Carlos, 35 anos, corredor amador, completou recentemente sua primeira maratona em 4h45. Pelas redes sociais, manifestou sua alegria pelo objetivo alcançado: "Cheguei bem e feliz. Mas isso não seria possível sem a ajuda de algumas pessoas. Quero agradecer aqui a meu treinador, minha nutricionista, meu fisioterapeuta, minha massagista…" Esse é só um exemplo do que vemos hoje por aí.
O amador de agora – que encara desde 5 km até ultramaratonas – pode ter acesso a um grande staff de apoio para melhorar sua performance ou apenas para se sentir bem. Completamente diferente de apenas 20 anos atrás, quando a maioria das corridas estava em um estágio rudimentar, e a CR começava a ajudar a melhorar essa realidade.
"Serviços como os de nutricionista, fisioterapeuta, médico do esporte, acupuntura eram, de fato, para atletas profissionais. E mesmo assim eram poucos que buscavam. Pouco se falava destes especialistas no esporte", diz a treinadora Simone Machado, de São Paulo.
"Não havia tantas pessoas praticando corrida e os conhecimentos a respeito de treinamento e recuperação não eram tão profundos. Raros os atletas (não profissionais) que procuravam ajuda e quando assim faziam, geralmente queriam resolver algum problema já instalado, nunca prevenir lesões e/ou melhorar o desempenho", completa a professora Gerseli Angeli, do Instituto de Fisiologia do Exercício (IFE).
NOVO COMPORTAMENTO. A busca por mais informações e profissionais especializados começou com mais força há cerca de 10 anos, dando início às mudanças de comportamento entre os amadores. "O aumento do número de corridas de rua, os investimentos feitos pelas empresas de vestuário e alimentação com foco no esporte, a globalização, o acesso à internet e a divulgação da mídia tiveram papel fundamental nesse avanço", analisa Gerseli.
Com o conhecimento "viajando" rápido, os profissionais também passaram a ficar mais atualizados, podendo aplicar técnicas modernas e eficazes em termos de treinamento e suplementação, bem como indicar avaliações mais efetivas tanto para o diagnóstico/prevenção de lesões quanto para melhora da performance. Ou seja, a qualidade do serviço prestado melhorou, os resultados apareceram e a procura aumentou.
"Acredito que esta seja a grande vantagem da tecnologia e da evolução dos estudos científicos. Se antes era luxo ter nutricionista, tratamentos preventivos ou mesmo curativos (como massagem e acupuntura), hoje estes serviços estão mais populares, sendo possível para um número maior de corredores", diz o professor Vitor Tessutti, do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana, da USP, e sócio da Clínica de Corrida.
SERVIÇOS ESSENCIAIS. O perfil do corredor sofreu mudanças nas últimas décadas: se antes a maioria só pensava em performance, hoje a busca é por saúde, diversão e socialização. E a evolução do suporte ao corredor vem ao encontro aos novos desejos. "Atendo pessoas comuns, que trabalham muito, que têm filhos, que se desdobram para manter a dieta, os treinos e a rotina de vida, mas que amam correr e têm o esporte como válvula de escape para combater o estresse. Sem uma boa assessoria para treinos, sem o correto descanso e sem suplementação adequada não há consistência na evolução e o risco de lesões aumenta. É um erro pensar que profissionais como nutricionistas e fisioterapeutas atendem somente atletas profissionais ou aqueles que correm forte", explica Priscila Di Ciero, nutricionista esportiva, de São Paulo.
Esses amadores também estão se tornando frequentadores assíduos dos consultórios de fisioterapia e medicina esportiva. "Hoje quem nos procura na Clínica da Corrida são pessoas já lesionadas. Infelizmente, nossa cultura é curativa e não preventiva. A análise da técnica da corrida, por exemplo, pode parecer algo sem necessidade – afinal, correr é natural. Mas estudos estão mostrando que não é bem assim. As estatísticas apontam que quase todos os corredores sofreram alguma lesão em sua vida de atleta amador. Somente uma avaliação detalhada é capaz de identificar falhas no padrão de movimento. Seria muito melhor identificá-las antes de a lesão ocorrer", argumenta Tessutti.
Para a professora Gerseli Angeli esses serviços só têm a beneficiar o corredor. "O indivíduo que treina com frequência, que participa de provas e busca superar suas marcas, impõe ao corpo uma sobrecarga que a médio e longo prazo vai cobrar seu preço. Todos deveriam se submeter a um acompanhamento periódico, a fim de não apenas lapidar a performance (porque uma suplementação bem feita e uma musculatura bem equilibrada melhoram o desempenho), mas também para prevenir lesões e retardar esse processo de desgaste que, inevitavelmente, vai acontecer". Tessutti concorda, mas ressalta também que, antes de qualquer coisa, o essencial é procurar um bom técnico. "O treino, que é o principal, precisa ser feito com critério."
Mais apoio, menos performance