A associação de corredores Chão do Aterro talvez seja a equipe mais admirada do Rio de Janeiro, e não há um corredor que não busque nela ao menos uma inspiração para continuar correndo. "Em 2013 deveremos ter pelo menos 15 corredores com mais de 50 anos fazendo a Maratona do Rio. Muitos já experientes na prova. Estes corredores certamente servem de exemplo para muitos que estão por aí", diz Ranulfo Pereira, um dos diretores da equipe e uma referência para muitos corredores do Rio. Ranulfo tem 58 anos e corre há três décadas; sua primeira maratona foi em 1984.
O nome "Chão do Aterro" surgiu em 1987, quando alguns amigos encontravam-se para treinar no Aterro do Flamengo. Ranulfo conta que os treinos, quase sempre, eram uma forma de o grupo fortalecer a amizade e o espírito esportivo. "Estas eram as características da turma. Aliás, era assim com outros grupos de corredores da época, como o da Quinta da Boa Vista e o ‘Expressinho das 6h', que se reunia no Leme", conta o corredor.
O crescimento e o fortalecimento das corridas de rua no Rio de Janeiro fizeram com que essa turma também aumentasse e, quase que religiosamente, passasse a se reunir todos os domingos para longos treinos pela Zona Sul do Rio. "Hoje somos cerca de 250 associados, muitos com grande bagagem de corridas, com várias maratonas, provas no exterior e por todo o Brasil. Temos atletas de 16 a 80 anos, que honram o nome da equipe aonde quer que vão. Em 2012 conquistamos o tricampeonato do revezamento ‘Volta à Ilha' na categoria ‘Veterana 50'. Isso muito nos orgulha, porque é uma prova difícil e competitiva. Vale lembrar que não somos uma assessoria esportiva, e sim uma associação de corredores", diz Ranulfo, aposentado da área da aviação.
Com atletas de perfis e idades variados, a Chão do Aterro consegue reunir caminhantes e atletas como Pedro Madalena, que aos 54 anos faz maratonas em menos de 3h. Hoje ele está entre os melhores do Brasil em sua faixa etária, tendo ficado em 25º no Ranking de 2012 (veja listagem nesta edição). Ele começou a correr há 20 anos e confessa que o cigarro já fez parte de sua vida. "Tinha 34 anos quando comecei; nessa época fumava um maço por dia, mas mesmo assim praticava esportes quase todos os dias", conta Madalena, que com apenas dois anos de treino completou sua primeira maratona – a Eco 92 -, em 2h38. "Foi aí que comecei a largar o cigarro."
Pelo menos duas vezes por semana Madalena faz treinos longos – 38 a 40 km -, o que lhe credencia a bons resultados em provas como a Maratona Cross-Country de Búzios, em que ficou em primeiro lugar na faixa etária – 10º colocado geral. Mas o que chama a atenção é que, mesmo sem treinos específicos e aos 54 anos, Madalena também se destaca em provas curtas. "Na associação de veteranos de atletismo faço provas dos 1.500m à maratona, sempre com possibilidades de vencer", conta a corredora, que marcou 21min nos 6 km da Corrida da Solidariedade, no Rio.
MALAQUIAS, 80 ANOS. Aliás, nesta mesma prova, outro corredor da Chão do Aterro atraiu os olhares de quem estava na linha de chegada. Aos 80 anos, João Malaquias completou os 6 km em 34 minutos, mostrando que ainda tem "muita lenha para queimar". Corredor desde os 50 anos, seu Malaquias começou por orientação médica. "Eu parecia um ‘Buda' e meu corpo doía todos os dias. Ele recomendou que eu me exercitasse e comecei a caminhar. Depois de seis meses estava correndo". Entre os 60 e os 64 anos, Malaquias fez quatro maratonas, a última em 4h17.
Hoje ele tem 25 kg a menos do que naquela consulta de 30 anos atrás e se orgulha de correr 10 km todos os dias no aeródromo do Aterro do Flamengo. São 40 voltas de 250 metros. É muito? Não para quem detém o recorde de voltas do lugar: 140, num total de 35 km.
HISTÓRIAS… Basta um domingo de treino com a Chão do Aterro para ouvir dezenas delas. Delclemis Ferraz mora em frente ao Aterro do Flamengo e de sua janela tem uma vista privilegiada do lugar onde mais gosta de estar. A corredora tem 500 corridas em seu currículo, grande parte delas com a camiseta verde da equipe.
"Não perco uma. Aliás, atualmente até perco, porque temos duas ou três provas no mesmo dia. Se fosse possível estaria em todas", brinca ela, que mantém em seu apartamento um pequeno escritório com todo o seu acervo de corredora. As paredes são cobertas com fotografias e o restante do espaço serve para expor a grande quantidade de medalhas. "Difícil dizer qual a mais importante ou marcante. Cada uma tem uma bela história", completa Delclemis.
DESDE 1995!
A Chão do Aterro existe desde 1995. Seus associados pagam uma anuidade, com direito a suporte nas inscrições e retirada de kit, e atendimento em treinos e provas. A associação tem um convênio com a assessoria esportiva A&T Endurance, que oferece treinamento aos corredores interessados e eventualmente algum atendimento nos treinos.
Mas todos são livres para procurar outros treinadores ou, naturalmente, correr sem qualquer orientação, que não seja a própria experiência ou os conselhos e observações de colegas da equipe, o que, aliás, vale para a maioria dos 250 integrantes da Chão do Aterro, pela característica de serem predominantemente corredores experientes.