20 de setembro de 2024

Contato

Notícias contrarelogioadm 26 de novembro de 2017 (0) (191)

O país da marcha atlética

O britânico Mo Farah manteve a hegemonia com o ouro nos 10.000 m e ainda foi prata nos 5.000 m, despediu-se das pistas e agora irá dedicar-se às maratonas, já pensando em Tóquio-2020. Usain Bolt se aposentou com um bronze nos 100 m, mas machucou-se na reta final do revezamento 4 x 100 m, quando brigava pelo ouro, não completando a última corrida da carreira.
Mas, para o Brasil, os grandes resultados do Mundial de Atletismo de Londres, disputado em agosto, vieram de uma modalidade pouco praticada e popular no Brasil, a marcha atlética, com a medalha de bronze e recorde pessoal de Caio Bonfim e a quarta posição (com recorde sul-americano) de Érica Rocha de Sena.
Depois de ter se destacado na Olimpíada do Rio de Janeiro, quando terminou na quarta posição (com 1:19:42), Caio Bonfim seguiu em ritmo forte, destacando-se em etapas recentes do Circuito Mundial. A experiência e a preparação deram resultado, com o bronze nos 20 km marcha atlética em Londres. Essa foi a única medalha brasileira na competição, disputada de 4 a 13 de agosto. Ele completou as dez voltas no circuito de 2 km, montado próximo ao famoso Palácio de Buckingham, em 1:19:04, novo recorde brasileiro.
Em um dia de sol, calor de 23 graus e acompanhada por um grande público, a prova foi realizada em área de grande movimento turístico da capital inglesa, o que ampliou o apoio do público. No Mundial de Pequim, na China, em 2015, Caio Bonfim havia ficado em sexto lugar. "Foi uma prova muito difícil. Começou com um ritmo bem forte e achei que ninguém iria aguentar. Preferi manter o que tinha treinado, e deu certo", afirmou, muito feliz, com a bandeira brasileira nas costas. "Fiz uma prova contra mim mesmo o tempo todo, tentando manter esse ritmo absurdo, esses quatro minutos por quilômetro. Fui administrando, sentindo força onde eu precisava ter, onde sei que são momentos-chave. Isso foi essencial. Tenho muito a agradecer à minha família, que me dá todo o apoio", completou o atleta, treinado pelos pais, João Sena e Gianetti Bonfim.
O colombiano Eider Arévalo conquistou a medalha de ouro, com 1:18:53, novo recorde nacional, seguido do russo Sergei Shirobokov, da equipe independente, com 1:18:55 (19 atletas russos puderam participar do Mundial sem representar o país, suspenso das competições devido ao escândalo de doping).
Outro excelente resultado foi obtido nos 20 km marcha feminino, com a pernambucana Érica Rocha de Sena em quarto lugar, com a marca de 1:26:59, novo recorde sul-americano (a marca anterior era dela mesma, com 1:27:18, estabelecido em 2016, durante o Mundial de Marcha Atlética por Equipes, em Roma).
Érica esteve sempre no pelotão de frente, desde a largada, manteve um ritmo forte até o km 17, quando recebeu placas de advertência de quatro árbitros. "Fiquei preocupada. Tive o receio de ser desqualificada e diminuí o ritmo", afirmou a brasileira, orientada pelo marido, o equatoriano Andrés Chocho. "O objetivo era a medalha, claro, e fiquei muito perto. O outro era melhorar minha marca e consegui. Planejei tudo para chegar na minha melhor forma no Mundial", disse a marchadora, sexta colocada no Mundial de Pequim-2015 e a sétima na Olimpíada do Rio-2016.
A chinesa Jiayu Yang conquistou a medalha de ouro, com 1:26:18, seguida da mexicana Maria Guadalupe, com 1:26:19, e da italiana Antonella Palmisano, com 1:26:36 (ou seja, foram apenas 23 segundos que separaram Érica do pódio no Mundial).
Nos 50 km marcha atlética feminina, disputados pela primeira vez no Mundial, a catarinense Nair da Rosa terminou em quinto lugar. O tempo dela não foi registrado porque não completou a distância e a prova acabou interrompida pelos organizadores. A portuguesa Inês Henriques garantiu o ouro, com 4:05:56, novo recorde mundial. Já as chinesas Hang Yin e Shuqing Yang ficaram com a prata e o bronze, com 4:08:58 (recorde asiático) e 4:20:49, respectivamente.

