POR FERNANDA PARADIZO
Kleidiane Barbosa Jardim, 36 anos, uma das principais atletas do Brasil na atualidade, está prestes a encarar sua terceira Corrida Internacional de São Silvestre. No ano passado, a corredora mineira conquistou a 7ª colocação geral e foi a segunda melhor brasileira na prova, atrás apenas da atleta naturalizada brasileira, a angolana Felismina Cavela, que chegou em 6º. Repetindo este ano uma temporada sólida e com grandes resultados, ela mira o pódio na mais tradicional corrida do país, para fechar 2024 com chave de ouro.
A trajetória de Kleidiane no atletismo é marcada por versatilidade. Natural de Caraí, Minas Gerais, sua história começou na corrida de rua antes de ter destaque nas pistas e depois retornar para as ruas. Ela jogava futebol de salão quando, incentivada por um amigo de Belo Horizonte, Lucas Lima, descobriu a corrida. Sua primeira experiência foi em uma competição local, a Corrida da Lua, onde, com apenas três semanas de treino, mostrou todo seu potencial ao completar os 10 km num ritmo impressionante para uma iniciante, perto de 4 minutos por km.
“Quando o Lucas me levou para treinar numa assessoria e já vi que levava jeito para a corrida. O próprio treinador, Roberto Marques, falou que eu iria correr bem devido ao meu perfil. E minha primeira corrida já foi uma ‘corridaça’. De lá pra cá não parei mais”, relembra.
“Resolvi sair do trabalho na loja do meu tio para poder me dedicar mais. Comecei a entender como funcionava o atletismo profissional. Tinha que treinar de manhã e à tarde. Comecei então a ganhar algumas corridinhas regionais, depois a correr um pouco mais longe, em outras cidades, e cada vez mais fui expandindo para outros lugares.”
Os resultados vieram rápido e começou então a se aventurar nas pistas de atletismo, onde passou a colecionar títulos importantes. Foi campeã brasileira nos 800 e 1500 metros rasos por vários anos, além de vice-campeã nos 5000 metros, com marcas expressivas como 2:03 nos 800 metros e 16:12 nos 5000 metros.
“A pista exige muito do psicológico e isso me ajudou bastante. É onde você tem que se dedicar um pouco mais, fazer um planejamento que vai além. Na pista, você precisa se deslocar para fazer o treinamento. Requer um pouco mais financeiramente. A corrida de rua é mais simples. Você pode treinar no local onde mora.”
Com a perda de patrocínio pós-pandemia, Kleidiane optou por migrar novamente para as corridas de rua para sobreviver. Isso trouxe novos desafios e vitórias. A atleta viveu um ano de 2023 muito bom, com vários resultados importantes, sendo coroada ao final da temporada com a 7ª colocação na São Silvestre.
No início de 2024, já venceu a Corrida de Reis, em Cuiabá, quebrando um jejum de 17 anos de vitória estrangeira. “Meu ano de 2024 foi um ano muito bom também. Eu praticamente dei sequência aos resultados de 2023. Além da Corrida de Reis, fiz meu melhor tempo de meia (1:15:19) e nos 10 km (34:16), minha melhor marca pessoal na rua. Fui 3º na Meia Internacional do Rio, 2ª na volta da Pampulha, campeã da Corrida de Reis em Brasília, 3ª e melhor brasileira nas 10 Milhas Garoto. Venho numa fase muito boa”, comemora a atleta, que espera fechar 2024 também com chave de ouro no último dia do ano.
Sobre a São Silvestre, ela conta que correu sua primeira em 2018, como curiosidade e sem pressão. “Queria muito conhecer o percurso, fiz os 6 km muito fortes para sentir a prova e ver como era. E terminei trotando.”
Já em 2023, na sua segunda participação, a estratégia já foi outra. “No ano passado fui paciente, segurei o ritmo no início e consegui um final forte. A paciência faz diferença nessa prova. Espero que este ano tudo transcorra bem de novo. Sei que cada corrida é uma história. Depende do clima, de como o corpo vai estar. E tudo tem que dar certo. Tem que ser o dia perfeito para um bom resultado e quem sabe estar no pódio”, explica a atleta, que planeja seus próprios treinamentos.
“Fiz um treinamento de base no começo do ano, que foi muito bom. Foram uns 3 meses de preparação – fevereiro, março e abril – bem intensos. Cheguei a uma média de 220 km semanais e praticamente de lá para cá fiz uma complementação, com uma micro base no mês de novembro e depois os ajustes. Tudo isso sempre respeitando o corpo, fazendo breves descansos e avaliando o que precisava ser monitorado. É o que chamo de treinamento de observação.”
Para o dia da prova, Kleidiane acredita que o segredo está na paciência. Sua estratégia de controlar nos quilômetros iniciais, mesmo com a prova começando em um ritmo muito forte, foi decisiva no ano passado: “Tive um pouco mais de paciência no começo da prova. Estava num ritmo muito forte e segurei um pouco entre os km 3 e 4. Com isso, consegui ganhar tempo no final”.
Kleidiane participa nesta segunda (31/12) da coletiva de imprensa da elite brasileira feminina, a partir das 9h30, junto com Núbia de Oliveira e Mirela Saturnino.