Especial Performance e Saúde Redação 5 de março de 2012 (1) (534)

Largadas em ondas são fundamentais nas corridas gigantes

Mais importante corrida brasileira, com 87 anos ininterruptos de realização, a São Silvestre pode se tornar também uma das mais populosas do mundo. Pelo menos essa é a intenção da organização que vai abrir, provavelmente já em 2012, 30 mil vagas. No ano passado, apesar do anúncio de 25 mil inscritos, 18.949 atletas concluíram os 15 km, quase mil a mais do que 2010, quando contou com o número divulgado de 21 mil participantes.

É possível acreditar que a São Silvestre chegará um dia aos 40 mil, como são hoje as maratonas de Nova York e Berlim e diversas meias e corridas de menor distância pelo mundo? Sem dúvida, mas para que não se torne uma grande caminhada, devido à lentidão e certo caos nos primeiros quilômetros, deve seguir o exemplo positivo de outras provas realizadas pelo mundo com esse total ou até mais inscritos. Caso contrário, desmotivará muitos corredores que, além da festa, querem também correr.

Nesta última edição, o problema foi bem acentuado. Com quase 19 mil concluintes, somados aos milhares de pipocas, foi muito difícil movimentar-se numa velocidade acima de um trote nos primeiros quilômetros. Atualmente, só consegue realmente correr a São Silvestre, desde o começo, quem larga na elite A e B ou paga a inscrição bem mais cara do pelotão C. Não há qualquer separação por ritmo para os demais participantes. Assim, a largada acaba sendo uma grande bagunça e, mesmo os que procuram ficar mais à frente na saída, demoram vários minutos para passar pelo tapete de cronometragem e praticamente caminham por toda a Avenida Paulista.

 

40 MIL E TUDO FUNCIONA. A separação por ritmo comprovado na inscrição, aliada à largada por ondas, torna-se necessária para o futuro da São Silvestre. E não faltam exemplos pelo mundo. Um deles é a Maratona de Chicago, como explica o leitor Leonardo Mesquita, de Belo Horizonte. "A organização dos currais de largada em Chicago é algo exemplar. São sete baias, para uma largada única e não por ondas. Os currais são específicos para cadeirantes, elite, A, B, C, D e aberto. Para ter acesso a essas áreas é preciso comprovar tempo em outra maratona. Apenas declarar a marca pretendida de conclusão não é suficiente. Quando é recebida a confirmação da inscrição, é conhecido também o curral que será usado na largada", afirma Mesquita.

No dia da prova existem acessos específicos para cada baia. São ao todo três pontos de verificação do número de peito para que realmente ninguém burle o sistema. O controle de acesso é rígido. Existem grades altas ao longo de todo o espaço reservado para a largada da prova. Ruas específicas são designadas para cada cor de número de peito. "E os números ainda possuem letras indicativas da baia. Dessa forma, a cor do número de peito indica as vias de acesso, e as letras, os currais. Além de tudo isso, cada baia possui capacidade limitada e devidamente conhecida", diz Mesquita. "Funciona perfeitamente sem nenhum empurra-empurra. Inclusive para cada área é informado previamente quanto tempo será necessário para cruzar o tapete de largada, sendo considerado o tempo líquido, daí não haver prejuízo para ninguém, já que ao se passar pelo pórtico já se começa a correr. Os últimos atletas a largar podem demorar 30 minutos para cruzar a linha de largada. Afinal, são mais de 40 mil participantes. E olha que a avenida usada é muito larga", completa o mineiro.

Os organizadores da Great North Run, na Inglaterra, a vendem como a maior meia-maratona do mundo. A disputa é acirrada com a Meia de Estocolmo, na Suécia, realizada desde 1980. A certeza é que as duas provas de 21 km são uma excelência em organização. Na inglesa, este ano marcada para dia 16 de setembro, são três ondas com intervalos de 30 minutos entre cada uma. A separação de ritmo começa para os que comprovaram possibilidade de terminar em até 1h10, nas baias seguintes até 1h15 e assim por diante. Após a saída dessas primeiras baias, acontece a segunda e a terceira largadas, da mesma forma. São considerados 22 tempos de conclusão na organização da saída. O número de concluintes na última edição foi de 37.526. E, se aqui no Brasil a São Silvestre é transmitida ao vivo pela Rede Globo, a Great North Run passa na BBC. Para quem quiser saber mais sobre a prova, o site oficial é www.greatrun.org.

 

60 MIL NA MEIA DE ESTOCOLMO.  Os números da Meia de Estocolmo são ainda mais impressionantes. No ano passado, foram 58.122 inscritos para 38.459 concluintes. Na edição de 2012, o total já foi fechado em 59.417 participantes. No final de semana do evento, de 10 a 13 de maio em 2012, com provas infantis e outras, a organização prevê a presença de 75 mil pessoas neste ano. A largada é em ondas, e para definir o ritmo vale o resultado dos atletas nos dois anos anteriores na própria prova. Existe elite A, elite B, menos de 1h30 e, assim, sucessivamente. No total, 20 posições de largada. O site oficial, em inglês, é www.goteborgsvarvet.se/en.

