Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (224)

O horário de trabalho como aliado na corrida

Ao chegar ao portão da empresa esse analista de mercado de uma grande multinacional apresentou a credencial e escutou do vigia. "Não pode entrar!". "Mas como não pode? Sou funcionário, olha minha credencial!". "Mas não pode entrar vestido assim!", retrucou o guardião. O executivo então teve que apelar para uma carteirada: "Olha, o diretor da empresa é corredor e está ciente que eu viria hoje correndo; além do mais, obviamente minhas roupas sociais estão no vestiário".

E assim, para seu alívio, viu a porta de aço dar um estalo, senha de que o portão estava aberto, Entrou, tomou banho, vestiu seu terno, se fartou no café da manhã servido na empresa e trabalhou normalmente naquele dia. No almoço, ao contar sua primeira aventura para os colegas escutou: "Você é louco?", "Quanto tempo demorou?". "Mas por que isso, se você pode vir de fretado?".

O que ouviu de leigos não corredores é aquilo que diferencia nós dos pobres mortais: a vontade de vencer um desafio, de trocar o conforto pela dor prazerosa. Contudo, o mais bacana para D´Alessio foi receber um e-mail daquele diretor, elogiando sua força de vontade. "Aquilo compensou todo o esforço e principalmente o perigo que passei ao correr pelo acostamento de uma das estradas mais movimentadas do país!".

Acabada a jornada, passou no vestiário, pegou sua bolsa onde estavam seus equipamentos e voltou de ônibus fretado para casa. E matou dois coelhos com uma tacada só: trabalhou e correu!

AS MOTIVAÇÕES. Falta de tempo, unir o útil ao agradável, elevar a auto-estima junto aos colegas de trabalho são algumas das razões que fazem os corredores ir (ou voltar) ao trabalho correndo. O corredor Samuel Pinho (foto), de Salvador, não tem esse hábito, mas percebe o aumento deste tipo de comportamento na capital baiana, que acredita ser motivado mais pelo fator econômico.

"Acredito que as pessoas que utilizam dessa prática podem estar associando a economia a uma melhora da forma física. Aqui em Salvador venho observando, embora, não seja um número expressivo e que também não os veja diariamente, algumas pessoas, principalmente quando estou voltando do trabalho, correndo com tênis, camiseta, calção e a mochila nas costas", diz Samuel.

Há aqueles que mesmo com condições financeiras favoráveis têm suas razões para fazer essa rotina. "Uso minha rota ao trabalho como alternativa de treino e pelo pouco tempo que tenho para treinar. Emprego também como um meio de transporte, atividade física e gostaria que a corrida de rua fosse mais divulgada e até usada por outras pessoas para melhorar sua qualidade de vida", diz Alexandre Bernardo, servidor público e acadêmico de Educação Física, morador de Curitiba.

SEGURANÇA É FUNDAMENTAL. Mas independente da motivação que leva o corredor a ir ou voltar trabalhando, o mais importante não é porque ir, mas sim, como ir. E neste quesito entra a palavra mágica e essencial: segurança! Sem ela, nada feito! Por isso, segurança envolve tudo que se relaciona à empreitada. E ela começa antes de calçar o tênis, com o planejamento adequado deste treino eventual ou diário.

Horas antes, no momento de arrumar seu equipamento, itens relacionados à segurança, como documentos, telefones etc (veja box), são de suma importância. Caso não corra de pochete, protegê-los com um simples plástico para evitar que se molhem é básico.

Feita a "lição de casa" e de saída para a rua, é hora de encarar com muita responsabilidade o momento crítico do treino. Saber qual o exato caminho a seguir é regrinha importantíssima, bem como ter algumas alternativas de rota, devido ao trânsito parado – e assim evitar maior inalação de poluentes – ou porque um determinado trecho foi interditado.

Existem aqueles que correm uma distância relativamente pequena e outros distâncias consideráveis. Para esses, o cuidado com o abastecimento pode fazer a diferença. Há várias formas de se abastecer, desde próprias, com caramanhola e/ou camel back, até levar dinheiro para comprar água durante o percurso. E por que não pedir um copo d´água em um bar pelo caminho ou para alguém que esteja com uma mangueira na porta de casa?

CARROS! TODO CUIDADO É POUCO! Agora vamos abordar o pior inimigo de um corredor: os automóveis! Emplacáveis e fatais, os automóveis, com sugestivas atenções aos ônibus e táxis – por que será? – devem ser encarados como o maior desafio, até mesmo maior do que a distância a ser percorrida, e estratégias devem ser tomadas.

Para quem corre na cidade, o uso da calçada deve ser freqüente, com atenção redobrada nas saídas de carros das garagens e principalmente nos cruzamentos. "A ordem no cruzamento é nunca atravessar direto, mesmo que o farol esteja verde. Ao chegar à esquina – se não quiser parar – procure correr em míni círculos, avaliando a condição do trânsito e só depois de ter a certeza absoluta que realmente dá para atravessar, o faça", ensina D'Alessio.