OUTROS BRASILEIROS – Sem Thiago Braz, medalhista de ouro olímpico, que machucado não pode competir no Mundial de Londres, o desempenho brasileiro ficou longe do esperado. Quem também não pode competir, lesionada, foi Nubia Soares (quarta no ranking mundial do salto triplo). O país terminou entre os oito primeiros (finalistas) em três provas: Thiago André foi sétimo nos 800 m (fazia 14 anos que o Brasil não chegava a uma final na distância), Rosângela Santos terminou também na sétima posição dos 100 m, mesma colocação do revezamento feminino 4×100 m.
Rosângela fez uma campanha histórica nos 100 m. Primeiro, ela igualou o recorde pessoal na preliminar, com 11.04. Na semifinal, bateu o recorde sul-americano com 10.91 (primeira brasileira a completar a distância em menos de 11 segundos) e, ainda, fechou a final em sétimo lugar, com 11.06. "O sétimo lugar foi excelente. Não é fácil correr contra as melhores velocistas do mundo. É difícil manter a paciência no bloco para a largada", lembrou a atleta que atualmente mora e treina no Texas (Estados Unidos). "Conheço essas meninas desde 2015, quando comecei a participar de competições na Europa, e por isso não foi surpresa. Mostrei também que não é impossível correr abaixo dos 11 segundos", concluiu a velocista, orientada por Eric Francis, em Austin.
O recorde brasileiro anterior era de Ana Claudia Lemos, com 11.01. Já o sul-americano pertencia à equatoriana Ângela Tenório, com 10.99, desde o Pan-Americano de Toronto, no Canadá, em 2015. O pódio dos 100 m foi formado por Tori Bowie (Estados Unidos), com 10.85, seguida de Marie-José Ta Lou (Costa do Marfim), com 10.86, e de Dafne Schippers (Holanda), com 10.96.

O ADEUS DOS MITOS – São momentos distintos na carreira, mas as duas principais estrelas do Mundial de Londres se despediram das pistas. O jamaicano Usain Bolt encerrou a carreira com a medalha de bronze nos 100 m e uma lesão no revezamento 4×100 m. Já o britânico Mo Farah foi ouro nos 10.000 m (onde segue imbatível) e prata nos 5.000 m (o que impediu o tetracampeonato). Agora, ele irá se dedicar às maratonas pensando na Olimpíada de Tóquio, em 2020. Mais um nome para acompanharmos se terá o mesmo desempenho das ruas que teve nas pistas (uma realidade para os etíopes Kenenisa Bekele e Haile Gebrselassie, os dois grandes nomes dos 10.000 m antes de Mo Farah, por exemplo).
Em Mundiais, Usain Bolt se despede com 14 pódios, sendo 11 vezes medalhista de ouro. Em Jogos Olímpicos são oito ouros (perdeu um pelo doping do companheiro Nesta Carter no revezamento 4×100 m), incluindo um pioneiro tricampeonato nos 100 m e nos 200 m (prova que não competiu em Londres).
Na final do revezamento tudo ia bem para a Jamaica até a última passagem, de Yohan Blake para Bolt. A medalha era possível. Mas após acelerar na reta, a perna travou. Até tentou forçar, mas levou à mão na coxa, reação automática de uma fisgada muscular. Era o fim da carreira. Uma cambalhota e o corpo deitado com as mãos no rosto virado para a pista. A última prova do multicampeão jamaicano não foi completada. Uma pena, mas as imagens que ficam dele são as brigando pelas vitórias e pódios, conquistadas na maioria das vezes. Com 37.47, melhor marca do mundo no ano, a Grã-Bretanha foi a campeã do revezamento 4x100m, seguida pelos Estados Unidos (37.52) e Japão (38.04).
Mas o pódio em Londres teve Usain Bolt, com o bronze nos 100 m (9.95) atrás de dois norte-americanos: o vaiado Justin Gatlin (ouro com 9.92) e o novato Christian Coleman (prata com 9.94). Além da melhor marca pessoal na temporada, Gatlin sagrou-se bicampeão mundial dos 100m. O título anterior tinha sido conquistado há 12 anos, em Helsinque-2005. Agora, aos 35 anos, Gatlin é o mais velho a levar o ouro da prova mais rápida do atletismo (além da suspensão por doping durante esse período da carreira).
Já Mo Farah despediu-se das pistas com mais um ouro e uma prata na carreira. Na última prova de pista em um Mundial, lutou muito, mas não conseguiu ultrapassar Muktar Edris, vencedor dos 5.000 m com 13:32.79. O britânico terminou em segundo, com 13:33.22. Mas a imagem que ficará é a de Mo Farah com os tradicionais braços abertos e sorriso festejando o ouro nos 10.000 m. Prevaleceu o sprint, em uma repetição de anos anteriores: vitória com 26:49.53, melhor tempo do ano na distância. Esse foi o terceiro título do fundista nos 10.000 m – além dos ouros de Pequim-2015 e Moscou-2013, ele foi prata em Daegu-2011. O pódio londrino teve ainda Joshua Cheptegei (26:49.94) e Paul Tanui (26:50.60).

