no ano passado. "O Ricardo vivia me falando que não concordava com o que eu fazia, mas hoje, me ‘autotreinando', uso a mesma metodologia que aprendi com ele, e acho que estou me saindo bem", diz Adriano, que é formado em Educação Física e tem mestrado em Administração e Marketing Esportivo.

Também veio de D'Angelo o "decreto" de que se Adriano tivesse o foco correto para a maratona, faria 2h13. "Por que me mataria para chegar nesse resultado, se há milhares de corredores talentosos que conseguem abaixo disso com mais facilidade do que eu?", pergunta. Isso fez com que Adriano aprendesse a lidar e usar essa limitação a seu favor. Seus tempos de conclusão nos 42 km ficam entre 2h16 a 2h21 e em todas as maratonas que venceu não havia adversários com tempos muito melhores que o seu. São elas as seis vitórias na Maratona da Disney (que não distribui premiação), duas em Santa Catarina (a de 2008 é seu recorde pessoal, 2h16), uma em Porto Alegre e outra em Curitiba. Também já se saiu bem na Maratona de São Paulo de 2008, chegando na 5º colocação. "Eu me preservo. No ritmo em que corro nunca chego estafado no fim da prova – exceto por Florianópolis neste ano, pelos problemas de abastecimento", afirma.

O jeito de Adriano levar a vida como corredor rendeu bons frutos. Tem casa própria próxima da USP, um carro e duas motos. De sua renda, os patrocínios respondem por 70% e os outros 30% vem de sua assessoria. As premiações e bônus contratuais com os patrocinadores vão todos para a poupança e não entram nessa conta.

NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO. Só neste ano, Adriano venceu as três maratonas que disputou – Disney, Floripa e Porto Alegre – em um espaço de 5 meses. Muitos treinadores, incluindo ele mesmo, não recomendam isso aos seus alunos. "Eu me recupero muito rápido depois de uma maratona. Geralmente já estou competindo no fim de semana seguinte em provas rápidas, como as de 5 km."

No ano passado, ele também participou de 6 maratonas e ainda teria pela frente a do Rio de Janeiro no dia 28 de junho, logo após o fechamento desta edição. E está em sua agenda, as de Foz do Iguaçu e de Curitiba. Perguntado do sentido de tudo isso, nos deixa claro que também pretende usar sua boa recuperação a seu favor. "Minha intenção é disputar a Comrades de 2013, quando for em subida, pois sou bom nisso. Quando o russo fez o recorde da prova, correu a 3:45 min/km. Esse é o meu ritmo de rodagem", justifica

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