Especial admin 4 de outubro de 2010 (0) (126)

Exames do coração e de consciência

O primeiro teste ergométrico detectou uma alteração que não permitia afastar a hipótese de isquemia do miocárdio. Isto quer dizer que a resposta do coração ao esforço mostrou que pode ter havido uma insuficiência de irrigação de sangue no músculo cardíaco. Fiz então um primeiro exame investigativo, na Seção de Medicina Nuclear: Cintilografia do Miocárdio, que afastou a suspeita. No ano seguinte o teste detectou a mesma alteração. Mas, considerando-se que os demais exames estavam dentro do esperado, que meu tipo de vida – no meio das montanhas, em uma cidadezinha do interior – não era estressante e que, sobretudo, a cintilografia não indicara problemas, fui classificado como um caso de "falso positivo".

Estatisticamente, o teste ergométrico dá resultados bastante confiáveis. Apenas uma parcela muito pequena figura como falso positivo e uma outra, menor ainda, como falso negativo, com alterações não detectadas no teste. Os resultados de falso positivo são mais comuns entre as mulheres. Quanto a mim, pelo terceiro e quarto anos consecutivos meu coração manteve o mesmo comportamento, o que foi tido como um bom sinal. E uma recente tomografia computadorizada desfez quaisquer eventuais dúvidas. Agora é manter o ritmo e seguir adiante.

Deste último exame guardo um CD, verde, em que está escrito meu nome, data e "Coração". Da mesma cor é o cartão que me permite este atendimento e verde também é o Parque do Ibirapuera. Ali, mais um sinal verde poderia indicar a passarela que leva ao Dante Pazzanese, mas a distância que separa corredores em geral dos exames de saúde parece ser mais longa e tortuosa que atravessar a Avenida 23 de Maio em meio ao furor do trânsito. Mas a quem está aberto, consciência e cordialidade conduzem ao bom caminho mesmo um coração descuidado.

Exames e seus resultados não doem se há equilíbrio na alimentação, na agitação e na contemplação. Testes ergométricos são simulações de tiros, com segurança. Não deixar que um sinal verde se transforme – por negligência ou medo – em cartão vermelho é responsabilidade individual, se não por si próprio ao menos em respeito aos familiares, amigos e até desconhecidos. Como em provas de longa distância, zelar pela saúde requer determinação e paciência: podemos começar – e não terminar! – em um posto do SUS. Em Joanópolis, Carlão largou como coelho e foi seguido por Gorette e por todo o grupo de corredores. Depois alguns vieram e outros se foram, mas nós continuamos. E não desistiremos.

Nossa peregrinação por salas e corredores do Dante Pazzanese lembra um outro Dante – o Alighieri de "A Divina Comédia" – sendo guiado, através do Inferno e do Purgatório, rumo ao Paraíso. Mas assim como o poeta Virgílio deve retornar da entrada, a equipe do Dr. Nabil Ghorayeb também nos pode levar apenas até ali. Alcançar e merecer os cuidados de nossa Beatriz é dever pessoal, inalienável, que só cumpriremos através do discernimento espiritual e por nossos próprios esforços. De coração e alma.

Susumu Yamaguchi é assinante de Joanópolis, SP

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