Maria das Graças Bittencourt Bernardino, 60 anos, vem subindo ao pódio em praticamente todas as corridas que participa. Mas não apenas de sua faixa etária; ela também fica entre as primeiras quando a última categoria é 50 ou mesmo 40 anos ou mais, e chega mesmo a participar do pódio principal, como recentemente, na ultramaratona Teresópolis – Nova Friburgo, de 50 km, quando foi 3ª colocada geral.
Graça igualmente tem assumido, há vários anos, o primeiro posto do Ranking Brasileiro de Maratonista, elaborado pela Contra-Relógio com base em resultados de provas oficiais no Brasil e publicado na edição de janeiro, sendo que na última listagem ela aparece no topo da faixa 55/59, pelo seu tempo de 3:34:29 obtido em Porto Alegre.
Com essa apresentação bem resumida dos inúmeros feitos dessa nossa assinante de Serra, na Grande Vitória, ES, pode-se imaginar que se trata de uma ex-atleta de ponta, que o passar dos anos não chegou a afetar muito sua performance, como acontece com vários profissionais, dos mais diversos esportes. Ledo engano!
Graça começou a correr aos 53 anos, estimulada pelos filhos (cinco), preocupados com seu desânimo com a vida, após a morte do marido. Ela, que fazia apenas ginástica aeróbica em uma academia próxima de sua casa, acabou tomando coragem e se inscreveu, em julho de 2000, numa prova de 10 km. Voltou para casa com o troféu de 1º lugar na faixa e ainda R$ 50 de prêmio!
Ficou extasiada com seu resultado ou, como diz, "fiquei apaixonada pelas corridas". Era a primeira de suas 218 provas, todas devidamente catalogadas, conforme ela nos informou na segunda semana de novembro, depois de voltar de mais uma maratona (de Florianópolis), onde … não é preciso completar.
Ela começou a correr maratonas em 2003 e em 4 anos já completou 33, fazendo algumas loucuras (para corredores "normais"), mas sem qualquer reflexo para ela, como lesões ou um cansaço excessivo. Ela foi visitar uma filha na França e para não perder a viagem, correu a Maratona de Bruxelas (14/10) e a de Amsterdã na semana seguinte.
Voltando ao Brasil, foi dar uma corridinha na Praias e Trilhas, de Florianópolis, em que se faz (correndo, caminhando, escalando) uma maratona no sábado e outra no domingo. E para terminar, a de Floripa. Ou seja, 5 maratonas em 22 dias! Ah sim, todas entre 3h40 e 3h50.
Graça comenta que já encontrou um ritmo ideal (5:15 a 5:30/km) e que não consegue fugir muito dele, sendo as variações de resultados apenas reflexo do clima e percurso de cada prova.
Para participar de tanta corrida, Graça tem contado com o apoio do clube de corredores da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), onde seu marido trabalhava. Mas não só! Bordadeira, ela faz artesanato para vender e ainda recebe eventual ajuda dos vizinhos, que se cotizam para suas viagens, a maior parte feitas de ônibus mesmo. Por sua vida exemplar (ela cuida da casa sozinha, borda e costura e tem a guarda de uma criança abandonada pelos pais), Graça é um exemplo no bairro, sendo comum receber visitas de escolares, para quem conta sua história de corredora e mostra seus inúmeros troféus e medalhas.
Treinos? Que treinos? Em função de seus resultados impressionantes, pode-se imaginar que Graça leva uma vida de atleta, treinando duas vezes por dia ou coisa parecida. Que nada! A única coisa que ela faz diariamente é hidroginástica, perto de sua casa, por 1 hora, além de também dar umas nadadinhas. Ela lembra que há alguns anos tinha o sonho de aprender a nadar e procurou essa escola próxima; não foi fácil (como a corrida…), mas ela conseguiu e hoje nada razoavelmente bem, mas apenas para o gasto.
Com o advento das corridas, ela passou a priorizar o esporte, e na academia decidiu só fazer hidroginástica e um pouquinho de natação. Talvez esteja aí uma das razões de ela estar sempre em forma e sem lesões.
Mas e os treinos de corrida? Pois é, ela até treina e quase todo dia, mas nada de muito especial, do tipo tiros, intervalados etc. Acorda muito cedo, e sai às 5 para correr, variando os trajetos, mas nem tanto o ritmo. Às 7 já está na academia. E para se preparar para maratona o máximo que chega a fazer são "longos" de 20 km; ela acha desgastante correr por muito tempo, dizendo que a freqüente participação em provas (praticamente todo fim de semana) já lhe dá um ótimo condicionamento. E parece que ela está com a razão.
A única exceção foi seu treinamento para os 89 km da Comrades este ano, na viagem promovida pela revista. Como nunca tinha feito uma distância tão extensa, achou melhor encarar alguns treinos longos de verdade, chegando a fazer um de 6 horas, que foi seu máximo. Também neste caso a preparação funcionou e muito bem, já que ela completou a Comrades em 9h36, conseguindo o 3º lugar na categoria, com o detalhe que lá na África do Sul a última faixa etária feminina é 50 anos ou mais! E ela gostou tanto do desafio que garante estar de volta em 2008 para fazer o percurso em subida e, dessa forma, se tornar uma "conradeira de verdade".
Graça faz questão de destacar o papel da Contra-Relógio em sua vida de corredora. Comenta que nunca teve treinador e que logo que começou a participar de provas assinou a revista, que tem sido para ela uma espécie de técnico à distância, além de um ótimo estímulo, pois fica sabendo de corridas no Brasil e exterior, e se anima a participar, como aconteceu com a Comrades.