Especial admin 12 de novembro de 2010 (0) (101)

O que dizem os usuários das meias de compressão

Anos atrás, a recordista mundial de maratona, a inglesa Paula Radcliffe, chamou atenção quando apareceu correndo com meias de compressão (no início beges, como as usadas por mulheres grávidas ou pessoas com problemas de varizes). Mais adiante, as tais meias também passaram a cobrir as canelas de triatletas – porém já mais coloridas e "fashions".  Ao mesmo tempo foram surgindo estudos e desenvolvidas tecnologias com a intenção de provar que a vestimenta poderia ajudar o corredor, minimizando dores, auxiliando a recuperação e até melhorando a performance. Hoje, seja pelos supostos benefícios, seja pelo exemplo dos grandes atletas ou até pelo estilo que conferem ao visual, cada vez mais corredores as vêem como "objeto do desejo" e muitos já desfilam com elas em treinos e provas.

Acontece que no Brasil ainda é difícil encontrá-las (especialmente as mais "transadas"). A maioria é comprada em viagens ao exterior, em sites estrangeiros ou por meio de importadoras. Na entrega do kit da Meia do Rio, a loja carioca Mr.Tuff (www.mrtuff.com.br) estava vendendo o modelo DeCompressor, da marca americana DeFeet, por R$ 130. De olho no mercado, algumas marcas esportivas já começam a oferecer opções por aqui ou prometem para muito em breve. Confira a seguir as opiniões de quem experimentou. 

 

DE OLHO NA ETÍOPE. O médico Frederico Peret, de 40 anos, corre há oito anos. Treina corrida três vezes por semana, intercalando com dois dias de natação e um de bicicleta. Adotou as meias de compressão há um ano e meio e as utiliza em treinos longos, intervalados e em provas. "Vi em feiras e lojas fora do Brasil e também na Maratona de Nova York, usadas pela Gete Wami, da Etiópia. Eu já usava calça e bermuda de compressão há pelo menos três anos e me baseei no mesmo princípio ao me decidir pelas meias. A ideia era reduzir a sensação de fadiga nas panturrilhas após longões. Utilizo dois modelos – 2XU e CWX – e sinto uma diferença importante, principalmente na recuperação pós-prova e na redução de câibras quando imprimo maior velocidade", diz.

 

BASEADA EM PESQUISAS. O esporte tem grande importância na vida da gerente de comunicação Fernanda de Oliveira Carvalho, de 34 anos: ela pratica corrida (quatro vezes por semana), ciclismo (três vezes) e natação (duas vezes). Mas ela vinha sentindo muitas dores na panturrilha, principalmente nos treinos longos de corrida e nas transições de bicicleta, além de câibras na piscina. Há um ano, ganhou um par de meias de compressão da marca Skarp, no kit de uma prova de triatlo, e resolveu experimentar. "Depois de acompanhar testes em ciclistas, sob orientação do fisiologista Turíbio Leite de Barros, fiquei interessada. Também tinha visto lançamentos semelhantes de todas as marcas esportivas internacionais", conta.

E os efeitos? "As câibras reduziram na natação, porém no ciclismo não senti diferença. Na corrida, acho que o principal resultado aparece em treinos de tiros e longos, com a fadiga diminuindo sensivelmente".

Mas Fernanda lembra que é preciso cuidado ao comprar. "Adquiri uma no tamanho errado que me apertou muito, estrangulando a perna – precisei parar a corrida para tirar. Também não gosto de usar as inteiriças, pois acho que o tecido não é apropriado para ‘abraçar' o pé, apenas para dar compressão na panturrilha. Tive bolhas com a meia inteira".

Quanto à melhora de performance, ela é cautelosa. "Desempenho se obtém através de um conjunto de fatores. A meia de compressão pode ser um deles, porque você consegue ter treinos de qualidade, sem dor e fadiga, o que possibilita se dedicar mais".

 

FIM DAS PERNAS PESADAS. Treinador de triatlo, Rodrigo Tosta, 31 anos, corre de cinco a seis dias por semana. Usa as meias de compressão há dois anos, em treinos longos e provas. "A primeira que usei foi um atleta meu que trouxe do exterior. Li algumas matérias em revistas e sites estrangeiros, resolvi experimentar e gostei! Acredito que melhoram o retorno venoso, ampliando a capacidade muscular e acelerando o processo de recuperação. Com isso, não tenho aquela sensação de ‘pernas pesadas' após treinos mais puxados".

Sobre os corredores que estão usando as meias como acessório de estilo, Rodrigo comenta: "Se eles se sentem bem ‘estando na moda', talvez isso ajude até psicologicamente".

 

PARA PREPARAÇÃO DE MARATONA. Corredor há mais de duas décadas, o comerciante Wagner de Florio, de 45 anos, começou a experimentar as meias de compressão há sete meses. "Vi pela primeira vez dois anos atrás, mas era difícil encontrar. Recentemente consegui comprar de um importador e passei a testar com o objetivo de melhorar meu tempo na maratona", conta.

Entre os efeitos positivos, aponta: "A panturrilha fica mais firme e mais aquecida. Depois do km 30, você sente sua perna mais inteira e consegue manter o ritmo da prova. Este ano usei as meias na Maratona de Porto Alegre e além de bater meu recorde pessoal (3h32), não fiquei dolorido no dia seguinte. A recuperação pós-prova foi a mais rápida de todas as minhas 17 outras maratonas." Mas essa diferença, acredita Wagner, só aparece em provas mais longas.

Como ponto negativo destaca os custos. "Um par pode chegar a R$ 400!" Wagner também frisa que o uso dessa vestimenta não garante o fim das câibras, nem alta performance em todas as provas. "Isso implica em uma série de outras coisas. É preciso ter consciência do seu limite e da sua capacidade." 

 

RESULTADOS DESDE A PRIMEIRA VEZ. O casal Marcus Vinicius Sabino Ferreira (mecânico de aeronaves) e Glaice Moura Ferreira (administradora) treina junto há quase dois anos. Os dois têm como meta fazer a Maratona (ele) e a Meia (ela) da Disney em 2011 e decidiram experimentar as meias de compressão. "Observei outros corredores, li algumas reportagens e decidi adquirir por conta própria para treinos mais longos", diz Marcus. Na primeira semana de utilização, garante, sentiu benefícios. "Fiz um longo de uma hora e meia e não senti a habitual dor na tíbia. E sem o incômodo, meu desempenho melhorou." Glaice destaca a recuperação pós-treino. "Terminei sem a sensação de perna cansada e não senti mais dores na panturrilha".

A VISÃO DO CIRURGIÃO VASCULAR E CORREDOR

O médico e maratonista Jamil Mourad, cirurgião vascular ligado à Faculdade de Medicina de Jundiaí, alerta que não existem estudos que comprovem benefícios em relação ao retorno venoso com o uso dessas meias de compressão. "Não vejo razão para usá-las", diz. Segundo ele, somente corredores que apresentam problemas de insuficiência venosa ou varizes seriam capazes de sentir efeitos positivos, como a diminuição da sensação de pernas cansadas. E especialmente nesses casos, a consulta a um especialista é de fundamental importância. Para quem não tem qualquer dificuldade venosa, as meias teriam um efeito "placebo". "Existe muito modismo. As sensações de melhora podem ser apenas subjetivas".

 

 

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