No final de 2013, planejando qual seria minha 27ª maratona, fiquei frustrado por não conseguir inscrição na de Berlim 2014. Após uma rápida pesquisa, optei por outra prova alemã, tão tradicional quanto e também no segundo semestre – a de Frankfurt, disputada sempre um mês depois da sua irmã "mais velha" da capital, que este ano aconteceu no domingo 26 de outubro. Depois de só correr maratonas gigantes nos últimos anos, dessas com mais de 30 mil participantes, como Nova York (que já fiz seis vezes), a própria Berlim (cinco vezes) e Paris (quatro), voltar a fazer uma prova média revelou-se uma escolha acertada. Estava bem treinado e queria uma prova fluida e rápida, sem os engarrafamentos típicos das maratonas superpopulosas.
Com 11.099 concluintes este ano, sendo 14 brasileiros, a Maratona de Frankfurt tem percurso rápido e organização impecável, que lhe garante o Gold Label (selo de ouro) de provas de rua da IAAF – Federação Internacional de Atletismo. Mesmo sem o gigantismo de Berlim, Frankfurt proporciona tempos tão rápidos quanto. Seu recorde, 2:03:42, foi estabelecido em 2011 por Wilson Kipsang Kiprotich, o mesmo que, em 2013, fez 2:03:23 em Berlim – na ocasião recorde mundial, batido duplamente este ano, novamente na capital alemã. Assim, o recorde de Frankfurt é o quinto melhor tempo até hoje – excluindo-se Boston, cujos resultados não valem para recorde mundial.
A feira, que acontece num dos pavilhões do Messe (enorme complexo de pavilhões para feiras e congressos da cidade), não deixa em nada a desejar às das principais maratonas. Além dos tradicionais expositores, com os produtos e ofertas de sempre, um enorme painel com o nome de todos os inscritos foi uma atração à parte. As pessoas ficavam um bom tempo procurando seus nomes, em cores e tamanhos variados. Pode parecer uma bobagem, mas a ideia foi boa.
Outro diferencial da feira é que ela funciona também no próprio dia do evento, abrindo às 7h e fechando às 17h – os kits são entregues até a hora da largada para os esquecidos e atrasados, ou ainda para aqueles que chegaram na cidade na noite de sábado. Também é possível fazer inscrição de última hora, até às 19h de sábado – desde que, claro, o limite de vagas não tenha sido preenchido. Como a largada e chegada são no próprio Messe, tudo funciona a contento, com excelente dispersão depois da prova. O guarda-volumes é no mesmo prédio da feira, apenas em outro andar.
TEMPERATURA DE 15 GRAUS. No dia, a temperatura estava agradável, em torno dos 15 graus, com céu nublado e momentos de sol. A largada foi dada às 10 h, sem atropelos. Como o meu hotel estava a menos de 200 metros da linha de largada (meu recorde neste quesito e há muitas outras opções num raio de 500 m), cheguei minutos antes e pude entrar sem problemas na minha baia, segunda de um total de seis, para tempos previstos entre 3h15 e 3h30.
Largada dada, a prova serpenteia pelas ruas do centro histórico de Frankfurt. Após 4 km passa na mesma avenida da largada, que é bem larga, só que do outro lado, em sentido oposto. Assim, logo no início é possível ver os líderes do outro lado, o que é sempre interessante. Após outra volta pelo centro, esta um pouco mais aberta, o percurso cruza uma ponte sobre o rio Main, no km 13. A partir daí, afasta-se do centro em direção oeste, mas infelizmente sem acompanhar a beira do rio, que volta a ser cruzado no km 24. Ao longo do percurso somos animados por bandas e DJs, além dos tradicionais grupos de batucada "brasileira", no estilo Olodum.
CHEGADA TRIUNFAL – No km 35, a prova passa bem perto da chegada e volta a explorar o centro da cidade. Ali é onde há maior concentração de público, sempre mais animado onde estão os grupos de batucada. Depois de entrar novamente na avenida da largada e cruzar sob o mesmo pórtico, mas no sentido contrário, os últimos metros são apoteóticos, dignos de uma superprodução e é este o grande diferencial de Frankfurt: a sua chegada.
Ela acontece dentro do Festhalle, espaço coberto para shows e eventos do Messe, como um grande ginásio. Sob canhões de luzes coloridas, no melhor estilo concerto de rock ou mega boate, com música alta e locutor animando, os últimos metros são percorridos sobre um tapete vermelho, com direito a chuva de papel prateado! Um telão ao fundo mostra imagens dos concluintes, assim como seus nomes e tempos. Arquibancadas cheias de gente dos dois lados garantem o clima de festa noturna.
Para mim, a experiência foi excelente, pois consegui meu melhor tempo em 20 anos, com 3:16:23 (meu recorde continua sendo 2:45:12 em Blumenau 1993). A primeira meia passei em 1:38:30 e a segunda, em 1:37:54. Ou seja, negativei, o que é sempre sinal de estratégia acertada e ritmo de acordo com o que se treinou. Agora é esperar por Roterdã, em abril de 2015, outra maratona não gigante, com reputação de percurso rápido e excelente organização.
QUENIANOS DOMINAM – Como acontece nas grandes maratonas do mundo, em Frankfurt os quenianos dominaram, levando os três primeiros lugares no masculino – e seis dos dez primeiros. Vice-campeão da prova em 2013, Mark Kiptoo desta vez se superou e foi o campeão, com 2:06:49, seguido dos seus compatriotas Mike Kigen (2:06:59) e Gilbert Yegon (2:07:08). O quarto colocado foi o simpático etíope que havia encontrado na sexta-feira antes da prova, trotando no gramado do canteiro central da avenida da largada, junto com outros corredores de elite. Seu nome é Tabalu Zawude e esta foi a sua primeira maratona, que correu em 2:07:10. Em 2013, ele foi o campeão dos 20 km de Paris, com 58:06.
No feminino, a vitória foi da Etiópia, com Aberu Kebede (2:22:21 – nona melhor marca de 2014 até a data da prova), seguida da queniana Sharon Cherop (2:23:44). Em terceiro veio outra etíope, Ashete Bekere (2:24:59).
Marcio Carrilho é jornalista e já correu 27 maratonas. Seu melhor resultado é 2:45:12, em Blumenau 1993.