Correr na rua não é brincadeira. Portanto se errar, como, por exemplo, atravessar em condições perigosas, estimulado pelo seu ímpeto de não querer parar, "não se perdoe". Passado o perigo – e se "salvado" – após ter atravessado em condições adversas, diminua o ritmo e se auto-aplique uma bela de uma bronca, que pode até ser feita em voz alta, um pensamento ou um mantra, como: "Atenção, não vacile, cuidado!". É muito importante essa concentração.

Se você conhece as ruas de sua rota, as saídas dos carros, por que não começar a esmiuçar esse trajeto? Como? Simples! Conhecendo, por exemplo, qual dos lados da via o calçamento apresenta menos buracos, menos irregularidades; por qual lado você pode correr atravessando menos cruzamentos ou passando por os menos perigosos, entre outros conhecimentos que lhe darão um grau de segurança maior. Isso, evidentemente, só se consegue com o tempo, porém, é importante conhecer o "campo de guerra" em seus detalhes, o que fará a diferença.

E OS CACHORROS? Outro inimigo de quem corre na rua são os cachorros. Aqui, o macete é correr munido de uma vareta – caso a freqüência de encontrar animais na rota seja crônica. No mais, a ordem é não mostrar medo e parar a corrida e em tom enérgico tentar "intimidar" o animal, mas, aqui a imprevisibilidade dá o tom.

"Muito me incomoda quando tem cachorro que vem nas canelas, mas sempre desvio a rota e corro atrás com pedras nas mãos; tem dono que acha ruim, mas quem manda deixar o portão aberto?", relata Alexandre Bernardo, que volta do trabalho correndo até três vezes na semana, sempre após as 21h30.

Fora os carros, buracos, cachorros, é importante tomar cuidado em quais caminhos seguir. Bernardo conta que quando corre à noite prefere utilizar um tênis não muito visado por assaltantes. "Uso tênis pouco chamativo, que não seja top de linha, pois venho por uma região ‘pesada' e já fui assaltado, levaram minha bike e outros pertences", resigna-se. Vale aqui também a recomendação de usar roupas claras ou com itens reflexivos (inclusive no tênis) para ser "bem enxergado" à noite, notadamente pelos carros.

NEM ANTES, NEM DEPOIS. Existem corredores que não vão nem voltam ao trabalho correndo, mas o fazem durante o expediente, mais precisamente na hora do almoço. O carioca André da Cruz Soares da Costa, o "Xampa", desde que mudou de emprego e foi trabalhar na distante Ilha do Fundão, morando na zona sul do Rio de Janeiro (20 km de distância), viu que o tempo de deslocamento comprometeria seus treinos, fosse de manhã ou de noite, e a solução foi treinar durante o horário de almoço.

"Corro de duas a três vezes por semana na hora do almoço e também nado neste horário duas vezes por semana", conta o administrador de empresas Xampa, que além de morar distante do trabalho se viu às voltas com a tarefa de ser pai de Gabriel, de 2 anos de idade, o que compromete ainda mais seu tempo para se dedicar aos treinos.

 Como não é recomendável correr após horas de estômago vazio, muito menos logo após o almoço, o ideal é se abastecer uma hora antes de começar correr, comendo uma fruta ou uma barra energética, aí sim treinar e depois voltar a se alimentar. "Na empresa em que trabalho há refeitório, já que ficamos na Ilha do Fundão, e sempre chego a tempo de almoçar depois do treino", finaliza André.

DICAS DE SEGURANÇA

– Nunca, mas nunca mesmo, atravesse uma rua na dúvida. Nenhum tempo ou atraso vale mais do que sua saúde e vida

– Sempre corra no contra fluxo dos veículos

– Procure utilizar roupas e equipamentos com material reflexivos

– Leve consigo documento, cartão do convênio médico (caso possua), um número de telefone, um cartão telefônico ou celular e quantia mínima de dinheiro para ser usado em uma condução emergencial (ônibus ou táxis); boa opção são as plaquinhas de identificação penduradas no pescoço

– Fique atento ao ambiente que o cerca. Se usar um tocador de mp3, mantenha o volume da música baixo o suficiente para que você possa escutar uma buzina, por exemplo

– Atenção redobrada nas saídas das garagens; diminua, escute, olhe e só então vá em frente

– Tenha uma rotina de fazer check-list dos equipamentos e acessórios que serão utilizados durante e depois da corrida

– Sempre avise um familiar ou amigo que irá correr e se possível indique qual rota pretende fazer

ONDE TREINAR

O portal Webrun disponibiliza gratuitamente o "Onde Treinar", ferramenta interativa onde se pode criar e traçar rotas nas quais se obtém  informações como distância e altimetria do percurso.

Acesse: www.webrun.com.br/ondetreinar

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