12 de dezembro de 2025

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Nenhuma maratona tem os famosos e esdrúxulos 42.195 metros: ou um pouco a mais, quando aferida oficialmente, ou a menos, quando é “medida” por GPS

Todas as corridas fazem a divulgação prévia de suas distâncias, que se imagina sejam medidas de alguma forma. A mais comum é mesmo por GPS, pela praticidade e grau de acerto bastante próximo da realidade. O problema é que no final das contas o total medido acaba sendo um pouco abaixo do exigido para que o evento seja considerado oficial e, dessa forma, tenha seus resultados homologados e válidos para recordes.

A explicação para essa diferença é que a pessoa que faz a “medição” com GPS não se preocupa ou não consegue fazer o menor percurso possível, tangenciando as curvas, e consequentemente faltam metros nos esdrúxulos 42.195 ou nos igualmente sem sentido 21.097, para não falar nos populares 10 km.

Dito de outra forma, se ao terminar uma maratona ou meia, o corredor constatar em seu GPS de pulso que a prova teve 42,2 km ou 21,1 km, é sinal que ela não teve essa distância! Isto porque, com absoluta certeza, a pessoa não fez o percurso procurando os melhores tangenciamentos nas curvas, o que acaba resultando em metragem maior e irreal. Ou seja, ao final de uma maratona, o GPS de um corredor normal, mesmo que preocupado em conseguir o menor trajeto, deve marcar de 42,3 a 42,5 km.

Para ficar ainda mais claro, para homologação de resultados em maratonas e meias, a exigência é que os eventos tenham, NO MÍNIMO, 42,2 e 21,1 km, e a realizada por GPS não consegue essa precisão, por “culpa” de quem a faz, a serviço da organização da prova, que opta por esse método para não pagar os altos custos de pedir o serviço à Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) ou às federações estaduais. Sem contar a imensa logística necessária para a efetivação desse trabalho.

O pessoal capacitado realiza a medição em bicicletas devidamente gabaritadas para a aferição da distância percorrida e com a preocupação de buscar sempre o menor trajeto, especialmente na questão da tangência nas curvas e retornos. Geralmente, 2 ou 3 profissionais atuam nesse serviço, e é considerado, para o estabelecimento da marcação do percurso, aquele que consegue ir mais longe, até os 42,2 ou 21,1 km.

DISTÂNCIA REAL: 42.237 METROS

Se não bastasse esse detalhe técnico, para garantir que a distância tenha pelo menos os 42,2 km, os medidores acrescentam 1 metro a cada km e, portanto, as maratonas com resultados válidos para recordes têm, na verdade, 42.237 metros (42.195 + 42) ou pouco mais.

Por vezes, o trajeto é mesmo aferido por pessoal capacitado, mas no dia não há um cuidado na marcação do itinerário e o resultado é um trabalho jogado fora, por erros no balizamento, por não ser acompanhado pelos responsáveis pela metragem. Por aqui foram muitos os casos, mas até na Maratona de Nova York já aconteceu, como se constatou no dia seguinte para homologação dos recordes mundiais, que não foram validados.

Esse fato foi em 1981, quando o norte-americano Alberto Salazar venceu com 2:08:31 e a neozelandesa Allison Roe com 2:25:29, marcas não consideradas, ao se verificar que a distância tinha 150 metros a menos que os 42,2 km exigidos, por falha na sinalização do percurso, que levou os participantes a um trajeto menor.

Eu estive numa situação semelhante, na Meia de Lisboa (não lembro o ano…), quando lá pelos 10 km via em meu cronômetro de pulso que ia conseguir um novo recorde pessoal, expectativa que desapareceu ao me aproximar da chegada e constatar que tinham esticado o trecho final para compensar um erro grosseiro: ao invés dos corredores circularem a enorme e famosa Praça do Comércio, ela foi cruzada diretamente por falta de balizamento, cortando-se uns 200 metros.

É possível que, em breve, a aferição do percurso deixe de ser realizada pelo centenário método da “bicicleta calibrada” e passe a usar equipamentos eletrônicos (como o GPS), mas haveria necessidade de que o caminho percorrido nessa medição seguisse uma linha que buscasse sempre a menor distância, o que não acontece atualmente, ao ser feita de moto ou carro ou, pior ainda, diretamente no computador. Mas se não há preocupação com a homologação das marcas alcançadas, recorrer ao GPS é uma alternativa, e que pode até ficar perto da distância oficiai, desde que a chegada seja posicionada a 42,5 km da largada…

Em outras palavras, se um medidor credenciado levar um GPS de alta precisão e no caminho não houver morros e prédios muito altos, que possam prejudicar o sinal de satélite, é praticamente certo que ao final o equipamento marcará o mesmo do aferido na bicicleta. Então, os organizadores que não desejarem arcar com os custos da medição oficial poderiam recorrer a ciclistas/corredores experientes, que façam o percurso mais econômico possível, e ao final, nos 42,2 km do GPS, acrescentem mais 100 ou até 200 metros, para o caso dos campeões da maratona resolvam bater algum recorde. Aí, bastaria pedir a aferição posterior para a homologação das marcas.

Enquanto tal não acontece, os resultados das provas não medidas oficialmente não são homologados pela CBAt e por consequência igualmente deixam de ser considerados para o Ranking Brasileiro de Maratonistas, elaborado pelo site CR, como aconteceu este ano com a Maratona de Blumenau, quando os GPS dos participantes mostraram 42 km na chegada, portanto o percurso não teve nem isso.

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