Especial admin 12 de março de 2013 (0) (86)

Qual a sua São Silvestre inesquecível?

Podemos dizer que a Corrida Internacional de São Silvestre é um patrimônio brasileiro. Todos a conhecem. Basta dizer que pratica corrida e vem a fatídica pergunta se já correu a prova. No Facebook, quando desenvolvia esta matéria, uma amiga escreveu: "Meus primeiros 8 km, que delícia". Na sequência, um comentário na rede social: "Você está virando uma esportista, pode correr a São Silvestre!" Quem já participou da SS sempre tem uma história para contar, engraçada, de superação, única ou que pode ser compartilhada por milhares de corredores, basta somente trocar o nome do personagem.

Há muitos depoimentos engraçados, alguns envolvendo os famosos fantasiados que invadem as ruas paulistanas no último dia do ano. Como o do corredor que por meses treinou para a São Silvestre, fazendo a preparação certinha para a estreia nos 15 km. Chegou o grande dia e largou juntamente com o Super-Homem. Mas o homem de capa e cueca por cima da calça não foi adversário. Era uma tarde muito quente. A água jogada na cabeça para refrescar foi se acumulando nas botas, transformando-se em criptonita e rapidamente o super-herói ficou pelo caminho. Porém, surgiu Tinky Winky, um dos Teletubbies, fantasiado da cabeça aos pés. Começaram um duelo que foi até por volta do km 7. Aí, o corredor pensou: "Inacreditável, treinei demais, meses para perder para esse aí?" Apertou o ritmo e o deixou para trás. Mas chegou a famosa subida da Brigadeiro. O corredor já "quebrado", arrastando e lutando com a cabeça para ir até o final e completar a prova. Foi quando surgiu a toda velocidade Bananas de Pijama, o ultrapassou, sumiu do campo de visão e fez a festa na Paulista! Até hoje o corredor tem pesadelos com os personagens…

Fizemos, então, uma pergunta para alguns corredores, tentando retratar esse espírito da prova: "Qual a sua São Silvestre inesquecível?"

 

A CELEBRAÇÃO DA CURA. "No início de 2011 decidi me dedicar mais à corrida e chegar ao ritmo de 4:00/km. Porém, juntamente com os treinos cansativos veio a descoberta de um câncer. Não desanimei, me dediquei ao tratamento e, por consequência, tive que parar de treinar. Em setembro fui operado e, no dia 30 de novembro, liberado para voltar aos treinos. Nesse dia, me inscrevi na São Silvestre. Tinha 30 dias para ficar pronto e fiquei. Lembro como se fosse hoje o pensamento de estar curado que apareceu na largada e na Brigadeiro… Na hora da subida, com muita chuva, somente isso me fazia continuar a correr, pois a falta de treino ‘apareceu'. A vontade de terminar os 15 km com o intuito de comemorar a vida e o ano que estava chegando, com os outros 20 mil corredores, era intensa e depois de 1h25, quando passei pelo pórtico, deixei gravado como a prova mais importante da minha vida!"

Paulo Tadeu dos Reis

 

UMA NOVA VIDA. "A minha foi a edição de 2001, a primeira prova de rua de que participei. Em setembro do mesmo ano, por incentivo do meu irmão, comecei a correr. Na época enfrentava um distúrbio alimentar, a anorexia, e meu irmão viu na corrida uma forma para que eu saísse daquela situação. Nesse período pesava apenas 38 quilos com 1,65m de altura. Me sentia fraca, sem disposição e vontade de fazer as coisas. A minha família tentava me ajudar de todas as formas, mas era preciso que eu mesma me tirasse daquele estado.

Ouvi meu irmão e comecei a correr. A partir daí percebi que era necessário me alimentar bem para a prática esportiva. Ele percebeu que eu estava me empenhando e realmente gostando da corrida, e então me inscreveu na São Silvestre. Eu nem tinha ideia de quantos quilômetros corria nos treinos, apenas controlava por tempo.