QUÊNIA NOS 42 KM – A maratona masculina do Mundial de Londres teve vitória do queniano Geoffrey Kipkorir, após uma longa disputa com o etíope Tamirat Tola até o km 35. Kirui terminou a prova com o tempo de 2:08:27, enquanto Tola fez 2:09:49, seguido de perto por Alphonce Simbu, da Tanzânia, com 2:09:51. O lado negativo foi a não participação de brasileiros na disputa. Paulo Roberto de Almeida Paula, por exemplo, tinha o índice exigido pela IAAF, porém, segundo regulamento da CBAt, era preciso estar também entre os 50 primeiros do ranking olímpico (que leva em consideração até três atletas por países).
Entre as mulheres, a queniana Rose Chelimo, que compete pelo Bahrein desde 2015 (conseguiu a documentação depois de apenas 19 dias no país, uma medida que vem se tornando cada vez mais comum no país do Golfo Pérsico), venceu a maratona com 2:27:11 (havia sido oitava colocada na Olimpíada do Rio, no ano passado). Ela superou a queniana Edna Kiplagat e a norte-americana Amy Cragg, que chegaram juntas, por somente 7 segundos.

CLASSIFICAÇÃO – Os Estados Unidos terminaram em primeiro lugar tanto no quadro de medalhas quanto no de pontuação (leva em consideração os oito melhores colocados em cada disputa, o que avalia o nível de participação do país como um todo). Dessa forma, os norte-americanos fizeram 272 pontos, seguidos pelo Quênia (124) e a Grã-Bretanha (105). O Brasil terminou em 19º lugar, com 21 pontos (um terceiro lugar, um quarto e um quinto na marcha atlética e três sétimos na pista). Todos os resultados do Mundial de Londres e a classificação completa podem ser acessados no site da IAAF (www.iaaf.org).

 

Entenda a modalidade

O que diferencia a corrida da caminhada? Ao andar, estamos sempre com um pé no chão, enquanto, na corrida, há a fase aérea. Dessa forma, a marcha atlética entra na mesma explicação. Para quem acompanhou as provas no Mundial de Londres, é exatamente isso que os juízes fiscalizam o tempo todo na competição, independentemente da distância. Pelo menos uma parte de cada pé do atleta deve estar sempre em contato com o chão. Quem não segue a regra pode ser advertido – com três advertências, o atleta acaba desclassificado.
Outra característica é que a marcha atlética só pode ser disputada com luz do dia (isso ocorre para que os árbitros da IAAF (outra exigência para homologação dos resultados) possam ver se os atletas estão realmente marchando e não correndo. Mas isso não quer dizer que não sejam velozes. Muito pelo contrário. Nos 20 km do masculino no Mundial, o ritmo médio foi de 4:00/km.
As distâncias das provas longas de marcha atlética nas ruas variam de 20 km a 50 km. Reforçando o nível atlético, o recorde mundial dos 20 km no masculino é do japonês Yusuke Suzuki (1:16:36) e do feminino, da chinesa Hong Liu (1:24:38).

 

No topo do Circuito Mundial

A marcha atlética está realmente em alta no Brasil devido à dupla Érica Rocha de Sena e Caio Bonfim. Pelo desempenho constante na temporada, Érica conquistou o título do Circuito Mundial da IAAF de 2017, ao somar 34 pontos, melhorando a terceira colocação obtida em 2016. No masculino, Caio Bonfim terminou em segundo lugar, com 25 pontos, superado somente pelo colombiano Eider Arévalo (ouro no Mundial), que fez 36 pontos.
A pontuação final leva em conta a soma das três melhores provas do ano. Para chegar ao título, Érica foi segunda colocada no GP da Ciudad Juárez, campeã no GP de Monterrey (ambos no México) e campeã em La Coruña (Espanha). Já Caio Bonfim, além do bronze no Mundial, venceu o GP de Taicang (China) e terminou em sétimo no GP de Rio Maior (Portugal).

 

Veja também

Leave a comment