Homologada como modalidade olímpica há apenas um ano, a maratona aquática já está incluída nos programas oficiais tanto da Olimpíada de 2008, em Pequim, como nos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007. No evento brasileiro, enquanto à veteraníssima maratona terrestre caberá mais uma vez a honra de encerrar os Jogos, à novata aquática será concedido o privilégio de abrir o segundo dia de competições. Nos dois casos, um reconhecimento ao brilhantismo das provas de longa distância.
Embora tenham características bastante diversas – as aquáticas são disputadas em águas abertas nas distâncias de 5, 10 e 25 km – e o percurso na terrestre seja maior (42 km), em termos do esforço que exigem dos participantes as duas provas guardam entre si semelhanças que vão muito além do nome de batismo. A "parede" é uma delas.
Obstáculo também na água. Para Poliana Okimoto, nadadora brasileira consagrada vice-campeã mundial de maratonas aquáticas nas provas de 5 e 10 km realizadas em agosto passado, em Nápoles, na Itália, quando se fala em dificuldade e superação, a existência da "parede" ou "muro" aproxima de forma bastante considerável as duas modalidades.
Relatada como um momento de abatimento físico e mental que pode levar o participante a desistir da competição, a "parede" para os corredores costuma aparecer entre os quilômetros 27 e 33. "No meu caso, quando a prova é de 10 km, ela surge mais ou menos na marca dos sete", afirma Poliana, 23 anos de vida e 21 dedicados à natação.
Vencedor das últimas três edições da Travessia dos Fortes, no Rio, e segundo melhor colocado entre os nadadores das Américas na prova dos 10 km no Mundial de Nápoles, Luiz Lima, 27, diz sentir a mesma coisa: "Embora esteja diretamente relacionada às condições gerais em que a prova se realiza – ventos, ondas, correntes marítimas, temperatura e salinidade da água e até o número de participantes influencia -, comigo a parede acontece um pouco mais tarde, por volta dos oito, oito e meio. O esgotamento físico e mental é intenso. Além dos movimentos – fica difícil até encaixar direito a braçada – por vezes a visão também é prejudicada e perde-se a bóia de sinalização do percurso."
Treinamento é fundamental. Se nas maratonas terrestres, além do treinamento correto, a fórmula mais eficaz para "atravessar a parede" é reduzir momentaneamente a velocidade e não perder o foco na atividade até readquirir o ritmo adequado para prosseguir, nas aquáticas a situação não é lá muito diferente. "Como tudo está intimamente relacionado ao cansaço físico e mental e também, de certa forma, à necessidade de reposição energética, usamos o momento do abastecimento (o técnico acompanha o nadador num bote e o supre usando um copo amarrado na ponta de uma varinha) para derrubar a parede. Não tem essa de ficar boiando para se recuperar", ensina Poliana.
Bom por um lado, ruim pelo outro. Como as maratonas aquáticas são provas extremamente competitivas e o abastecimento requer tempo, muitos atletas evitam fazê-lo. "Nunca encontrei um nível de competitividade tão alto em nenhuma outra modalidade. Minha diferença para o primeiro colocado no Mundial de Nápoles foi de 30 segundos. Numa prova de dez quilômetros, onde se nada por mais de duas horas, isso impressiona. Com diferenças tão apertadas, parar ou reduzir para se abastecer é literalmente entregar a posição, é perder a medalha", sentencia Luiz.
Exatamente como fazem os maratonistas terrestres, que ao treinar buscam deslocar suas "paredes" na competição para bem depois da linha de chegada, Poliana e Luiz estarão participando, neste mês de novembro, da etapa de Rio das Ostras, RJ, do Campeonato Brasileiro de Maratonas Aquáticas, seletiva para o Mundial de Esporte Aquáticos a ser realizado em Melbourne, na Austrália, ano que vem.
Embora natação não seja a praia da nossa revista, a Contra-Relógio, que entende de maratona terrestre como ninguém, deseja aos dois maratonistas aquáticos brasileiros ótimas braçadas, excelentes pernadas e… nenhuma parede!
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