Faltando uma semana para a SS, nós dois fizemos um simulado da prova. Fiquei mais tranquila em relação a conseguir completar os 15 km. Chegando o grande dia, a ansiedade era enorme, pois nunca havia imaginado estar naquele lugar. As mulheres amadoras largavam separadamente, aproximadamente com a diferença de 1h30 dos homens. E assim corri, emocionada e muito feliz durante todo o percurso, juntamente com as outras mulheres. Jamais esqueço este dia, que marcou o meu início na corrida de rua, e que faz parte totalmente da minha vida, por me livrar da anorexia."

Daniela Barcelos

 

A ÚLTIMA NOTURNA. "A minha São Silvestre inesquecível é a de 1986, que coincidiu com o meu primeiro ano de treinos. Eu tinha 19 anos e já havia participado de duas corridas antes, por pura curiosidade. Mas ocorre que naquele ano, um grupo de conhecidos da USP iria fazer a São Silvestre e eu adorei a ideia. E por que foi inesquecível? Porque em 1986 a corrida ainda era à noite, largava por volta das 23h30 e descia a Brigadeiro. E sendo neste horário aconteceu de, à meia-noite, na virada do ano, eu estar exatamente na subida da Consolação. Me lembro muito bem, nessa hora começaram os fogos e todos os corredores que estavam ali correndo pararam ou diminuíram a velocidade para desejar, com os que estavam ao lado ou próximos, um feliz ano-novo. Toda aquela massa de corredores se cumprimentando! Para mim ficou marcado, nunca me esquecerei desse momento. Depois de alguns minutos, voltamos a nos concentrar para chegar e completar os 12,6 km, distância da São Silvestre naquele ano. A vencedora foi a portuguesa Rosa Mota, entre apenas 172 mulheres participantes. E eu era uma delas! Depois corri em 1997 quando já era à tarde, passei mal com o calor… Fiquei tonta e prometi que nunca mais correria a menos que mudassem o horário… Agora decidi, vou correr neste ano! Culpa dessa lembrança para a Contra-Relógio!"

Adriana Toledo Piza

 

SONHO DE MUITOS ANOS. "Minha história da São Silvestre é comum, pois cresci vendo a prova e sempre imaginei que a correria um dia. Mesmo tendo sido atleta durante toda a vida (joguei handebol, vôlei e basquete) via a prova como algo dificílimo e tinha medo de não completar ou ter que andar. Em novembro de 1997 fiz a minha primeira prova, a 10 km São Paulo Classic. Então, achei que seria possível. Comecei a treinar sozinho e, faltando uma semana para o dia 31 de dezembro, fui até a USP e corri 12 km. Pensei comigo: ‘Acho que dá'. Aí, no esperado dia, fui lá e fiz os famosos 15 km em 1h28. Quando acabei a prova, me senti realizado e não tirei a medalha do peito. Fiquei andando pela Avenida Paulista sem camisa e mostrando minha medalha como se tivesse vencido a prova. Sentia-me realizado como um herói que ganhou uma batalha. Nunca vou esquecer aquele momento mágico."

Edmilson Machado

 

DEPOIS DA HEMODIÁLISE. "Tenho 31 anos, casado com a Juliana há sete e ‘pai' do Snoopy, meu beagle de 6 anos. Sempre gostei de esportes; jogava bola desde criança, andava de bicicleta, corria todo final de semana. Minha primeira São Silvestre foi em 2009. Desde o momento em que cruzei a linha da chegada, decidi que todo ano faria a prova. Em 2010 novamente estava ali no dia 31 e em 2011 vivia a mesma expectativa, mas no segundo semestre sentia muitas dores de cabeça, meu fôlego não era o mesmo. No final de novembro, ajudava um amigo em um trabalho quando a Juliana notou que minha vista estava avermelhada. No final da tarde, no Pronto-Socorro, o diagnóstico: pressão alta. Fui ao cardiologista na semana seguinte. No dia em que faria uma tomografia, os exames de sangue ficaram prontos; era uma sexta-feira à tarde e eu estava deitado por causa da dor de cabeça insuportável. Juliana passou via fax os resultados para o cardiologista, que indicou internamento imediato: ‘Os dois rins dele estão parando'. Fiquei desorientado. Voltando para casa, já fazia hemodiálise. Na consulta, em janeiro, com o nefrologista, ele avisou: ‘Se você ficar na máquina (de diálise), vai viver, mas se fizer o transplante, viverá muito melhor'. Após essa notícia, me aproximei mais ainda dos meus irmãos. Handerson, o caçula, seria o mais compatível. A primeira coisa que ouvi dele foi: ‘Quando nos internamos?' A cirurgia foi dia 17 de abril, durou seis horas e foi tudo perfeito, para nós dois. Tive alta em 30 de abril. Após 40 dias comecei a caminhar, trotar e voltei a correr. A primeira prova foi no começo de novembro, com 10 km em 47:49. Me realizei. Agora aguardo ansiosamente pela São Silvestre deste ano, que será inesquecível. Um momento de homenagear o Handerson pelo ato de amor."

