Durante muitos anos fumei entre meio e um maço por dia. E pesava em torno de 75 kg, algo razoável para os meus 1,72 m de altura. Como atividade física, praticava ciclismo, treinando duas vezes por semana, geralmente por duas horas, e aos domingos saía com um grupo para estrada ou pelas marginais da cidade de São Paulo, para uma rodagem de 60 a 80 km.
Foi assim durante uns bons 15 anos (1976 a 1991), sem o cigarro atrapalhar o ciclismo, mesmo porque depois que se aprende a pedalar em bicicletas de competição praticamente só se exige do pulmão (e das pernas) nas subidas e nas arrancadas. O resto é girar, girar.
No inicio de cada ano, como fazem os ciclistas geralmente, parava com a bicicleta por um mês e fazia outros esportes, notadamente natação e outros típicos da praia. Mas em 1991 não saí de férias e para não ficar sem fazer nada decidi começar a correr perto de casa, apenas algumas voltinhas.
Fiquei impressionado com a minha transpiração (era verão), porque no ciclismo isso quase não acontece, em função do vento. Também diferente era a questão da respiração, exigida o tempo todo na corrida, mesmo devagar, enquanto no ciclismo era um fato raro.
Talvez por esses dois aspectos, comecei a notar que “esquecia” de acender o meu primeiro cigarro do dia, hábito que tinha ao chegar na redação da revista que trabalhava na época. E durante o dia o consumo igualmente se reduzia. Por outro lado, constatei que estava perdendo peso, devido à transpiração, e me animei. Passei a correr por mais tempo e mais rápido, com queda nos cigarros diários e no peso.
Tomei gosto pela corrida e passei a correr regularmente, deixando o ciclismo apenas para os domingos. Nesses 4 meses de transição cheguei a perder em torno de 10 kg, enquanto o cigarro se reduzia a não mais que uns 5 por dia. Animado por estar fazendo dois esportes, decidi participar de um triatlo, só que um olímpico (1.500 m de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida). Comecei a treinar natação, na distância da prova, mas meu ritmo sempre foi lento. Para ajudar na preparação e não fazer feio na prova, decidi parar completamente com o cigarro.
Na véspera da competição, na entrega do kit, soube que haveria tempo-limite para conclusão da etapa da natação e vi que seria difícil conseguir, ainda mais que aconteceria na raia de remo da USP, ou seja, não nadaria em linha reta como na piscina. E assim foi, ficando entre os desclassificados. Mas saí tão cansado da água que até agradeci não ter que continuar.
Esse triatlo marcou o fim definitivo do cigarro para mim e o começo de minha dedicação exclusiva às corridas. Logo estava fazendo as poucas provas que aconteciam naquela época e no ano seguinte (1992) já fui para a minha primeira maratona, em Blumenau, onde, com apenas dois meses de treinamento específico consegui meu até hoje recorde pessoal – 3:04:30, aos 45 anos. Ajudou muito para essa performance meu peso, que tinha caído então para apenas 60 kg!
Assim, acabei por contrariar a regra que diz que quando se pára de fumar há uma tendência para engordar. Se a pessoa parar com a ajuda da corrida, muito provavelmente ela irá também perder peso e será com certeza mais saudável e feliz.