A Maratona de Nova York é outro exemplo de como tudo pode funcionar perfeitamente. Já há alguns anos havia 3 largadas simultâneas (duas em cima e uma na via de baixo da ponte Verrazano, em Staten Island), e separação por baias, com os corredores se juntando mais à frente no percurso. Com o crescimento da prova, a organização foi obrigada a realizar essa saída tripla em três momentos, com 30 minutos de intervalo e divisão por ritmo entre elas. Comprovação de tempo oficial é necessária. Tudo flui normalmente e com extrema organização.

Na Maratona de Berlim, o sistema não é tão rígido como em Nova York ou Chicago, porém também existe controle baseado no ritmo e são dez faixas de avenida para a largada. Quem já assistiu pela televisão, observou essa imagem do começo da prova, parecendo um formigueiro. Basta conversar com algum atleta que já participou da competição alemã para ouvir que passou praticamente os 42 km correndo lado a lado com os mesmos competidores, pois é respeitado o ritmo de cada um.

De acordo com Mesquita, outro ponto comum entre Berlim e Chicago é a divulgação antecipada sobre vários aspectos do evento aos inscritos. "O kit do atleta tem uma revista informando tudo. Tudo mesmo. Horários, ruas de acesso, ônibus, pontos de metrô e tudo mais", diz o mineiro. E cada corredor sabe exatamente onde deve largar, ou seja, não pode no dia da prova afirmar que está no lugar errado por não saber. "Uma conclusão que eu tenho: sem os voluntários, essas provas não seriam tão bem organizadas. Tem muita gente trabalhando nas corridas e o staff é quase todo sem custo para o evento."

 

95 MIL NA PONTE! Um exemplo de como uma prova pode ser bem organizada foi a meia-maratona realizada apenas uma vez, em julho de 2000, marcando a inauguração da moderna ponte de 8 km de extensão que liga Copenhague, na Dinamarca, a Malmo, na Suécia. Foram 95 mil participantes – 34 mil dinamarqueses, 53 mil suecos e 8 mil estrangeiros. Sem dúvida, a maior prova de 21 km da história. Houve largadas em ondas das 9 horas (cadeirantes) até as 16 horas. Os estrangeiros largaram entre 10 e 12 horas. Os dinamarqueses e suecos começaram em horários definidos pelo código postal de cada morador. Ou seja, um pouco de criatividade e organização para que a prova fosse uma experiência única e inesquecível. O leitor e assinante Darci Garçon, de São Paulo, esteve presente e fez o texto para a Contra-Relógio, publicado na edição de agosto de 2000, para quem quiser ler.

Aqui no Brasil, a prova individual que chega próximo da São Silvestre é a Tribuna 10 km, em Santos. Com quase 15 mil concluintes em 2011, a organização adotou a largada em duas ondas, com 20 minutos de separação entre elas, o que ajudou a melhorar bem o congestionamento da largada. Além disso, há a elite A, elite B e o pelotão premium. Falta, ainda, uma melhor organização do ritmo dentro das ondas, mas já houve um avanço e os participantes fazem a escolha, no ato de inscrição, em qual momento querem largar.

 

SOLUÇÃO ATÉ FÁCIL NA SS. Os exemplos positivos para a São Silvestre são inúmeros pelo mundo – citamos apenas alguns, mas fica claro que há solução para a confusa largada da prova paulistana, o principal problema da corrida há anos. E não é difícil de resolver. Pode-se dizer até que seja fácil, já que a organizadora (Yescom) realiza inúmeras outras provas e tem o cadastro detalhado dos corredores, com seus tempos, podendo-se estimar que mais da metade dos inscritos na SS já fizeram uma prova da empresa. Assim, ao se inscrever, cada um seria automaticamente encaixado numa baia (e numa onda), com base em resultado conseguido no último ano. Os que não caíssem nessa situação, informariam marcas alcançadas em provas oficiais recentes.

Além dessa iniciativa, haveria no dia caminhos e entradas específicos para as baias, com grades altas, e fiscais orientando e efetivamente restringido esse acesso. Tudo acontecendo de forma civilizada.

Em Chicago, por exemplo, as baias beneficiam 30% dos inscritos. Quem não tem tempo comprovado, quer correr com um amigo/parente, fazer a festa ou está estreando na distância, vai para o último curral. Dessa forma, não há uma elitização da prova. O que ocorre é uma organização e todos podem tirar proveito. Quem quer fazer a festa, pode festejar. Quer correr fantasiado ou carregar faixas? Sem problemas. Mas os amadores competitivos, quem gosta de correr de verdade e até buscar seu recorde pessoal na São Silvestre terão esse direito e, principalmente, essa possibilidade. Hoje, esse grupo está excluído da corrida.

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