Adriano Santana Santos

 

UMA MEDALHA SUADA. No dia 30 de dezembro de 2009, véspera da São Silvestre, minha mãe inventou de fazer uns pães de queijo. Daqueles bem mineiros, que resolvi incrementar com presunto e maionese. Comi até não aguentar mais. Tive uma noite de rainha, da cama para o trono e do trono para a cama.

Acordei no dia 31 de dezembro ainda passando mal e desidratada. Mas eu era a responsável pela excursão de uma turma de Belo Horizonte que iria de avião para a São Silvestre. Pessoal animado, e eu tentando me manter em pé. Assim, pegamos o avião e quando chegamos em São Paulo, às 11h, consegui almoçar 1 colher de arroz e 1 folha de alface. Estava pronta para a corrida.

Minha meta inicial era terminar os 15 km em 1h15. Quando comecei a correr, sentia câimbras por todo o corpo, uma sensação terrível. Dor de cabeça e de barriga. E ainda assim consegui trotar até o km 9. Aí comecei a andar e a cada ambulância que via, eu pensava em parar, mas não podia. Uma semana antes da São Silvestre, uma repórter da TV Globo mineira me convidou para fazer uma matéria no dia 1º de janeiro, na qual eu deveria levar a minha medalha da São Silvestre. Eu tinha que terminar a corrida de qualquer jeito, menos na ambulância. E assim continuei, cambaleando até cruzar a linha de chegada em 2h15.

Logo que cheguei, expliquei minha situação para um enfermeiro, que me levou ao posto médico para tomar soro. Quando acordei, percebi que o chip (na época ainda não era descartável) ainda estava no meu tênis e a organização já desmontava toda a estrutura. Saí rapidamente do posto médico e perguntei para um staff como eu fazia para pegar a minha medalha. Ele disse que não tinha mais jeito, pois tudo havia sido desmontado. De repente, apareceu um casal de corredores idosos, contei rapidamente minha história e o senhor resolveu me dar a medalha dele em troca do meu chip, pois o organizador havia prometido trazer a medalha dentro de meia hora.

Porém, já eram 20h50 e meu voo saía às 21h12 de Congonhas. Fui correndo da Avenida Paulista até o hotel, que ficava na Rua Augusta. Corri mais rapidamente do que eu havia feito na São Silvestre. Chegando lá, me informaram que o pessoal da excursão já havia ido para o aeroporto. Nesse momento, o motorista que tinha levado o grupo retornou ao hotel para receber o pagamento e se ofereceu para me levar até Congonhas.

O motorista da van me deixou no aeroporto e, estimulada pela última chamada para o voo, voltei a correr e consegui embarcar. Entrei no avião ainda molhada, com a roupa da corrida e o número de peito na camiseta. Mas a medalha nas mãos.

Logo, logo, as câimbras por todo o corpo voltaram. Mal conseguia andar. Mas eu ainda tinha uma festa de réveillon para ir, para qual tinha comprado um convite de quase R$ 200.

Por incrível que pareça, uma das corredoras da excursão morava a um quarteirão da minha casa e estava sem carro, procurando uma forma de voltar para casa. Ela se ofereceu para guiar o meu carro, uma vez que as câimbras não me deixariam voltar dirigindo, e lá fomos nós.

No final das contas, essa foi a corrida que deu tudo errado e tudo certo ao mesmo tempo. Sem ir à festa, passei a virada do ano tomando um banho bem gostoso e no dia seguinte todo o Estado de Minas Gerais me viu na TV segurando a medalha da São Silvestre.

Maria Vitória Abreu

 

Veja também

Leave a comment